Governo acelera pagamento de emendas às vésperas de votação sobre Zanin e regra fiscal no Senado
Foram, ao todo, R$2,4 bilhões pagos no mês de junho de verbas destinadas pelos parlamentares, em sua maior parte, para saúde
Agência de notícias
Publicado em 19 de junho de 2023 às 11h40.
Após amargar derrotas na Câmara e sob uma série de reclamações de parlamentares, o governo abriu os cofres e acelerou a liberação de recursos nas últimas duas semanas. Foram, ao todo,R$2,4 bilhões pagos no mês de junho. A liberação do dinheiro público para atender redutos eleitorais de deputados e senadores acontece às vésperas de votações importantes para o Executivo, agendadas para essa semana, como a análise do projeto do novo arcabouço fiscal, que deve ser votada no Senado, mas passar por nova votação na Câmara, e a indicação do advogado Cristiano Zanin para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O governo já tinha empenhado — a primeira etapa da liberação, quando o dinheiro é reservado no Orçamento — valores expressivos desde que passou a enfrentar dificuldades em votações no Congresso, mas ainda não havia feito pagamentos neste volume. Até o mês passado, o total efetivamente desembolsado pelo governo não passava de R$ 27 milhões.
- Marina Silva recebe alta hospitalar após internação por dores na coluna
- Haddad admite possibilidade de o arcabouço fiscal passar por nova votação na Câmara
- Relator do arcabouço no Senado diz que vai deixar Fundeb e fundo do DF fora do limite de gastos
- Senado fará audiência pública do arcabouço fiscal e pode atrasar votação
- Lula realiza live sobre os primeiros meses de governo nesta terça-feira
- Moraes determina depoimento de Bolsonaro à Polícia Federal
No fim de março, em meio a uma semana conturbada nas relações com o Congresso, o governo Lula empenhou cerca de R$ 1,7 bilhão em emendas para os parlamentares em um único dia. Na ocasião, a Câmara havia imposto derrotas ao Palácio do Planalto ao aprovar o projeto do chamado marco temporal das terras indígenas e ameaçava não votar a MP dos Ministérios, que organizou as 37 pastas no atual desenho da Esplanada.
Desta vez, o governo está cumprindo a promessa ao depositar o dinheiro nas contas de prefeituras e de projetos indicados pelos parlamentares. O valor é referente às emendas individuais. Nessa categoria, pelo menos 50% dos recursos devem ser destinados para ações e serviços públicos de saúde. O nome do autor da emenda fica registrado e o dinheiro é distribuído igualmente entre todos os parlamentares, mas quem dita o ritmo desses pagamentos é o Palácio do Planalto.
"O governo vem pagando e se organizando melhor nas últimas semanas. São gestos que vão concretizando a consolidação de uma base. O clima voltou a ser de construção", afirmou o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL).
O PSD, com três ministros na Esplanada de Lula (Agricultura, Pesca e Minas e Energia), foi a legenda mais contemplada, com R$ 431 milhões. A senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) aparece no topo da lista de parlamentares com o maior montante já pago, R$ 35 milhões.
Procurada, Mara disse que destinou os recursos às áreas de saúde e assistência social de 163 municípios, além de 50 santas casas. "Não se trata de receber mais ou menos valores, mas sim de competência e parcimônia com o dinheiro empenhado", afirmou, em nota.
Também da base do governo, o MDB aparece em terceiro lugar com R$ 311 milhões de emendas pagas. O senador Confúcio Moura (MDB-RO) foi um dos contemplados, com R$ 9,1 milhões pagos. Parte do valor, segundo a equipe do parlamentar, foi para o custeio do serviço do Samu na cidade de Ariquemes (RO).
"O papel das emendas parlamentares é superar os gargalos, aqueles problemas que o orçamento municipal não alcança e que passam anos penalizando as pessoas”, diz, em nota, publicação no site do parlamentar.
Desde o início do ano, o governo vem acumulando reclamações de parlamentares sobre falta de articulação que levaram o Executivo a rever sua atuação para manter a governabilidade no restante do mandato. No receituário traçado por líderes partidários, a solução para o Palácio do Planalto não ampliar a lista de derrotas em votações importantes inclui desde mudanças na composição dos ministérios até a definição de novos interlocutores com os parlamentares e na celeridade no pagamento de emendas.
"É uma obrigação a emenda impositiva. Não é favor nenhum e está atrasado o pagamento. Essa questão diz diretamente sobre a necessidade do que a população está precisando, seja saúde, a pavimentação de uma rua ou um recurso de um posto de saúde. Quem perde na ponta com o atraso é a população sobretudo", afirmou o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), líder do maior bloco da Câmara.
No começo do mês, até mesmo o líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR) chegou a reclamar sobre a morosidade do governo em efetuar esses pagamentos.
Agenda agitada para o governo
Ao longo dessa semana, o governo tem votações decisivas em seu calendário. Os senadores votam na quarta-feira, 21, a indicação do presidente Lula para o STF do advogado Cristiano Zanin. Ele será sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e precisa ser aprovado por pelo menos 41 senadores para concretizar sua indicação.
Além disso, a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) vota na terça-feira (20) o arcabouço fiscal, principal projeto econômico do atual governo. A intenção é que o texto vá ao plenário da Casa no mesmo dia. O projeto ainda terá de voltar à Câmara dos Deputados já que o relator, senador Omar Aziz (PSD-AM), pretende excluir do teto orçamentário o Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) e o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Ainda na lista de projetos importantes para o governo a serem votados pelo governo está a medida provisória do programa Mais Médicos. A expectativa é a de que o texto seja votado pelos senadores na terça-feira (20).