Como irá funcionar o sistema de câmeras usadas por PMs; governo Tarcísio detalha
No escopo de segurança previsto, as câmeras poderão ser acionadas por PMs, modelo criticado por especialistas
Agência de notícias
Publicado em 25 de maio de 2024 às 14h47.
O governo deSão Paulo divulgou neste sábado, 25, detalhes sobre como irá funcionar o sistema das 12 mil câmeras corporais portáteis (COPs) contratadas para uso da Polícia Militar no estado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, além de ampliar a qualidade do som e imagens captados, os equipamentos terão reconhecimento facial, leitura de placas de veículos, melhoria na conectividade e um sistema de "buffer" capaz de armazenar imagens dos 90 segundos anteriores à ativação.
A tecnologia, de acordo com a pasta, permite que as câmeras permaneçam operando continuamente e, ao serem acionadas para armazenar imagens, incluirão gravações retroativas, possibilitando um registro mais completo da ocorrência.
O novo modelo das COPs, no entanto, é criticado por especialistas em segurança pública por poder ser acionado voluntariamente pelo próprio policial. A mudança contraria boas práticas adotadas mundo afora. Eles defendem que a gravação deve ser automática e ininterrupta, como é feito atualmente, impedindo que o policial decida qual momento vai registrar. A medida inibe que maus profissionais cometam irregularidades durante o expediente e pode se tornar uma prova a favor do próprio agente, em caso de conduta correta.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que "o acionamento das COPs é obrigatório e deverá ser feito pelo próprio policial ao iniciar uma ocorrência". Caso, por qualquer motivo, o dispositivo não seja ligado, o agente responsável pelo despacho da ocorrência no Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) acionará a gravação remotamente.
"Toda ocorrência é comunicada de imediato ao Copom e essa inovação do acionamento à distância não desobriga os policiais a ligarem o equipamento durante as ações, mas oferece uma garantia adicional de que as COPs serão acionadas assim que o policial entrar em ação", informou a pasta.
Regras de acionamento
Procurado pelo GLOBO, o governo de São Paulo não informou quais serão as regras adotadas pela PM para acionamento das câmeras. A pasta divulgou apenas que "qualquer desvio dessas normas resultará em penalidades ao policial, que seguirão todos os ritos de investigação e eventual punição estabelecidos pela corporação para os casos de desvio de conduta".
O edital publicado pelo governo paulista na última quarta-feira vai substituir as mais de 10 mil câmeras existentes e ampliar em 17% o número de equipamentos, para 12 mil. A iniciativa vem após uma série de declarações, tanto do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto de seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, criticando a utilidade da política pública.
O documento com as especificações requeridas pelo governo, de 131 páginas, exige que as câmeras sejam capazes de fazer gravações "intencionais", isto é, que possam ser acionadas pelo PM. O edital prevê que, nos momentos em que não houver gravação, a câmera não fará registro de vídeo. Também menciona que, "encerrado o vídeo intencional (acionado pelo agente), a COP (câmera operacional portátil) deverá voltar automaticamente ao modo de espera".
Hoje, na experiência da Polícia Militar de São Paulo, os policiais não têm controle sobre o acionamento da COP, uma vez que a gravação ocorre de forma ininterrupta durante o turno policial, de 12 horas. O equipamento começou a ser usado por meio do Programa Olho Vivo, instituído durante o governo de João Doria, em 2020.
Consultada pelo GLOBO, a área técnica da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo não respondeu sobre o fato de as novas câmeras dependerem de acionamento do PM.