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Cientistas alertam para incêndios mais intensos na Amazônia

No Brasil, as chamas praticamente dobraram neste ano até o momento na comparação com 2018, e os incêndios também ardem na vizinha Bolívia

Amazônia: incêndios provavelmente se tornarão mais intensos, frequentes e generalizados (Bruno Kelly/Reuters)
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Reuters

Publicado em 6 de setembro de 2019 às 14h23.

Colômbia - Os incêndios na floresta amazônica provavelmente se tornarão mais intensos, frequentes e generalizados no futuro, a menos que medidas sejam adotadas para conter o desmatamento e a mudança climática, alertaram cientistas antes de uma cúpula de presidentes de países da região, nesta sexta-feira, para discutir o problema.

No Brasil, que abriga a maior parte da maior floresta tropical do mundo, as chamas praticamente dobraram neste ano até o momento na comparação com 2018, e os incêndios também ardem na vizinha Bolívia.

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No mês passado, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que o número de incêndios na Amazônia brasileira foi o mais alto desde 2010, o que provocou clamores internacionais por mais proteção.

Pesquisadores disseram que a expansão agrícola em áreas mais profundas da floresta e secas ligadas ao aquecimento global provavelmente desencadearão mais incêndios no ecossistema frágil.

"Existe uma correlação clara entre o número de dias sem chuva, a escala do desmatamento e o número de incêndios florestais", disse André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Líderes de nações que fazem parte da bacia amazônica estão se reunindo na cidade colombiana fronteiriça de Letícia, nesta sexta-feira, para debater a melhor maneira de frear o corte de árvores e os incêndios na floresta, que é vista como um escudo vital contra a mudança climática.

Os presidentes de Colômbia, Peru, Equador e Bolívia estarão presentes, além do vice-presidente do Suriname.

O presidente Jair Bolsonaro cancelou planos de viagem devido a uma cirurgia no domingo, mas participará por teleconferência e está enviando uma delegação comandada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

A Colômbia espera que a reunião leve a um plano de ação regional --o Pacto de Letícia para a Amazônia-- para proteger a floresta tropical e promover seu uso sustentável.

O ministro do Meio Ambiente colombiano, Ricardo Lozano, disse que o encontro procurará levar em conta "eventos extremos e temperaturas altas".

Menos "imune a incêndios"

Na floresta amazônica brasileira, o desmatamento diminuiu acentuadamente entre 2004 e 2012, período após o qual o índice voltou a tender para um aumento -- e outros países amazônicos também estão testemunhando uma elevação.

Mais árvores estão sendo cortadas ou queimadas para liberar terras para a agricultura e a pecuária, além da mineração e do corte ilegal que continuam sem freios, dizem ambientalistas.

Quando clareiras são abertas na floresta, esta se torna mais suscetível a pegar fogo, disse Mark Cochrane, professor da Universidade do Centro Maryland de Ciência Ambiental.

"Quando você começa a construir estradas, conecta aquela paisagem, por isso os incêndios podem seguir pela vegetação", explicou.

Florestas que foram danificadas ou desmatadas têm buracos em sua copa, além de mais extremidades que "desprendem umidade", o que as seca e aumento o risco de incêndios, segundo Cochrane.

"Quando você danifica estas florestas, elas não são mais tão imunes a incêndios quanto eram. Então, ao invés de precisar de meses sem chuva, basta um par de semanas", acrescentou.

Guimarães, do Ipam, disse que o agravamento das secas também está deixando a floresta mais ressecada, o que aumenta o risco de incêndios.

"As flutuações na umidade na Amazônia estão se tornando cada vez mais perigosas por causa da mudança climática", disse, acrescentando que atualmente a seca está acontecendo de uma maneira que não se viu nas décadas anteriores.

"Luz verde" de Bolsonaro

Em agosto, um relatório do painel de ciência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu um uso mais sensato da terra, o que inclui impedir que florestas sejam derrubadas e diminuir o consumo de carne, para ajudar a manter o aumento das temperaturas globais dentro dos limites combinados.

Mas o desmatamento na Amazônia brasileira aumentou 67% nos primeiros sete meses de 2019 na comparação anual, e mais do que triplicou só em julho, de acordo com o Inpe.

Os planos de Bolsonaro para desenvolver a agricultura e a mineração na Amazônia, somados aos cortes de financiamento para a fiscalização ambiental, estimularam um salto nas taxas de desmatamento, disseram ambientalistas e cientistas.

"Bolsonaro está essencialmente dizendo aos latifundiários 'vão em frente, este governo não vai persegui-los'. Ele deu luz verde", disse William Laurance, professor de pesquisa destacado da Universidade James Cook, da Austrália.

"Alguns cientistas argumentam que 30% de desmatamento da Amazônia bastaria para a floresta tropical entrar em um novo território que destruiria a reciclagem natural de água da floresta, o que teria impactos amplos na precipitação de chuvas, nos incêndios e no clima global", disse.

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