Com feriado, cidades de SP e RJ criam barreiras sanitárias contra turistas
A medida é uma tentativa de evitar maior disseminação da covid-19 em regiões que já estão com hospitais lotados
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de março de 2021 às 20h33.
Última atualização em 25 de março de 2021 às 21h59.
Pelo menos 60 cidades do interior e litoral de São Paulo decidiram instalar barreiras sanitárias para inibir a entrada de turistas e visitantes, durante os feriados antecipados na capital e na região do ABC paulista.
Os agentes não podem impedir a passagem dos veículos, porém, convidam o motorista a preencher questionários, medir a temperatura e, em alguns casos, tentam convencer o visitante a retornar para sua cidade.
A medida é uma tentativa de evitar maior disseminação da covid-19 em regiões que já estão com hospitais lotados. A mesma medida também está sendo adotada em cidades do estado do Rio de Janeiro.
A prefeitura de São Paulo antecipou cinco feriados para aumentar o isolamento social e conter o avanço da doença, criando um feriadão que vai desta sexta-feira, 26, a domingo, 4 de abril. Cidades do ABC acompanharam a medida e também decretaram feriados. Prefeitos do interior e do litoral, que também lutam contra o avanço do coronavírus, temem uma invasão de paulistanos e turistas.
Na região metropolitana de Campinas, os 20 municípios iniciam a abordagem aos motoristas nesta sexta e seguem com barreiras até 4 de abril. A adoção de barreiras nos principais acessos urbanos foi definida em reunião virtual entre os prefeitos. Os agentes usarão câmeras com reconhecimento óptico de caracteres para monitorar os veículos com placas novas, sem identificação das cidades. Os motoristas abordados terão a temperatura medida e devem preencher um questionário com os motivos da viagem.
As barreiras não impedem a passagem dos veículos, mas orientam o motorista sobre o risco de transmissão e pedem o retorno para a cidade de origem, se não houver motivo justificado para a presença na cidade. Em Sorocaba, cinco barreiras começaram a funcionar na manhã desta quinta-feira, 25, nas avenidas de acesso à região central. Na barreira localizada na Avenida Carlos Reinaldo Mendes, próximo à prefeitura, os agentes pararam o comerciante Reinaldo Rugolo, de Laranjal Paulista. Ele foi liberado após comprovar que tinha reunião agendada em um escritório de advocacia da cidade.
Na região, outras 15 cidades terão barreiras. Em Tatuí, a prefeitura decidiu também proibir o aluguel de chácaras de recreio para turistas. A prefeitura de Salto de Pirapora, além de instalar barreiras, decretou lei seca, com a proibição de consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos. Em Boituva, os agentes vão usar drones para evitar que os veículos fujam das barreiras. Na região de Piracicaba, pelo menos seis cidades tentam barrar a entrada de turistas. Em Iracemápolis, a prefeitura interditou quiosques usados por visitantes em áreas de lazer.
Cinco cidades turísticas da região de Bragança Paulista usarão barreiras para dificultar a entrada de visitantes da capital. Em Atibaia, também foram proibidas a entrada de ônibus de excursões e a locação de chácaras ou cessão de chácaras para festas, inclusive familiares. As medidas vigoram de sábado, 27, ao dia 5 de abril. Bragança também decretou lei seca — proibição de venda de bebidas alcoólicas — desta sexta a domingo, 28. A prefeitura de Campos do Jordão vai retomar as barreiras sanitárias na entrada da cidade para orientar os turistas.
Em todo o litoral de São Paulo, as cidades praianas estão usando barreiras para dissuadir os turistas de adentrarem a área urbana. Em Santos, nesta quarta-feira, 24, a Guarda Civil Municipal abordou 250 veículos e impediu a entrada de dez carros cujos ocupantes não apresentaram motivo para entrar na cidade. A prefeitura proibiu também o consumo de bebidas em locais públicos. Outros oito municípios da Baixada Santista instalaram barreiras.
No litoral norte, os quatro municípios estão com barreiras. Em São Sebastião, 18 turistas que testaram positivo para covid-19 na barreira sanitária montada pela prefeitura foram orientados a retornar para suas casas e observar o isolamento. Em Ilhabela, uma barreira instalada no bolsão de embarque das balsas exige que o visitante apresente exame negativo para covid-19 feito a menos de 48 horas.
Rio quer evitar que folga vire motivo para viagens e aglomerações
O feriadão anticovid do Rio , programado para começar nesta sexta 26, e com encerramento previsto para 4 de abril, será marcado por normas divergentes entre o estado e prefeituras e, em algumas cidades turísticas, barreiras sanitárias. A ideia é evitar que os dez dias de folga virem motivo para viagens e aglomerações que facilitem a propagação do vírus, descontrolada no país.
Uma experiência de controle começou nesta quinta, 25, em Cabo Frio, a 160 quilômetros da capital fluminense. Aparentemente, porém, quase todo mundo que quis entrou no município, conhecido por suas praias. Para isso, precisaram apenas exibir QR codes de reserva em hotéis ou comprovantes de residência até em Arraial do Cabo, cidade vizinha.
"Comecei meu plantão aqui às 7h e são 15h30; até agora, só mandei voltar um carro", contou ao Estadão um integrante da Guarda Civil Municipal de Cabo Frio, sob anonimato. O único resultado visível da barreira foi um longo engarrafamento.
As medidas na cidade começaram já nesta quinta-feira, 25, um dia antes do feriado. Incluem o fechamento total das praias e de acessos à cidade por meio das estradas. Segundo a prefeitura, o mandatário José Bonifácio apelou para que moradores da capital e da Baixada Fluminense evitem ir ao município.
"Sempre recebemos o turista de braços abertos. Mas, neste momento, da grave pandemia que assola o Brasil, da alta taxa de contaminação, da possibilidade de não termos mais leitos para acomodar aqueles que estão precisando de UTI e de tratamento, não há outra decisão dos prefeitos, e de modo especial aqui, em Cabo Frio, senão o fechamento do acesso à nossa cidade", disse.
Também na região, Armação dos Búzios proibiu a permanência nas praias a partir desta sexta, 26. Está liberada apenas a prática de exercícios e passeios de barco e demais embarcações, desde que respeitem a ocupação máxima de 50%, o uso de máscara e o distanciamento entre as pessoas.
Já em Arraial do Cabo, a prefeitura foi mais firme: proibiu totalmente as praias e os passeios em barcos e afins. As medidas também começam a valer nesta sexta, indo ao encontro do decreto estadual. Em todos esses locais, há também restrições voltadas para o comércio, eventos e hospedagem em hotéis e pousadas.
Principal município da Costa Verde, em outro ponto do estado, Angra dos Reis também tem suas medidas restritivas, que são parecidas com as de Búzios. Será permitida apenas a prática de exercícios individuais na praia, enquanto o comércio e bares e restaurantes continuam abertos, tendo somente limitações de horário e de taxa de ocupação.
Na Região Serrana, muito procurada por moradores da capital nos feriados tradicionais, também há restrições. Com hospitais lotados, Teresópolis e Petrópolis, por exemplo, instituíram controle na entrada de turistas. A primeira chegou a adotar um rodízio de CPFs para controlar a circulação de moradores.
Na região metropolitana, além de Rio e Niterói, há municípios adotando medidas duras. Maricá fechará totalmente as praias e o comércio não essencial durante os dez dias, na mesma linha do que foi adotado nas outras duas cidades.
Depois da divergência do último domingo com o governador interino Cláudio Castro (PSC), os prefeitos do Rio, Eduardo Paes (DEM), e de Niterói, Axel Grael (PDT), decidiram baixar por decretos medidas mais duras. Enquanto o governo estadual, em decreto, por exemplo, estabeleceu que os shoppings funcionarão de 12 às 20h, as duas prefeituras permitiram que, nesses centros de comércio, apenas lojas de setores essenciais — supermercados e farmácias estão entre eles — possam abrir.
Há vários conflitos semelhantes. Todos são resolvidos por um dispositivo da lei do feriadão aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador. O texto estabeleceu que, nesses casos, prevalecerá a norma mais severa.