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Ex-ministro enxerga fim do ciclo do PT no poder

O ex-ministro da Fazenda argumentou que, na democracia, dificilmente um grupo fica no poder por um longo período


	Mailson da Nóbrega: Marina levaria ao "retorno da gestão macroeconômica responsável", diz
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Mailson da Nóbrega: Marina levaria ao "retorno da gestão macroeconômica responsável", diz (VEJA)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2014 às 16h54.

Mata de São João, BA - O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega considerou nesta quinta-feira, 18, que a vitória de Marina Silva nas eleições de outubro seria "o cenário mais favorável para o país".

Ele chegou a sugerir o nome de Armínio Fraga, que hoje participa da campanha do PSDB, para o Ministério da Fazenda da candidata.

Maílson defendeu que a eleição de Marina levaria ao "retorno da gestão macroeconômica responsável".

Ao afirmar que "tudo indica que o ciclo do PT no poder está chegando ao fim", Mailson foi aplaudido por uma plateia de cerca de 4 mil comerciantes, na 54ª Convenção Nacional do Comércio Lojista, que está sendo realizado na Costa do Sauípe, no município de Mata de São João (BA).

Ele argumentou que, na democracia, dificilmente um grupo fica no poder por um longo período.

"O PT sairá do poder por processo natural de desgastes. Se não sair agora, sairá em 2018", disse, acrescentando que o eleitor do tucano Aécio Neves tende a apoiar Marina Silva no segundo turno.

Questionado por que foi aplaudido por um público que atua no varejo - setor que está melhor que a indústria, por exemplo -, o ex-ministro argumentou que existe uma percepção generalizada de que a continuidade do atual governo significará a preservação de um clima de estagnação e intervenção excessiva.

"Eu diria que a demanda por alternância de poder é muito forte no empresariado, como eu nunca vi.", disse.

Maílson fez duras críticas à política econômica da presidente Dilma Rousseff, depois de dizer que este "é um ano perdido para o Brasil".

Ele negou a versão do governo federal de que a crise internacional é a principal causa para o baixo crescimento da economia brasileira.

"Basta olhar para os vizinhos. São países que tem características parecidas com nossas (exportadores de commodities) e eles estão crescendo", disse. "O Brasil é o patinho feio da América Latina."

Para ele, um dos principais erros de política econômica do atual governo é a ideia equivocada de que basta estimular o consumo para o país crescer. "Tem até sentido, mas desde que a ação seja conjugada com estímulo para o empresário investir e aumentar oferta."

O economista citou que o crédito vinha crescendo a dois dígitos e este ano subirá apenas 3% ou 4%.

Ele acrescentou que consumidores e empresários estão perdendo a confiança na economia, devido à corrosão da renda e alto endividamento das famílias.

Maílson também criticou o déficit em conta corrente e disse que o Brasil hoje depende de capital especulativo, que pode "fugir" a qualquer momento, diante do agravamento de incertezas.

Inflação

O ex-ministro defendeu, ainda, que a inflação está "teimosamente acima da meta" e disse que o governo dá sinais de que a meta real é de 6,5% ao ano (o teto da meta), e não de 4,5% ao ano (centro da meta). "6,5% não é cumprir meta", disse.

"Uma das más heranças do governo Dilma é uma certa tolerância a um nível mais alto de inflação. Isso criou persistência inflacionária que não se via desde a hiperinflação", disse.

Maílson acredita que, se reeleita, Dilma terá dificuldade de recrutar um nome de respeito para o Banco Central, que precisa de credibilidade para coordenar as expectativas inflacionárias.

"Essa declaração dela, de que independência faz com que banqueiro mande no Banco Central, indica que ela vai mandar no Banco Central, se reeleita", apontou.

"A percepção geral é que o BC da Dilma perdeu muito da autonomia que gozou no período FHC e Lula".

O economista não deixou de fora das críticas o Ministério da Fazenda e o Tesouro Nacional, que, segundo ele, dão sinal de que "não acreditam muito nas questões fiscais" e, por isso, usam da chamada contabilidade criativa.

"Quando pensa que acabou eles inventam mais uma, como é o o caso da pedalada", disse.

Mailson afirmou que a taxa de câmbio tende a mudar no próximo governo. Se a oposição ganhar, segundo ele, deve ficar em R$ 2,10 e R$ 2,15. Se a situação ganhar, provavelmente ficara entre R$ 2,40 e R$ 2,45, de acordo com o especialista.

Eleição

Marina surfa três ondas, segundo Mailson: a rejeição à classe política, o sentimento contra o PT no País e a emoção ligada à tragédia que levou à morte de Eduardo Campos.

Num cenário de vitória dela, segundo ele, haverá retorno à gestão macroeconômica responsável e o Banco Central "volta a ter autonomia".

Ele ponderou que existem dois cenários com Marina: um que envolve governo minoritário e outro, majoritário. Maílson aposta em uma coalizão.

"Não é difícil fazer coalizão. Ficar fora do governo pode ser a morte e a insignificância para alguns partidos. O PMDB já está na fila.", disse, arrancando risadas da plateia.

Maílson afirmou que o PSDB não poderia ficar fora do governo por mais quatro anos. "Um partido sem expectativa de poder é abandonado, o que aconteceu com PFL e DEM", disse, sugerindo uma aliança do PSDB com Marina.

"Para o país, seria interessante essa aliança. O PSDB poderia fornecer alguns de seus melhores quadros", disse. "Nesse caso, o ministro da Fazenda poderia ser Armínio Fraga".

Questionado, após o discurso, se já ouvira falar de Fraga para o cargo ou se era uma sugestão, Mailson afirmou ter conversado com Armínio e que ele "nega de pé junto" a possibilidade.

O economista Eduardo Gianetti, que é ligado à campanha de Marina, não tem perfil para o cargo, na avaliação de Maílson.

"Ele é mais um estrategista, um formulador. Um homem muito capaz fazer diagnósticos e apontar rumos, mas não faz o perfil do Eduardo a função executiva de liderar, por exemplo, o Ministério da Fazenda. Talvez um assessor especial da presidência", apontou.

Se Dilma for reeleita, segundo Maílson, ela repetirá o primeiro governo. "O impacto negativo é que o Brasil pode perder grau de investimento", disse, acrescentando que um ponto positivo seria a continuidade das concessões de infraestrutura.

Outro lado

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que esteve presente no evento, afirmou respeitar a opinião do economista, mas disse que discorda da avaliação de que o período do PT no governo acabou.

"Eu creio que ainda temos muito espaço para andar. O PT, nesses 12 anos, deu uma contribuição substantiva à democracia e à economia brasileira, como o PSDB também deu", disse.

"Para nós do Nordeste, o processo de transferência de renda e o social potencializaram nossa economia", afirmou o governador, acrescentando que é necessário medir resultados.

"E isso está sendo feito pela equipe econômica. A presidenta Dilma tem essa capacidade de reorganizar eventualmente sua equipe. E ainda tem muito a fazer. O foco do PT é do social, sem desprezar a macroeconomia", disse.

Ele reconheceu que o PIB está patinando, mas argumentou que a conjuntura internacional não é muito favorável.

(A repórter viajou a convite da CNDL.)

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