"Contra a corrupção" ou "contra o ódio": assim votam os brasileiros
A campanha é a mais polarizada da história recente do país
AFP
Publicado em 28 de outubro de 2018 às 14h21.
Última atualização em 28 de outubro de 2018 às 14h25.
Os brasileiros comparecem às urnas neste domingo para votar "contra a corrupção", a favor do candidato favorito, o deputado de extrema direita Jair Bolsonaro, ou "contra o ódio", a favor do candidato de esquerda Fernando Haddad, após a campanha mais polarizada da história recente do país.
Em um local de votação no bairro de classe alta de Moema, em São Paulo, a empresária Ana Lúcia Gercici foi uma das que votou mais cedo, em uma eleição que considera "definitiva para muitas coisas".
A eleitora de 51 anos está convencida de que o futuro do Brasil passa pelo capitão da reserva de 63 anos e está decidida a morar na Itália em caso de vitória do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção.
"As pessoas honestas, trabalhadoras, se sentem muito injustiçadas pelo voto em um ladrão e a gente não consegue nem entender porque votam em um ladrão", afirma a empresária, para quem Bolsonaro pode terminar com a corrupção e reativar a economia da principal potência latino-americana.
Em uma escola da Vila Militar, zona oeste do Rio de Janeiro, onde o candidato do PSL votou aos gritos de "mito" de seus simpatizantes, as medidas de segurança foram reforçadas.
Soldados revistavam os eleitores e a área de votação com espelhos e detectores de metais. Simpatizantes do candidato, que em setembro sobreviveu a uma facada no abdômen, exibiam bandeiras do Brasil e vestiam camisas com o rosto de Bolsonaro.
"O Brasil vai vencer", disse Jarbas Carlini, um metalúrgico desempregado, com uma réplica do troféu da Copa do Mundo nas mãos.
Este eleitor bolsonarista de 50 anos confessa que já votou em Lula (2003-2010) em duas ocasiões, mas decidiu parar de votar no PT, "decepcionado" com os vários escândalos que envolvem o partido.
"Eu trabalhe, estudei, estudei muito, e hoje estou desempregado. Então a gente vê esperança nele (Bolsonaro). Acabou o PT, aquela roubalheira".
- "Medo" -
A retórica inflamada de Bolsonaro, um defensor da ditadura militar (1964-1985) conhecido por seus comentários ofensivos contra as minorias e planos para flexibilizar o porte de armas, marcou a campanha, repleta de insultos e agressões.
Na fila da escola Cícero Pena, em frente à praia de Copacabana, Elias Chaim, estudante de Engenharia e produtor musical explica que, apesar de não gostar de nenhum dos dois candidatos, completamente opostos em estilo e programa, vota em Haddad.
"O discurso do ódio e de intolerância representa um risco para nosso país", adverte.
No colégio paulista em que Haddad votou, militantes do PT aguardaram o candidato com rosas brancas e vermelhas, guarda-chuvas arco-íris e com gritos de "Brasil, urgente, Haddad presidente".
Renata Arruda, atendente de telemarketing de 41 anos, chora ao reconhecer que o ex-prefeito de São Paulo tem uma missão difícil para vencer, apesar da recuperação nos últimos días nas pesquisas, que apontam entre 44% a 45% dos votos válidos.
"Nunca vivi uma eleição tão polarizada. Eu acho que foi por conta do Bolsonaro ser uma pessoa muito agresiva, muito louca. Eu tenho muito medo. Meu pai e minha mãe viveram a ditadura e tenho muito medo de que volte isso", lamenta entre lágrimas.