Dilma mantém ida à China para assumir presidência do banco dos Brics
Dilma viaja para Xangai sem Lula, que teve de cancelar visita à China por conta de uma pneumonia
Redação Exame
Publicado em 26 de março de 2023 às 15h24.
Última atualização em 26 de março de 2023 às 15h25.
A ex-presidente Dilma Rousseff segue com viagem marcada a Xangai, na China, para assumir formalmente o cargo de presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o chamado "banco dos Brics". Dilma foi indicada pelo governo brasileiro, com aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e foi oficializada nesta semana como presidente da instituição.
Anteriormente, a posse de Dilma ocorreria paralelamente à ida da comitiva brasileira chefiada por Lula à China, para encontro com o presidente chinês, Xi Jinping. O governo brasileiro teve de cancelar a viagem por conta de um quadro de pneumonia em Lula, e uma nova data está sendo discutida. Na agenda anterior, estava prevista a ida de Lula a Xangai para visitar o NDB e comparecer à posse de Dilma.
- Putin diz que vai posicionar armas nucleares na Bielorrússia
- Guerra da Ucrânia: Rússia e China apoiam "retomada de negociações de paz"
- Reabertura do mercado chinês é passo para mais habilitações, diz Fávaro
- Exportações de enlatados da China batem recorde em 2022
- Empresa francesa Leroy Merlin cede controle de suas operações na Rússia
- EUA alertam China sobre uso de visita de presidente de Taiwan para elevar tensões
Obanco foi criado em 2014 como instituição financeira de fomento ao desenvolvimento, tendo liderança do bloco de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os " Brics ".
Dilma assume presidência, mas cerimônia será remarcada
Dilma começará a despachar da sede do banco e vai se mudar para Xangai, masa cerimônia de posse, antes prevista para o dia 30 de março, foi cancelada. A ideia é que solenidade seja organizada para coincidir com a visita de Estado de Lula ao presidente chinês, Xi Jinping. Os dois governos trabalham numa nova data. Uma proposta é maio.
Integrantes do governo e empresários do agronegócio brasileiro sugeriram que Lula viaje em maio, por volta do dia 18, para aproveitar uma feira de alimentação local, a SIAL, que costuma ter a presença de Xi Jinping.
Lula poderia emendar a visita de Estado à China com a ida à cúpula do G7, no Japão. Mas diplomatas avaliam potenciais sensibilidades chinesas e a disponibilidade na agenda do presidente do país.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, confirmou a proposta da viagem em maio, mas disse que agora a nova data depende de uma decisão da China.
A viagem de Dilma foi confirmada à reportagem por diplomatas, assessores da ex-presidente e integrantes do governo Lula.
O embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Galvão, viajará a Xangai para recepcionar Dilma e auxiliar nos trâmites iniciais. Ela começa a trabalhar imediatamente.
Troca no comando do banco
Conforme integrantes do governo, era possível que Dilma viajasse à China com a Força Aérea Brasileira (FAB), a bordo do maior avião da frota, um A330 que vai ser deslocado de Brasília para buscar servidores do Itamaraty e da Presidência da República. Eles haviam viajado antecipadamente para preparar a visita de Estado de Lula, cancelada de última hora.
O próprio NDB, porém, paga a seu quadro de funcionários viagens internacionais na contratação, além de um subsídio para instalação em Xangai. Como o Estadão mostrou, o banco acelerou os processos internos e elegeu por unanimidade, na última sexta-feira, dia 24, Dilma como nova presidente. A ideia era coincidir a posse com a passagem da delegação presidencial pela China.
Até então, o presidente do banco dos Brics era o diplomata e economista Marcos Troyjo, indicado pelo governo Jair Bolsonaro com aval do ex-ministro da Economia, Paulo Guedes. Troyjo deixou o cargo na semana passada para abrir caminho para a mudança, em comum acordo com o governo Lula, por divergências de posições.
Papel de Dilma nos Brics
Dilma passará a morar e a despachar no novo e moderno edifício construído para abrigar o NDB, inaugurado em 2021. A cidade é um centro financeiro global. Ela trabalhará num gabinete com vista para a metrópole, maior cidade chinesa, e receberá remuneração no mesmo patamar de outros bancos multilaterais, conforme executivos da instituição.
Este será o primeiro cargo público de Dilma desde o impeachment em seu segundo mandato como presidente, em 2016. Desde então, a ex-presidente tem atuado na vida partidária do PT e em palestras e organizações acadêmicas, além de ter se candidatado ao Senado nas eleições de 2018.
À frente do NDB, Dilma terá como missão mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos Brics e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento.No total, o Brasil já recebeu mais de US$ 5 bilhões do NBD desde sua fundação.
A China lidera esse ranking com mais de US$ 8 bilhões. Segundo um interlocutor da ex-presidente, a indicação de Dilma para presidir o banco seria também uma forma de reaproximar o Brasil da China, já queDilma mantém boas relações com o presidente chinês Xi Jinping, que já estava no poder durante seu mandato.
Dilma deve ganhar em torno de US$ 500 mil por ano. O valor exato não é divulgado pelo NDB, mas pessoas com passagem pela gestão do banco dizem que o parâmetro é o valor pago pelo Banco Mundial. Procurado, o NDB não se manifestou.
O que é o "banco dos Brics"
O NDB, o "banco dos Brics", foi criado durante o primeiro mandato de Dilma, entre 2011 e 2014. A decisão do grupo de países por criar a instituição ocorreu após reunião de cúpula em Fortaleza, em 2014.
Uma das intenções é ampliar fontes de empréstimos e fazer um contraponto ao sistema financeiro e instituições multilaterais como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Atualmente,a carteira de investimentos do banco dos Brics é da ordem de US$ 33 bilhõesem 96 projetos pelo mundo. A meta, segundo relatório divulgado banco, é investir mais cerca de US$ 30 bilhões até 2026.
O conceito dos Brics perdeu força nos últimos anos em meio às crises econômicas e políticas dos países envolvidos. Quando o grupo foi criado, a expectativa era que o Brasil seguisse a transição de país de renda média para país rico, o que não ocorreu.
Países como Rússia e Índia, dos presidentes Vladimir Putin e do premiê Narendra Modi, também viram deterioração em suas instituições democráticas desde então. A China é hoje a maior força entre os países originais do grupo.
O foco do banco é o financiamento de projetos de energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transportes, saneamento básico, proteção ambiental, infraestrutura social e digital. Tanto empresas privadas quanto órgãos públicos podem ter empréstimos aprovados pelo Banco dos Brics.
O NDB é um dos oito grandes bancos de desenvolvimento mundiais, ao lado de órgãos como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Europeu de Investimento, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento, Banco Mundial, entre outros.
(Com informações de Estadão Conteúdo e Agência O Globo)