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Cadastro rural não impede desmatamento na Amazônia, diz estudo

O estudo avaliou o comportamento de mais de 49 mil propriedades e mostrou que, com o passar do tempo, elas voltaram a registrar pequenos desmatamentos

Desmatamento: o cadastro foi criado com o objetivo de ajudar a conter o desmatamento ilegal (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL/Agência Brasil)

Desmatamento: o cadastro foi criado com o objetivo de ajudar a conter o desmatamento ilegal (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de julho de 2017 às 17h25.

São Paulo - Criado com o objetivo de ajudar a conter o desmatamento ilegal, o Cadastro Ambiental Rural - ferramenta estabelecida na reforma do Código Florestal, de 2012 - pode ainda não está conseguindo entregar o que prometeu.

É o que sugere um estudo que avaliou o comportamento de mais de 49 mil propriedades no Mato Grosso e no Pará antes e depois de elas aderiram ao CAR.

A análise, feita com base nos dados de dois sistemas estaduais precursores do CAR federal - criados por MT e PA nos anos 2000 -, e com imagens de satélite, revelou que em um primeiro momento, logo após o registro, a maior parte das propriedades de fato não teve novos cortes.

Com o passar do tempo, porém, elas voltaram a registrar pequenos desmatamentos, com a confiança de que não haveria punição.

Em alguns casos, as derrubadas de mata em fazendas com o CAR chegaram a ser maiores que em propriedades que ainda não haviam aderido ao programa.

De acordo com o trabalho, liderado por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da Universidade Federal de Minas Gerais, o problema foi detectado em 10,9% dos imóveis no Mato Grosso e chegou a 48,5% no Pará.

"A expectativa era que, uma vez que entrou no CAR, o proprietário não desmataria mais, já que o sistema foi planejado para facilitar o monitoramento e trazer a possibilidade de envio de multas pelo correio. Mas como isso não ocorreu, o proprietário foi ficando à vontade", disse ao Estado o pesquisador Raoni Rajão, da UFMG.

Além de analisar as estatísticas, os autores também entrevistaram alguns fazendeiros nos dois Estados, que reforçaram essa percepção.

"Uma fala curiosa que ouvimos é que se entrar no CAR e mudar o ritmo de desmatamento, cortar só 10 hectares, ninguém vai pegar. Na cabeça dele, desmatamento é coisa de 1000 ha", complementa Rajão.

No estudo, publicado na edição desta segunda-feira, 3, da revista PNAS, os autores apontam que observações de satélite confirmam que a maior parte dos desmatamentos (63% no Pará e 51% no Mato Grosso) em áreas que tinham CAR eram menores que 10 ha.

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