Líderes do PCC que deram início a rebelião no Rio Grande do Norte (Josemar Goncalves/Reuters)
EFE
Publicado em 25 de março de 2017 às 16h29.
Última atualização em 25 de março de 2017 às 16h34.
Assunção, 25 mar (EFE).- Uma guerra entre o Primeiro Comando Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) está espalhando a violência na cidade de Pedro Juan Caballero, no norte do Paraguai, perto da fronteira do Brasil, onde nos últimos dias foi registrado um aumento no número de assassinatos em uma disputa territorial.
Nesta semana, duas pessoas foram assinadas a tiros nas ruas da cidade e com apenas um dia de diferença entre os dois crimes, que indicam um acerto de contas, segundo as investigações.
A violência está presente no cotidiano de Pedro Juan Caballero, de 120 mil habitantes, há mais de 20 anos, mas, nos últimos dias, a cidade registrou uma morte violenta diária, com o tráfico de drogas como plano de fundo, disse à Agência Efe o governador do departamento de Amambay, Pedro González.
Segundo ele, estão envolvidas no confronto grupos dedicados ao tráfico de cocaína e maconha, entre eles o PCC e o CV, duas das maiores organizações criminosas do Brasil.
"Pedro Juan é um apêndice da violência desses grupos, como também em outras cidades da região. O narcotráfico está em todas as partes", disse González.
Apesar do aumento do número de mortes, o governador afirmou que não se pode falar em "descontrole" na segurança da cidade, já que há colaboração com a Polícia Federal do Brasil, e as apreensões de droga são realizadas de forma constante.
No entanto, González reconheceu que é complicado deter a movimentação desses criminosos quando há 120 quilômetros de fronteira seca entre Pedro Juan Caballer e Brasil, com pontos onde não há barreiras para controlar a circulação de pessoas.
O ex-ministro do Interior do Paraguai Rafael Filizzola disse à Efe que Pedro Juan Caballero está entre as cidades mais violentas da região e do mundo, com uma taxa de homicídio de 80 casos para cada 100 mil habitantes por ano.
Nesse sentido, Rafael Filizzola com o governador de Amambay na existência de uma luta de poder entre PCC e CV.
"Grande parte da violência que temos do lado paraguaio se deve a essa guerra de poder no Brasil", disse.
Filizzola relacionou a disputa com o papel do Paraguai como maior produtor de maconha da região, com 6 mil hectares dedicados ao cultivo e colheita da droga, um ciclo que pode se repetir até cinco vezes em um ano.
Segundo o ex-ministro, a produção e o tráfico de drogas movimentam US$ 1 bilhão no Paraguai. No entanto, ele destaca que a comercialização rende ainda mais dinheiro às organizações criminosas fora dos limites do país.
Sobre a parceria com o Brasil para erradicar o tráfico e expulsar os traficantes de cidades como Pedro Juan Caballero, Filizzola admitiu que grandes quantidades de droga são destruídas, mas não há uma estratégia de combate para solucionar o problema.
"Aqui há uma inércia, confiscam cargas, destroem plantações, mas qual é a política do país em matéria de narcotráfico?", questionou.
Filizzola afirmou o debate em nível internacional para solucionar a questão passa nas diferentes formas de legalização da maconha.
"O Uruguai aprovou o consumo, o Chile aprovou o uso medicinal. Nos Estados Unidos, há estados onde se admite o consumo. O Paraguai não está nesse nível de debate e é quem abastece de droga a maneira ilícita a toda região", afirmou.
As cidades na fronteira entre Paraguai e Brasil, como Ciudad del Este e Pedro Juan Caballero, são as principais rotas regionais do tráfico de cocaína e maconha, de acordo com a Secretária Nacional Antidrogas do Paraguai. EFE