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Com saques e até incêndios, trens de carga viram alvo de criminosos em SP

Conforme a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, a ação de criminosos especializados em roubo de cargas vem colocando em risco a segurança da população e causando prejuízos à economia do País

Saqueadores: Os alvos principais são vagões com soja, açúcar, carne e combustível (Ian Waldie/Bloomberg)

Saqueadores: Os alvos principais são vagões com soja, açúcar, carne e combustível (Ian Waldie/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de fevereiro de 2023 às 17h03.

Trens de empresas ferroviárias que transportam cargas para o Porto de Santos estão sob o ataque de uma rede criminosa que saqueia os vagões e pratica atos de vandalismo. Os alvos principais são vagões com soja, açúcar, carne e combustível.

Só no ano passado, ao menos 110 ocorrências desse tipo foram registradas em delegacias da Baixada Santista, conforme apurou o Estadão. Os sucessivos ataques levaram a Polícia Militar a desencadear, no dia 20 de janeiro, operação especial contra os saques a trens. Ao menos 22 suspeitos foram presos.

Conforme a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), a ação de criminosos especializados em roubo de cargas vem colocando em risco a segurança da população e causando prejuízos à economia do País. No dia 1º de fevereiro, três vagões da MRS Logística que operavam na malha da empresa de logística Rumo foram incendiados em Embu-Guaçu. A carga de celulose foi rapidamente consumida pelas chamas. Nenhum suspeito foi preso. O incêndio obrigou a interrupção do tráfego na ferrovia e em uma rua adjacente.

No dia 25 de janeiro, dois seguranças da ferrovia - um guarda civil e um policial militar aposentado - foram mortos a tiros quando tentavam impedir o saque de uma composição na Vila Esperança, em Cubatão. Três suspeitos foram presos. A morte dos agentes é investigada, pois ocorreu durante um tiroteio em que policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) também tentavam impedir o ataque aos vagões.

No dia 22 de janeiro, uma composição que levava açúcar para o Porto de Santos foi atacada na área continental de São Vicente. Os saqueadores obstruíram a linha, obrigando o trem a parar, e abriram seis vagões. A carga se espalhou pelos trilhos, atingindo também uma via vicinal à rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55). A quantidade de açúcar espalhada chegou a impedir o acesso ao bairro Acaraú. Equipes da Rumo trabalharam cinco dias para retirar o material.

No dia 24, câmeras de monitoramento flagraram dois homens sobre um trem saqueando a carga em Cubatão. Um terceiro suspeito se desequilibrou ao tentar subir no vagão em movimento, caiu e quase foi atropelado. Os outros homens conseguiram retirar sacos de produtos do vagão e jogar ao lado da linha férrea.

No último dia 30, outro trem foi alvo de criminosos na passagem por São Vicente. Os bandidos abriram os vagões de soja e toneladas do produto vazaram sobre os trilhos.

Em outubro do ano passado, em Cubatão, uma multidão saqueou um vagão contêiner que levava uma carga de carne bovina para o Porto de Santos. O teto metálico do vagão foi cortado pelos saqueadores para a retirada das caixas com peças inteiras de carne.

Prisões

Desde que as ações se tornaram frequentes, a PM tenta fechar o cerco contra os criminosos. Em 26 de janeiro, na Vila Esperança, em Cubatão, dez criminosos que integravam uma quadrilha de ataques a trens foram presos. Com eles, a PM apreendeu 129 sacas de soja que tinham sido furtadas dos vagões. No dia 1º deste mês um homem foi preso quando transportava sete sacas de açúcar em seu automóvel, também em Cubatão, na Baixada Santista. Ele venderia a carga por R$ 1,2 mil.

No interior do veículo havia também soja, indicando que o carro foi usado para escoar os produtos dos saques aos vagões. Policiais desconfiaram do veículo com a traseira arriada devido ao peso que levava. O suspeito foi levado para a delegacia da Polícia Civil e autuado em flagrante pelo crime de receptação.

Os saques acontecem também em outras regiões do Estado de São Paulo. No dia 11 de novembro último, um casal foi preso em Campinas com 700 litros de diesel furtados do vagão tanque de um trem parado na ferrovia, em Paulínia. Seguranças da operadora flagraram a ação criminosa e seguiram o veículo do casal. O combustível estava em 14 galões de 50 litros, que foram apreendidos.

De acordo com o guarda municipal Christopher Tuckmantel, outros furtos semelhantes já foram registrados na região. "Os trens param para aguardar o transbordo no terminal de Paulínia e eles praticam o furto usando uma pequena bomba para retirar o combustível. Eles ignoram o risco de que podem causar um incêndio e até uma explosão", disse.

Em São Joaquim da Barra, no interior do Estado, 11 integrantes de uma quadrilha foram presos, suspeitos de saquear a carga de soja de um trem parado na altura de Pioneiros, distrito de Guará. O trecho da ferrovia é administrado pela VLI Logística. Cinco homens foram presos em flagrante por furto e os demais foram ouvidos e liberados. Na ação, a polícia recuperou 360 sacas de soja, além de grande quantidade do cereal a granel, e apreendeu dois caminhões.

Risco

A Rumo informou, em nota, que os sucessivos ataques prejudicam a operação ferroviária, a segurança da comunidade no entorno da ferrovia e a economia brasileira. "Todas as interferências na linha férrea são registradas em boletim de ocorrência, e a concessionária segue mantendo conversas com a Secretaria de Segurança Pública e com os comandos gerais das polícias Militar e Civil", disse.

Ainda segundo a nota, adicionalmente, a Rumo tem reforçado seu efetivo de segurança, subsidiado as autoridades com informações que possam ajudar nas investigações e ajustado suas operações de modo a reduzir as consequências para seus clientes.

A MRS Logística, que teve os vagões incendiados, disse que, apesar das ocorrências de furto e vandalismo na ferrovia serem pontuais em sua malha, "diante dos impactos para a logística nacional, acreditamos que as autoridades competentes continuarão atuando para a solução do problema".

A VLI disse que monitora seus ativos para assegurar que as cargas transportadas cheguem a seus destinos sem alteração. "Se uma movimentação suspeita é identificada, a Polícia Militar é acionada e, caso alguma ocorrência seja registrada, a companhia colabora com as investigações."

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