Enem: prova se tornou uma das principais formas de ingresso no ensino superior (Odilon Dimier/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 16 de outubro de 2023 às 14h01.
Última atualização em 16 de outubro de 2023 às 14h09.
Dados do Inep, que não são revelados há três anos, mostram dez escolas com maiores notas do Enem são da rede privada. Aqui, você pode conhecer a lista completa e ainda as dez instituições de ensino que tiveram os melhores desempenhos em cada estado. Neste ano, a prova será realizada nos próximos dias 5 e 12 de novembro.
Esses dados, obtidos com exclusividade pelo "O Globo", foram retirados em sala segura do Serviço de Acesso a Dados Protegidos (Sedap), do Inep, entre 31 de julho e 3 de agosto deste ano e fazem parte da pesquisa “Análise da evolução e disparidades nas notas do Enem”, promovida pela edtech AIO Educação, de autoria dos pesquisadores Paulo Vivas, Murilo Vasconcelos e Mateus Prado.
"A AIO se orgulha em trazer à tona estes dados. Sem a informação necessária, escolas públicas e privadas, governo e sociedade permanecem no escuro sobre o progresso e as estratégias necessárias para aprimorar as políticas do ensino médio, que, atualmente, exibem resultados ainda muito insatisfatórios", afirmou Murilo Vasconcelos, CEO da AIO.
A primeira colocação geral ficou com o colégio Farias Brito, do Ceará. Essa é uma das cinco unidades da instituição em Fortaleza. Duas delas funcionam no mesmo endereço, o que indica que o colégio separa os melhores alunos para garantir um ranqueamento mais alto na lista do Inep.
Das quatro escolas públicas entre as 50 maiores notas, todas possuem algum tipo de mecanismo para selecionar os melhores estudantes interessados em uma vaga. Entre elas, estão uma unidade militar, duas são vinculadas a universidades federais e uma a universidade estadual.
O Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV) é a escola pública mais bem posicionada (20º lugar). Excluindo as escolas que escolhem seus estudantes, a pública com a melhor nota no Enem fica em Ipatinga, Minas Gerais, e está na posição 1.444 do ranking geral.
A diferença entre as escolas públicas e privadas na prova objetiva do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) chegou a 67 pontos em 2022, o menor patamar dos últimos oito anos. Na redação, porém, essa distância é quase o triplo, e 182 pontos separam os estudantes das duas redes. Só em 2019 esse abismo foi maior.
Diferente do esperado, o desempenho médio das escolas públicas cresceu, ainda que timidamente, durante a pandemia — na educação privada, por outro lado, ela caiu por conta da crise sanitária.
Em 2019, antes da covid-19, as escolas públicas registraram uma média de 493 pontos no Enem. No ano seguinte, o valor saltou para 499 e, em 2022, alcançou 506, melhor resultado desde 2015. Já as privadas passaram de 599 pontos na pré-pandemia para 586 em 2021, com recuperação parcial no ano passado. Esses valores consideram a média ponderada de todas as provas, incluindo a de redação.
"A pandemia fez a taxa de participação dos alunos no Enem cair muito na rede pública: de 50% para 30%. Muito provavelmente caiu a participação de alunos de nível socioeconômico mais baixo e que foram mais impactados pela pandemia. Esses alunos mais vulneráveis têm um desempenho menor e, se fizessem a prova, jogariam a média geral para baixo. Obviamente, a pandemia teve impacto importante, mas muitos alunos sequer fizeram o Enem", explica Ernesto Martins Faria, diretor-fundador do Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede).
Embora não haja informações sobre a renda dos alunos, os dados mostram uma relação entre as notas das escolas e a escolaridade das mães dos estudantes. Segundo o levantamento da empresa, colégios em que a maior parte das mães nunca estudou tiveram uma média de 426,15 pontos nas cinco provas do Enem no ano passado. O desempenho sobe para 476,11 nas instituições cuja maioria completou o primeiro ciclo do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). E alcança 590,45 nos casos em que há mais mães com ensino superior completo — que tendem a ter renda mais alta.