Nas redes, deputados que participaram de ato atacaram Maia e governadores
Nenhum deles defendeu abertamente um golpe de Estado, apenas fizeram menção à data da manifestação: 19 de abril é o Dia do Exército
Clara Cerioni
Publicado em 22 de abril de 2020 às 10h52.
Última atualização em 22 de abril de 2020 às 11h54.
Parlamentares bolsonaristas, que convocaram ou divulgaram imagens dos atos de domingo passado nas redes sociais, destacaram nas publicações oposição a prefeitos ou governadores ou apoio ao presidente Jair Bolsonaro .
Nenhum deles defendeu abertamente um golpe de Estado, apenas fizeram menção à data da manifestação: 19 de abril é o Dia do Exército. O protesto será alvo de investigação por parte do Supremo Tribunal Federal.
"Teremos uma carreata em todo o Brasil apoiando o presidente", disse em vídeo postado no Twitter a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). Fundadora do movimento NasRuas, ela alegava que as carreatas no país eram contra a aprovação do chamado Plano Mansueto de socorro financeiro a Estados e municípios. O NasRuas também pedia "Fora Doria" e "Fora Maia".
Os deputados estaduais paulistas Douglas Garcia e Gil Diniz (PSL) também trataram o ato como manifestação pró-Bolsonaro e contra Doria. Já o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) compartilhou mensagem dizendo que a carreata de Brasília era "contra as medidas restritivas do governo de Ibaneis (Rocha, governador distrital) e os arroubos autoritários do STF".
O deputado General Girão (PSL-RN) compartilhou vídeo da manifestação em Natal. Ele aparece falando de Rodrigo Maia (DEM-RJ): "Fiquei abismado de ouvir do presidente da Câmara que o Congresso não tem que ouvir o povo. Claro que tem que ouvir! É do povo que vem a força da democracia."
Carlos Jordy (PSL-RJ) reduziu o ato de Brasília a um repúdio a Maia. "Protesto contra Rodrigo Maia não é manifestação contra o Congresso. É inadmissível que reduzam o legislativo a um deputado de 74 mil votos", escreveu, ignorando as faixas e gritos a favor do golpe em Brasília e outras cidades.
Nesta terça, 21, deputados bolsonaristas passaram a criticar a investigação do Supremo sobre a organização dos atos. Alê da Silva (PSL-MG) disse: "Acho que ele (o procurador-geral Augusto Aras) está querendo um AI-6 contra os manifestantes".
Investigação no STF
O ministro Alexandre de Moraes determinou abertura de inquérito para investigar a organização de atos antidemocráticos realizados no país no último final de semana, atendendo a requerimento do procurador-geral da República, Augusto Aras.
Bolsonaro participou de manifestação pró-intervenção militar em Brasília, mas não é alvo do inquérito, que corre sob segredo de Justiça. O caso foi remetido ao STF porque os atos teriam contado com a participação de deputados federais, que detêm foro privilegiado na corte.
Em sua decisão, o ministro classificou o fato sob investigação como "gravíssimo", pois representa um atentado ao estado democrático de Direito e às instituições republicanas.
O inquérito, segundo a PGR, tem como objetivo apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional. Os protestos reivindicavam, entre outras pautas, a reedição do AI-5, ato institucional que, em 1968, endureceu o regime militar no país e abriu espaço para o fechamento do Congresso.
Moraes apontou que a Constituição não permite manifestações visando ao rompimento do Estado de Direito e destacou que não se confundem com a liberdade de expressão condutas que tenham como finalidade "controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático".
"Também ofendem os princípios constitucionais aquelas que pretendam destruí-lo, juntamente com instituições republicanas, pregando a violência, o arbítrio, o desrespeito aos direitos fundamentais. Em suma, pleiteando a tirania", argumentou Moraes.