Uva e limão: com acordo, uva brasileira terá acesso preferencial ao mercado europeu, com a tarifa sendo zerada imediatamente (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 06h01.
Última atualização em 17 de dezembro de 2025 às 07h18.
Se a União Europeia assinar o acordo com o Mercosul no sábado, 20, as uvas e o limão brasileiros terão vantagens no acesso ao mercado europeu.
Para Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), as mudanças previstas devem fortalecer as exportações e consolidar a competitividade do setor, especialmente diante da crescente demanda por produtos tropicais.
"O acordo é muito positivo, pois amplia o acesso do Brasil a mercados importantes e reduz tarifas para diversos produtos", afirma em entrevista à EXAME.
Mori está otimista, acreditando que, mesmo com a aprovação das salvaguardas mais rígidas pela Comissão Europeia na terça-feira, 16, a assinatura do acordo acontecerá. "Não acredito que isso vá impedir a assinatura, mas é uma preocupação", diz.
Na terça, a Comissão Europeia reforçou as medidas de salvaguarda para evitar impactos negativos no agronegócio europeu.
O novo recurso prevê monitoramento do impacto de produtos sensíveis, como carne bovina, aves e açúcar, com a possibilidade de reintrodução de tarifas se o mercado for desestabilizado.
Com isso, a Comissão Europeia poderá abrir investigações caso as importações de carne bovina ou aves do Mercosul aumentem mais de 5% em relação à média dos três anos anteriores, ou se os preços forem pelo menos 5% mais baixos do que os produtos similares da UE. A proposta original estabelecia limites de 10%.
Além disso, os legisladores europeus incluíram uma "obrigação de reciprocidade", exigindo que os países do Mercosul sigam os padrões de produção da União Europeia para acessar o mercado europeu.
As exportações agroalimentares da UE para o Mercosul devem crescer 50%, impulsionadas pela redução das tarifas sobre produtos como vinho e bebidas (até 35%), chocolate (20%) e azeite (10%), de acordo com projeções da Comissão Europeia.
Em entrevista, Mori detalha os impactos que o acordo pode ter para o agro brasileiro, as preocupações com as salvaguardas e o que está em jogo na assinatura do tratado, prevista para sábado, 20, em Foz do Iguaçu (PR).
Leia a entrevista completa:
Como a CNA recebeu a aprovação das salvaguardas pela União Europeia?
A notícia não é boa, especialmente porque estamos próximos da assinatura de um acordo negociado por tanto tempo. No entanto, é importante destacar que este regulamento aprovado não faz parte do texto do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Ou seja, essa medida não foi negociada entre os blocos, e não faz parte do que está sendo discutido para ser assinado no dia 20.
O que exatamente essa salvaguarda representa?
A salvaguarda é uma medida interna da União Europeia. Ela não faz parte do acordo com o Mercosul, mas eles a implementaram como um mecanismo de regulamentação. A salvaguarda pode ser acionada se houver um aumento significativo nas importações, mas ela não está dentro do que foi acordado. Se fosse para incluir no acordo, seríamos contra, porque o texto já foi fechado com cláusulas que respeitam os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Alguns analistas veem a salvaguarda como uma sinalização para os produtores europeus, principalmente a França e a Polônia.
Eles estão tentando acalmar seus produtores, mostrando que há um mecanismo para protegê-los em caso de impacto das importações do Mercosul. É uma maneira de amenizar a preocupação interna, mas não muda que o acordo em si não inclui essa salvaguarda.
Mas essa sinalização pode afetar a assinatura do acordo no sábado?
Não acredito que ela vá impedir a assinatura do acordo, mas é uma preocupação. O que queremos é garantir que não aceitemos um mecanismo que contrarie o que já foi acordado. O setor privado tem apoiado o acordo, buscando proteger setores sensíveis. Claro, sempre há interesses conflitantes, mas a assinatura do acordo no sábado parece ser viável, embora com cautela.
Apesar da preocupação com a salvaguarda, o que realmente está em jogo no acordo?
O que está em jogo é a alta competitividade do agro brasileiro. O Brasil tem uma produção altamente eficiente e compete diretamente com os produtores europeus. Além disso, há uma diferença de modelos de produção. A agropecuária tropical, como a nossa, é diferente da agricultura temperada da Europa. Por isso, exigir que o Mercosul adote as mesmas normas da União Europeia não faz sentido. Cada modelo tem suas particularidades, e não podemos simplesmente impor um padrão sobre o outro.
Como você vê o impacto do acordo para o agronegócio brasileiro, especialmente nas áreas de carne bovina, aves e frutas?
O Brasil negociou cotas específicas para carne bovina e aves. Para a carne bovina, conseguimos 99 mil toneladas, com uma tarifa reduzida de 7,5%. Já para aves, foram negociadas 180 mil toneladas, com tarifa zero. Quanto às frutas, várias terão benefícios tarifários, como a uva, que terá sua tarifa zerada imediatamente, e o limão, que verá uma redução gradual até zerar em 7 anos. O acordo é muito positivo, pois amplia o acesso do Brasil a mercados importantes, com uma redução tarifária significativa para diversos produtos.
Considerando as dificuldades internas na União Europeia, você acredita que o acordo será finalmente assinado no sábado?
Acredito que o acordo será assinado no sábado. Há muita pressão interna na União Europeia, mas o setor privado brasileiro está comprometido com o acordo, e as negociações avançaram muito. O que precisamos agora é garantir que as cláusulas acordadas sejam respeitadas para podermos, de fato, aproveitar os benefícios do acordo sem abrir espaço para medidas que possam prejudicar o agro brasileiro no futuro.