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Pais reclamam, e escola anula prova com texto de Duvivier sobre Bolsonaro

Humorista fala em censura, mas diretor acadêmico do colégio afirma que a anulação aconteceu pela falta de "contraponto político" na questão; alunos reagem

Gregório Duvivier: "sinto muito pelos professores e alunos da escola" (YouTube/Reprodução)

Gregório Duvivier: "sinto muito pelos professores e alunos da escola" (YouTube/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 10 de outubro de 2019 às 15h42.

Última atualização em 10 de outubro de 2019 às 20h23.

São Paulo — O Colégio Loyola, em Belo Horizonte, Minas Gerais, anulou uma prova de língua portuguesa por causa de um texto do ator, comediante e poeta Gregório Duvivier sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo a instituição, vários pais e alunos reclamaram da prova por conta do teor do texto que seria "ideológico", apesar de as perguntas serem de interpretação, sem caráter opinativo.

O número exato de reclamações não foi informado. Para o humorista, o cancelamento foi uma forma de "censura" — o colégio nega.

Duvivier, em uma publicação em seu perfil oficial no Twitter, disse que "sente muito pelos professores e alunos da escola", que irá a Belo Horizonte e está aberto para "debater a crônica e a censura".

Em entrevista a EXAME, o diretor acadêmico do colégio, Carlos Freitas, afirma que a anulação aconteceu pela falta de "contraponto político" no texto de Duvivier.

"Com toda a polarização que vem acontecendo em nosso país, em 2018, os professores criaram um manual para abordar certos assuntos, como política. Uma das orientações era tratar desses temas sem cair em ideologias", explica.

"Não há censura. O que existe é uma orientação para que existam vários posicionamentos. Se tivesse o contraponto, não teria problema", completa.

O texto, intitulado "Único jeito de não ficar triste é ficar puto", foi publicado no jornal Folha de S. Paulo em 28 de agosto.

Em uma passagem do texto, o humorista afirma que o governo é um "gatilho poderoso para a depressão" e que "o presidente parece eleito pela indústria farmacêutica pra vender antidepressivo".

Fotos da prova estão circulando nas redes sociais e sendo repassadas em grupos do WhatsApp.

"Os alunos têm 16 anos e isso caiu nas mãos de alguém porque algum aluno mostrou. Isso chegou nas redes sociais e virou um palco de gladiadores virtuais", diz Freitas.

Prova

Prova

Prova (Twitter/Reprodução)

Freitas define a impressão e aplicação da prova como uma "falha de produção", uma vez que os professores são submetidos a uma revisão de outro docente da mesma disciplina antes de a avaliação acontecer. "Por causa da correria de fim de ano, o teor do texto passou batido", explica.

Por conta da anulação, os alunos terão a opção de fazer nova prova ou de manter a maior nota — mesmo se a maior for da avaliação anulada. Apesar disso, em resposta à anulação, 450 alunos escreveram uma nota de repúdio à decisão do colégio.

"O teste foi alvo de críticas não apenas de algumas famílias, como de pessoas mal intencionadas, que disseram encontrar, em um dos textos presentes na avaliação, uma suposta tentativa de 'doutrinação marxista'", afirma o documento.

"Esses indivíduos que criticam a suposta 'massa de manobra', estão claramente mal informados e tentam perpetuar, de forma antiética e imoral, uma evidente perseguição político-partidária", continua.

Freitas afirma que já entrou em contato com alguns dos alunos e com o grêmio acadêmico para explicar a situação. Para o diretor, a nota de repúdio mostra o "senso crítico" das crianças. "Essa questão de os alunos apoiarem a professora mostra bem o que ensinamos aqui", diz.

Segundo a instituição, a professora não será demitida e nem sofrerá qualquer tipo de retaliação. "Foi apenas um problema técnico que se transformou no que se transformou", define Freitas.

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