Mec: pasta passa por problemas e é alvo recorrente de polêmicas (Elza Fiúza / Agência Brasil/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de abril de 2019 às 20h37.
Última atualização em 2 de abril de 2019 às 00h37.
A falência da gráfica contratada para imprimir as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2019, somada à série de demissões no Ministério da Educação (MEC) nos últimos meses, trouxe preocupações aos estudantes que pretendem realizar o exame. Em colégios e cursos pré-vestibular, o maior receio é o de mudanças no calendário e no conteúdo. Coordenadores de curso têm se esforçado para tranquilizar os alunos.
Para Lucas Miranda, de 19 anos, que pretende cursar Direito, as sucessivas notícias de mudanças no MEC trazem insegurança para os jovens que pretendem fazer o Enem este ano. "A qualquer momento pode acontecer alguma coisa. Eu tenho medo, por exemplo, que o governo baixe um decreto tirando a efetividade do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Isso me preocupa", conta Miranda.
A estudante Crislânia Silva de Lima, de 18 anos, aluna de um curso pré-vestibular para Fisioterapia, disse que acompanha as mudanças no MEC. Sua maior preocupação é em relação aos impactos no calendário do Enem 2019.
"Ficamos de olho nas informações. Pode ser que tenham que diminuir gastos com provas e isso pode resultar em diminuir um dia de exame, por exemplo, o que prejudicaria o estudante já que temos dois domingos de prova", disse Crislânia.
Em 2017, o exame foi realizado em dois domingos consecutivos pela primeira vez. A mudança foi avaliada positivamente pelos alunos. O calendário divulgado pela pasta para 2019, até o momento, mantém o formato: as provas devem ocorrer nos dias 3 e 10 de novembro.
A estudante Luiza Buscatti, de 18 anos, aluna de um curso pré-vestibular para Economia, se preocupa mais com a possibilidade de interferência no conteúdo da prova, após o MEC criar uma comissão para verificar a "pertinência" de questões do exame. "Acredito que por esse viés mais conservador do governo, a prova vai ser totalmente diferente e não vai seguir uma linha como nos outros anos. O MEC está muito inconstante e eu me sinto insegura", diz Luiza.
A gráfica responsável pela impressão do Enem desde 2009, RR Donnelley Editora e Gráfica Ltda, informou nesta segunda (1) que decidiu encerrar as operações no Brasil.
Em nota, o grupo diz que o entre os fatores que levaram a essa medida "estão as atuais condições de mercado na indústria gráfica e editorial tradicional, que estão difíceis em toda parte, mas especialmente no Brasil". "Recentemente, a RR Donnelley perdeu um de seus principais clientes e registrou uma drástica redução no volume de trabalho contratado", continua o comunicado.
A gráfica informa que operou no Brasil por mais de 25 anos. "Mas, uma análise meticulosa das finanças da empresa motivou nossa decisão. O requerimento de autofalência da RRD será processado e decidido pelo foro da comarca de Osasco (SP)".
A empresa afirma que avaliará a possibilidade de rescindir todos os contratos de trabalho já nos próximos dias, o que permitirá o rápido levantamento dos valores depositados nas contas vinculadas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e habilitará os funcionários a pedir o seguro-desemprego, na forma da lei.
O diretor do Cursinho da Poli, Gilberto Alvarez, lembra que o edital e a relação de conteúdos de referência do Enem já foram publicados, e que nenhuma mudança drástica na orientação para o conteúdo da prova ocorreu até o momento. Ele conta que nenhuma alteração de currículo ou material didático foi feita nos cursos preparatórios.
"Nós temos de tranquilizar os alunos", diz Alvarez. Sobre o conteúdo das provas, ele diz que não há motivo para mudanças drásticas. "O Enem não é uma política de governo, é uma política de Estado. Ele tem 30 anos, não mudou".
Para ele, a aplicação do Enem exige cumprimento "absolutamente rigoroso" do calendário e, na sua opinião, a falência da empresa responsável pelas provas pode acarretar em atrasos. "Isso me preocupa enormemente porque, por mais que o governo faça um edital emergencial para trocar a gráfica, o risco de o calendário não ser cumprido é muito grande."
Já o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca, diz que a falência da gráfica seria um problema menor se o MEC não tivesse passado por um período de demissões e disputas internas. Ele classifica como "desastre" qualquer atraso no calendário, mas não descarta essa hipótese. "O problema não é exclusivamente a falência (da gráfica), e sim a falência no momento em que há um problema sério de organização no MEC", ele diz.
O coordenador do Anglo Vestibulares, Daniel Perry, disse que os alunos da instituição estão sendo bem informados sobre toda a crise que envolve o MEC e que por enquanto não há mudanças significativas para o Enem 2019.
"A nossa preocupação principal é em relação a parte pedagógica e nesse sentido não houve nenhuma sinalização de mudanças significativas", explicou Perry.
Para Perry, o grande medo do estudante é que chegue alguma notícia de mudança radical, como por exemplo a mudança nos dias de prova. "Mudanças como passar para um dia de exame e número de questões poderiam deixar