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Com 91 mil casos e 6 mil mortes, Brasil vira um polo global da Covid-19

Segundo a Universidade Johns Hopkins (EUA), país só fica atrás dos Estados Unidos no número de novos diagnósticos

Hospital de campanha no Rio de Janeiro: apenas os Estados Unidos têm tido mais novos casos do que o Brasil (Alessandro Dahan/Getty Images)

Hospital de campanha no Rio de Janeiro: apenas os Estados Unidos têm tido mais novos casos do que o Brasil (Alessandro Dahan/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 2 de maio de 2020 às 12h31.

Última atualização em 3 de maio de 2020 às 15h32.

O Brasil chegou ao quarto dia consecutivo em um novo patamar da pandemia de Covid-19. Com 6.209 casos e 428 óbitos em 24 horas, o número de pessoas infectadas com o novo coronavírus subiu para 91.589 e o total de mortes já chega a 6.329. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde.

Desde a última terça-feira, o país vem registrando mais de 5.000 casos e mais de 400 mortes diárias ligadas à Covid-19, tornando-se um dos epicentros da doença no mundo — segundo dados da Universidade Johns Hopkins (EUA), apenas os Estados Unidos têm tido mais novos casos do que o Brasil.

A curva de contágio americana, no entanto, se assemelha a uma montanha-russa, com altos e baixos. Já a brasileira lembra a subida de uma montanha cuja altura do pico ainda é desconhecida, como afirmou o próprio ministro da Saúde, Nelson Teich. Na comparação com o dia 1º de abril, o Brasil registrou 84.753 casos novos e 6.088 mortes em um mês.

De acordo com o balanço divulgado ontem pelo ministério, o aumento no número de novos diagnósticos e óbitos foi de 7% em relação a anteontem. A persistir esse ritmo, o Brasil pode superar a casa dos 100 mil casos da doença no domingo.

— Toda previsão sobre o futuro é difícil, mas todo mundo que é especialista em modelos vê que o Brasil é a nova fronteira. Nas próximas semanas, os dois principais países em que haverá um crescimento acelerado de casos serão Estados Unidos e Brasil. O resto do mundo está desacelerando, crescendo muito pouco — afirma Mauro Schechter, professor-titular de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ele atribui o cenário atual à queda da adesão ao distanciamento social, que fez com que o país registrasse a mais alta taxa de contágio entre 48 nações analisadas pelo Imperial College de Londres. Por aqui, cada dez pessoas infectadas contaminam outras 28; estas contaminam outras 78, e assim sucessivame nte, multiplicando-se sempre à razão de 2,8.

— O que está acontecendo agora provavelmente é reflexo do relaxamento que aconteceu semanas atrás, já que é preciso ter uma massa crítica transmitindo para outras pessoas até ser notado (no registro de novos casos).

Novas ondas

Doutora em epidemiologia da Fiocruz, Ana Luisa Gomes também crê que o país pode se tornar o novo polo da Covid-19, mas pondera que a Europa, que está na descendente de novos contágios, está começando a sair da quarentena agora, e que essa reabertura pode fazer a onda ressurgir.

— A tendência da doença é essa, começa a ser um pico em um país e ir diminuindo no outro. Como a América Latina foi um dos últimos lugares a receber a Covid-19, é natural que a gente se torne um epicentro, o que é diferente de ser o país com maior incidência. Epicentro é, naquele momento, onde tem a maior disseminação da doença, e, portanto, de onde ela pode sair para outros lugares. Por isso o Trump está apreensivo com a questão dos voos. A transmissão comunitária aqui está muito alta, e as pessoas que saírem do Brasil para lá podem levar a doença a várias regiões que já a controlaram.

Gomes se refere à menção feita pelo presidente norte-americano de suspender voos do Brasil para os Estados Unidos, algo que ainda não foi confirmado oficialmente pela Casa Branca. Donald Trump afirmou anteontem que o avanço da Covid-19 pôs o Brasil em uma situação “difícil”.

— No Brasil o número de casos é muito, muito alto. Se você olhar os gráficos quase todos apontam para o alto — disse Trump.

Nos EUA, o número de casos já passou de 1 milhão, e o de mortes, de 60 mil.

Rio passa de 10 mil casos

Ana Luisa Gomes, da Fiocruz, afirma que o agravamento da epidemia no Brasil já era esperado.

— Pelo sistema Infogripe, que avalia os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), já conseguíamos ver que a situação do Brasil está grave há algum tempo e tende a se agravar. Temos também uma subnotificação muito alta. Além disso, nosso país é um continente e tem situações muito regionalizadas, mas várias regiões do país já estão colapsando. Só não se fala que colapsou oficialmente no Rio porque é uma coisa politicamente difícil de ser dita.

Os dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde mostram que os cinco estados com o maior número de casos confirmados são também os que têm mais mortes: SP (30.374 casos, 2.511 mortes), RJ (10.166, 921), CE (7.879, 505), PE (7.334, 603) e AM (5.723, 476).

Para Mauro Schechter, a única solução é manter a política de isolamento daqueles que podem ser isolados.

—Como não há vacina nem um tratamento eficaz, a única maneira de prevenir transmissão é o isolamento social. Não há outra forma. Todos os países que conseguiram controlar o fizeram utilizando soluções clássicas de controle de epidemias: evitar transmissão, diagnosticar precocemente e fazer o rastreamento de contatos.

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