Cruzeiro rebaixado, Corona (a cerveja) e WhatsApp: como Queiroz foi achado
O ex-assessor parlamentar estava deitado em sua cama quando a Polícia Civil de São Paulo chegou em Atibaia para prendê-lo
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de junho de 2020 às 13h12.
O ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz acordou nesta quinta-feira, 18, com a polícia em torno de sua cama, levantou as mãos e mostrou que estava desarmado. Parecia estar com medo. "Ele (Queiroz) não fez nada, não reagiu. Levantou as mãos e falou: 'Olha, tudo bem. Vocês cumpram a função de vocês, vou me entender com a Justiça do Rio'. Foi ótimo, trouxemos ele para cá", disse o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, diretor do departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope). Queiroz estava escondido em uma casa do advogado Frederick Wassef, em Atibaia, a 65 quilômetros de São Paulo.
A operação que encontrou Queiroz começou a ser desenhada na terça-feira quando o promotor Amauri Silveira Filho, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), da capital, procurou o secretário executivo da Polícia Civil de São Paulo, delegado Youssef Abou Chahin. Amauri havia acabado de receber dos colegas do Rio o mandado de prisão e a informação do endereço de Queiroz.
Os promotores do Rio haviam feito a descoberta sobre o endereço do ex-assessor por meio da análise de fotos e mensagens achadas no celular de Márcia Oliveira Aguiar, mulher de Queiroz. Em uma delas, havia uma foto dele em um churrasco e uma mensagem: "Nós fizemos um churrasquinho aqui. Umas garotinhas 'bacaninhas' e vimos o Cruzeiro ser rebaixado... O Cruzeiro ser rebaixado tomando uma Corona aqui com limãozinho.... Muito bom!"
Youssef informou apenas duas pessoas sobre o caso: o delegado-geral, Ruy Ferraz Fontes, e o diretor do Dope. O alvo da operação foi mantido em sigilo. Nico designou uma equipe para verificar se existia o endereço em Atibaia passado pelos promotores do Rio e em nome de quem o imóvel estaria registrado. Foi quando os policiais tiveram uma surpresa: o endereço estava em nome de Wassef, advogado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e amigo do pai do parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro.
Como era curto o prazo para executar o mandado de prisão, os investigadores queimaram etapas. "Ficamos com receio de fazer aquilo que chamamos 'reconhecimento', que é um procedimento padrão que adotamos quando a gente vai cumprir uma ordem judicial que não é nossa", contou o promotor Jandir Moura Gomes Neto, do Gaeco.
Para saber quantos agentes levar e se havia rotas de fuga, a pesquisa foi feita no computador. "Fizemos uma pesquisa em bancos de dados normais, vulgo Google, e pesquisas em bases de dados que nós temos", afirmou. Além dos agentes, delegados e promotores, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanharam a operação, pois não se sabia se o imóvel era ou não usado por Wassef como escritório.
Todos se encontraram às 4h30 e rumaram em direção ao alvo. Só então os demais envolvidos na operação ficaram sabendo quem iam prender em Atibaia.
Grupo
Um grupo de WhatsApp foi montado pelos promotores do Rio e de São Paulo, com a participação dos delegados paulistas para a coordenação da operação. E foi nele que Nico informou aos colegas que havia achado o Queiroz. Não havia armas na casa. O ex-assessor parecia "agoniado" quando viu os policiais, que cortaram uma corrente para abrir o portão e depois usaram um aríete para abrir a porta da casa.
"Ele havia tomado um remédio e estava dormindo", contou o delegado Nico. Queiroz ficou surpreso ao saber que sua prisão preventiva havia sido decretada. De acordo com Nico, um caseiro informou à polícia que Queiroz estava havia mais de um ano no imóvel. O ex-assessor disse que fazia compras sozinho e afirmou aos policiais que estava doente. Foi autorizado a levar uma mochila com roupas. Vestiu máscara e boné preto. Para evitar qualquer problema, teve seu cinto retirado da calça.
Youssef deu a ordem aos subordinados para que o material arrecadado na casa fosse colocado em um malote - R$ 900 que estavam na carteira de Queiroz, dois celulares e documentos do ex-assessor. Toda a ação foi filmada. O preso foi levado a São Paulo e, depois, transferido em helicóptero da Polícia Civil para o Rio.
No WhatsApp, os policiais receberam os parabéns dos promotores cariocas. E, pelo telefone, chegaram os parabéns do governador João Doria (PSDB), transmitidos pelo secretário da Segurança, general João Camilo Pires de Campos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.