Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência da República (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Alessandra Azevedo
Publicado em 12 de maio de 2021 às 06h00.
Última atualização em 12 de maio de 2021 às 16h03.
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou que o ex-secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, pode ser preso se estiver mentindo no depoimento prestado ao colegiado nesta quarta-feira, 12. O colegiado convocou Wajngarten para explicar declarações dadas em entrevista à revista Veja, em abril, na qual apontou a "incompetência" do Ministério da Saúde como motivo para atraso na compra de vacinas.
O senador alagoano alega que o ex-secretário do governo está esquivando das perguntas da relatoria e chegou a afirmar que Wajngarten estaria mentindo, ao não confirmar as declarações dadas à Veja, quando disse que responsabiliza o Ministério da Saúde pelo atraso das vacinas da americana Pfizer. Durante depoimento, Wajngarten não confirmou parte das afirmações que deu à revista e disse desconhecer números que aparecem na matéria.
No depoimento à CPI, o ex-secretário negou que tenha chamado o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de "incompetente" e disse não ter participado "da negociação propriamente dita" pela vacina da Pfizer, apesar de ter afirmado à revista que "abriu as portas do Palácio do Planalto" e fez "várias reuniões" com os representantes da farmacêutica.
Pouco depois da alegação do ministro, a revista divulgou áudio do trecho da entrevista em que Wajngarten diz que "houve incompetência". O repórter pergunta se teria havido incompetência ou negligência do governo, em especial do Ministério da Saúde, no processo de compra de vacinas. "Incompetência", afirmou.
Wajngarten também disse que não trabalhou em março de 2020, quando foi veiculada uma campanha contra o isolamento social, chamada “O Brasil não pode parar”, porque viajou e, depois, foi diagnosticado com covid-19. “Eu não tenho certeza se ele [vídeo da campanha] é de autoria, de assinatura da Secom. Eu não sei se ele foi feito dentro da estrutura”, disse.
A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) insistiu no assunto. “Teve banner, que tinha a marca da Secom, que foi publicada nas redes oficiais da Secom. E, depois, elas foram retiradas do ar. O senhor afirma que essa campanha não foi feita com a concepção da Secom?”, perguntou.
Wajngarten confirmou a data de veiculação da campanha, em março de 2020, e justificou: “Na primeira semana de março, eu fui para os Estados Unidos com o presidente e, de lá, fiquei internado em casa por causa da covid. É exatamente por isso que eu lamento não poder responder”, afirmou. Mas, em live com o deputado Eduardo Bolsonaro, na mesma época, ele garantiu que estava “trabalhando normal”.
As contradições irritaram o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM) e o relator, Renan Calheiros. “Se ele mentiu, terá desprestigiado e mentido ao Congresso Nacional, o que é um péssimo exemplo. Eu queria dizer que vou cobrar a revista Veja. Se ele não mentiu, que ela se retrate a ele. E, se ele mentiu à revista Veja e a esta comissão, eu vou requerer a Vossa Excelência na forma da legislação processual a prisão do depoente", disse Renan.
Aziz também fez o alerta. "Vossa excelência tá confiando em que lá na frente, meu amigo? Porque deixa eu dizer uma coisa: isso tem consequências futuras. Só quem já enfrentou processo sabe que isso não acaba amanhã. A gente se sente meio protegido quando tem poder atrás da gente, depois que não tem poder, a gente fica abandonado e tem o arrependimento", avisou.
À Veja, Wajngarten disse ter provas de que a culpa pelo atraso na aquisição de vacinas contra a covid-19 da Pfizer foi do Ministério da Saúde. Ele afirmou que o Ministério da Saúde agiu com "incompetência" e "ineficiência" durante as tratativas com a farmacêutica, que ofereceu 70 milhões de doses ao governo no ano passado. Segundo o ex-secretário, a Pfizer enviou uma carta ao ministério com a proposta, mas não recebeu resposta. Por isso, ele teria assumido a frente na negociação, com o aval do presidente Jair Bolsonaro.
O ex-secretário também deixa claro, na entrevista, que tem provas que confirmam que o Ministério da Saúde seria responsável pelo atraso das vacinas, como e-mails, registros telefônicos e cópias de minutas do contrato, além de testemunhas. Esse foi o motivo para que o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentasse o requerimento para convocação de Wajngarten, aprovado em 5 de maio. A CPI quer acesso a esses documentos.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também apresentou requerimento para convocação de Wajngarten, mas por considerar "necessário" que ele detalhe a conduta à frente da secretaria durante a pandemia. O senador busca esclarecimentos sobre “todas as questões de publicidade e comunicação oficial do governo relativas a isolamento social, vacinação, emprego de medicamentos sem eficácia comprovada, entre outros temas”.
Uma dúvida comum é sobre a falta de campanhas publicitárias de esclarecimento à população sobre medidas preventivas, como uso de máscara e álcool. "Ele [Wajngarten] era responsável pela política de comunicação do governo, e nunca foi muito claro no tocante às medidas necessárias para evitar a pandemia", disse Vieira, em entrevista coletiva, nesta terça-feira, 11.
A defesa de Bolsonaro ao "tratamento precoce" com remédios como a cloroquina será um dos pontos abordados pelos senadores. Os integrantes da comissão querem saber até que ponto a Secretaria de Comunicação da Presidência endossou e incentivou as declarações de Bolsonaro em defesa do tratamento precoce.
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