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É quase impossível repetir meu sucesso, diz Lula ao Guardian

Ex-presidente deu entrevista ao jornal inglês sobre o impeachment de Dilma, dizendo que não houve crime de responsabilidade e que acredita na justiça

Lula: ex-presidente discursa no sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Divulgação)

Lula: ex-presidente discursa no sindicato dos Metalúrgicos do ABC (Ricardo Stuckert/Instituto Lula/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 4 de julho de 2016 às 17h07.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 12h14.

São Paulo – O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista nesta segunda-feira (4) ao jornal inglês The Guardian. Na conversa, o petista enalteceu as conquistas de seu governo e de Dilma Rousseff, atribuiu à mídia brasileira e aos procuradores que o investigam uma tentativa de destruir sua imagem e diz acreditar que o PT e a justiça reverterão o processo de impeachment.

Questionado se pretende voltar ao poder, Lula diz que gostaria que outro candidato petista concorresse ao cargo. Ele deixará, porém, a decisão para o partido, considerando que ainda é um dos políticos com maior popularidade do país, segundo recentes pesquisas de opinião.

"Eu fui o melhor presidente da história do Brasil. É quase uma missão impossível tentar repetir esse desempenho. Eu teria que competir contra mim mesmo", afirmou.

O texto inicia descrevendo o choro de Lula ao assistir à votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. O ex-presidente justifica a emoção por ver "ruir" o projeto que o PT construiu nos 14 anos de governo.

O petista atribui a reação da classe política ao votar o impeachment como um demonstrativo de como as melhorias sociais desencadeadas em seus anos no Planalto incomodaram setores da população. Lula diz que a elite não quis compartilhar o acesso ampliado a teatros, aeroportos e nas ruas.

Em contraposição, diz Lula, houve um movimento da mídia contra seu possível retorno. "É tudo com um objetivo: condenar o Lula. 'Não podemos permitir que este homem concorra [à presidência] em 2018'", afirma ao jornal.

Diz o jornal que todo o processo de afastamento do PT do poder deixou o ex-presidente "frustrado", já que não perderam nenhuma eleição desde 1998. Disse Lula ao Guardian que a "direita não quer esperar", como ele fez ao perder três eleições no passado.

Para Lula, a forma de estabilizar a situação, trazer o equilíbrio de volta e pleitear a permanência, Dilma deve deixar claro o que fará no governo caso retorne ao Planalto.

Na entrevista, Lula aproveita para rechaçar o suposto arrependimento de ter indicado Dilma Rousseff para sua sucessão. Ao contrário do que indicaram os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, o petista se diz orgulhoso de ter indicado e eleito Dilma.

LAVA JATO

O jornal toca também nas acusações às quais Lula responde no âmbito da Operação Lava Jato, dizendo que uma eventual candidatura dele em 2018 dependerá também da decisão dos juízes.

Sobre as ilações de que teria se beneficiado da corrupção na Petrobras para financiar campanhas e comprar apoio no Congresso, Lula diz que as investigações são parciais e não apuram doações de campanha de outros partidos, gerando a impressão de que os únicos com contas suspeitas são os petistas.

Para Lula, todo o problema seria resolvido com reformas eleitorais e que as acusações contra si são baseadas em uma percepção errada dos fatos.

"Existe a teoria de que 'o chefe deve saber', ou que somos culpados de incompetência [por não saber]. Mas não há crime", afirma.

O jornal lembra ainda o caso de possível obstrução de justiça investigada pelos procuradores ao subornar  Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, a não fazer delação premiada, por meio de ação de Delcídio do Amaral.

"Não há ninguém no Brasil tão tranquilo quanto eu", rebate Lula. "Se eu enfrentar um julgamento, vamos saber se [as alegações] são verdadeiras ou não."

"As principais realizações dos últimos 13 anos não serão perdidas, haja julgamento ou não", diz. "Eu não pretendo mudar o que eu sou. Eu fui o melhor [presidente] que já houve".

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