Caixa de vinho: dinheiro para matar Moraes e autoridades foi obtido junto ao ‘agro', diz Cid
De acordo com depoimento do tenente-coronel, recursos foram entregues por Braga Netto, preso neste sábado (14) no Rio de Janeiro
Agência de notícias
Publicado em 14 de dezembro de 2024 às 12h24.
Última atualização em 14 de dezembro de 2024 às 12h24.
Em depoimento prestado à Polícia Federal, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou que o dinheiro entregue por Braga Netto em uma caixa de vinho, para financiar o plano para matar autoridades, “foi obtido junto ao pessoal do agronegócio”. O depoimento do ex-ajudante de ordens ajudou a embasar a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão do general neste sábado.
Mauro Cid citou Braga Netto em depoimento
A PF cita o depoimento de Cid na manifestação em que pediu a prisão do general. Segundo Cid, em uma "reunião no Palácio do Planalto ou na Alvorada", Braga Netto "entregou o dinheiro que havia sido solicitado para a realização da operação". De acordo com a versão do ex-ajudante de ordens, o general "afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio".
“O Coronel De Oliveira esteve em reunião com o colaborador e o General Braga Netto no Palácio do Planalto ou da Alvorada, onde o General Braga Netto entregou o dinheiro que havia sido solicitado para a realização da operação. O dinheiro foi entregue numa sacola de vinho. O general Braga Netto afirmou à época que o dinheiro havia sido obtido junto ao pessoal do agronegócio”, diz trecho do depoimento de Cid prestado à PF.
Diálogos obtidos pela Polícia Federal durante a investigação sobre a trama golpista mostram que o major das Forças Especiais do Exército Rafael Martins de Oliveira – que foi preso em fevereiro após operação – discutiu com Mauro Cid o pagamento de R$ 100 mil para custear a ida de manifestantes aBrasília.
Conforme as investigações, o montante teria sido levantado para a execução da trama golpista que visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que havia ganhado as eleições naquele ano contra o então presidente Jair Bolsonaro. O valor teria sido acertado em uma reunião na casa do general ocorrida no dia 12 de novembro, em Brasília.
Participação de Braga Netto
No pedido de prisão feito ao STF, a PF afirmou que Braga Netto era o "principal elo de financiamento" do plano para capturar Moraes.
"A mudança substancial nos relatos do colaborar em relação a participação do general Braga Netto nos fatos investigados, notadamente a omissão quanto a atuação do indiciado como principal elo de financiamento do evento 'copa 2022', indica que ações de obstrução surtiram o efeito pretendido pela organização criminosa", diz trecho do documento.
Em um depoimento anterior, em março deste ano, Cid havia dito à PF que a reunião serviu para discutir "sobre a conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militares, os pedidos que estavam sendo feitos pelo pessoal". Ele, no entanto, não havia citado nenhuma articulação para arranjar financiamento à ação golpista - o que foi relatado pelo militar em novo depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, em 21 de novembro.
Em nota, a PF diz que mandados judiciais foram "expedidos pelo Supremo Tribunal Federal em face de investigados no inquérito que apurou a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do governo legitimamente eleito em 2022" e que "estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão e uma cautelar diversa da prisão contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal".
Braga Netto nega acusações
Até o momento, dois aparelhos de celular foram apreendidos na residência de Braga Netto. O militar nega as acusações e tem afirmado que "nunca se tratou de golpe e muito menos de plano de assassinar alguém" e que "sempre primou pela correção ética e moral na busca de soluções legais e constitucionais".
Na conclusão da investigação do inquérito do golpe, a Polícia Federal afirma que o ex-ministroWalter Braga Nettotentou conseguir "informações sobre o acordo de colaboração" do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a PF, essa tentativa ocorreu por meio dos pais de Mauro Cid.
"Outros elementos de prova demonstram que Braga Netto buscou, por meio dos genitores de Mauro Cid, informações sobre o acordo de colaboração", diz o relatório final da investigação, que indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outras 35 pessoas.
Procurada, a defesa de Braga Netto ainda não se manifestou. Em ocasiões anteriores, os advogados negaram a participação dele na trama golpista.
Delação de Mauro Cid
Em uma troca de mensagens, o general Mario Fernandes, que também foi indiciado, afirma que os pais de Mauro Cid teriam ligado para Braga Netto e o também ex-ministro Augusto Heleno e dito, sobre a delação, que "é tudo mentira".
"Sobre a suposta delação premiada do CID, a Mãe e o Pai dele (CID) ligaram para o GBN e para o GH informando que é tudo mentira!!!", escreveu Fernandes para o coronel reformado Jorge Luiz Kormann.
A mensagem foi enviada no dia 12 de setembro, três dias após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar a delação de Cid.
Além disso, a PF aponta que uma operação de busca e apreensão na sede do PL encontrou um documento que seria uma espécie de "perguntas e respostas" sobre a delação de Cid. O documento estava na mesa do coronel Flávio Peregrino, assessor de Braga Netto — que, na época, ocupava um cargo no partido.
"O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general Braga Netto, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro Cesar Cid com a Polícia Federal", diz o relatório.
Em uma das perguntadas, por exemplo, foi questionado sobre "O que foi delatado" em relação ao "teor das reuniões". A resposta, em primeira pessoa, diz que "nada", porque "não entrava nas reuniões".
"O contexto do documento é grave e revela que, possivelmente, foram feitas perguntas a Mauro Cid sobre o conteúdo do acordo de colaboração realizado por este em sede policial, as quais foram respondidas pelo próprio, em vermelho", afirma a PF.