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Com receio da esquerda, agricultura fecha apoio a Bolsonaro

“Bolsonaro é quase unanimidade no setor”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja)

Agricultores: donos de terras de todo o país se posicionaram entre os apoiadores mais ferrenhos de Bolsonaro (Cristiano Mariz/Exame)

Agricultores: donos de terras de todo o país se posicionaram entre os apoiadores mais ferrenhos de Bolsonaro (Cristiano Mariz/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 16h13.

Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 16h35.

Os produtores brasileiros, um dos grupos mais influentes do país que é o maior exportador mundial de diversas commodities, de soja a suco de laranja, estão apostando todas as fichas no candidato conservador Jair Bolsonaro diante da ameaça de retorno da esquerda a poucas semanas da eleição presidencial.

Donos de terras de todo o país se posicionaram entre os apoiadores mais ferrenhos de Bolsonaro, dando a ele grande vantagem sobre os demais candidatos nas regiões Centro-Oeste e do Sul, as mais relevantes na produção agrícola.

Isso representa um revés para candidatos como Ciro Gomes e Geraldo Alckmin, que escolheram companheiros de chapa com laços estreitos com o setor na esperança de aumentar suas chances.

O movimento a favor de Bolsonaro se intensificou nos últimos tempos porque Fernando Haddad, o candidato do PT, está ganhando força nas pesquisas, seguido por Ciro, outro nome da esquerda.

A chance maior de um segundo turno entre o conservador e um representante da esquerda afastaram ainda mais os fazendeiros de Alckmin, que era visto como uma boa opção no centro tanto pelo setor agrícola como pelo mercado financeiro.

O ex-governador de São Paulo, no entanto, não tem conseguido avançar antes da disputa do primeiro turno do dia 7 de outubro.

“Bolsonaro é quase unanimidade no setor”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).

“Os produtores o apoiam por suas propostas nas questões de segurança e fundiária”, disse, acrescentando que a associação é apartidária e que o comentário reflete sua percepção a respeito da preferência dos produtores.

O Brasil é o maior exportador mundial de soja, café, açúcar e suco de laranja e o segundo maior de milho.

Os produtores de café têm posição semelhante. Os cafeicultores se sentem atraídos pelos discursos enérgicos do ex-capitão do Exército, que defende veementemente uma luta implacável contra a criminalidade e a violência, um problema recorrente no interior do país, segundo Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), a maior cooperativa cafeeira do Brasil.

“Todos os dias uma carga de café é roubada nas cidades de Minas Gerais, um banco é roubado”, disse, citando sua percepção a respeito da opinião dos fazendeiros. “Vivemos em cidades pequenas, muito suscetíveis à violência, e o único candidato que fala em matar bandidos é Bolsonaro.”

Bolsonaro propõe retirar da Constituição “qualquer relativização da propriedade privada, como exemplo nas restrições da Emenda Constitucional 81", que determina a expropriação de terras onde tenha sido identificado trabalho escravo. A legislação brasileira também determina que fazendas improdutivas sejam desapropriadas e usadas para reforma agrária.

O líder das pesquisas também propõe permitir que civis tenham armas e as usem para autodefesa ou para proteger suas propriedades. Bolsonaro quer alterar a lei que efetivamente proíbe civis de portar armas, aprovada por 64 por cento da população em um plebiscito em 2005.

A abordagem é oposta à de Haddad, seu adversário mais provável no segundo turno, no fim de outubro.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem ligação histórica com o PT de Haddad e apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso. Os fazendeiros temem que uma vitória do PT fortaleça o movimento, visto como uma ameaça a suas terras.

A ascensão de Haddad nas pesquisas também influenciou os produtores de etanol e açúcar do país. Eles planejavam votar em Alckmin, que concedeu a eles grandes vantagens fiscais quando foi governador de São Paulo.

O raciocínio é o mesmo: medo da esquerda, que congelou os preços da gasolina para conter a inflação, eliminando a competitividade do etanol como biocombustível e levando muitos produtores à falência.

Bolsonaro está 11 pontos percentuais à frente do ex-governador em São Paulo, segundo o Datafolha.

Outra razão pela qual o setor agrícola acolheu Bolsonaro é o desejo de mudança após os recentes escândalos de corrupção no país, que atingiram políticos dos partidos de Haddad e Alckmin. O sentimento é compartilhado por muitos brasileiros, que estão mais desconfiados do que nunca em relação à política e às instituições.

Eles também estão cansados da violência: 63.880 pessoas foram mortas no ano passado, um recorde, segundo relatório da organização sem fins lucrativos Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ou cerca de 175 pessoas por dia.

Bolsonaro, deputado há quase 30 anos, estruturou sua campanha em torno de uma “nova política”, não contaminada pela corrupção, com uma mensagem dura para a segurança pública.

“O setor agrícola está cansado da velha política”, disse Pereira, da Aprosoja.

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