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Sustentabilidade é maior oportunidade para o agro desde a Revolução Industrial, diz CEO da JBS

Além de tecnologias estrangeiras, Brasil precisa apostar em inovações nacionais e que já funcionam, disseram executivos de Raízen, JBS e AgroPalma em evento

Lavoura: investimentos devem avançar com transição verde, dizem executivos (Cristiano Mariz/Exame)
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Carolina Riveira

Publicado em 29 de setembro de 2022 às 13h06.

Última atualização em 29 de setembro de 2022 às 16h41.

A transição energética e a chamada "Revolução Verde" podem gerar uma transferência de recursos inédita aos produtores e empresas do agronegócio, afirma o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, no que ele avalia como a "maior oportunidade para o agro desde a Revolução Industrial".

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"Vai ser a maior transferência de renda que vamos ter para o agro. Além da prática sustentável aumentar produção, vamos ter renda adicional que é crédito de carbono. Acho que o agro tem de abraçar a causa e acelerar esse processo, porque essa será uma grande geração de riqueza", diz Tomazoni.

Tomazoni, da JBS, Ricardo Mussa, CEO da Raízen, e Beny Fiterman, CEO da Agropalma, participaram nesta quinta-feira, 29, do AgroForum, evento do setor organizado pelo BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME ).

Etanol de segunda geração

As oportunidades da sustentabilidade para o agro são consenso entre as grandes empresas do setor, afirmaram os executivos, que apontaram que frentes como melhoria da produtividade e investimentos em negócios de fronteira trarão retornos financeiros relevantes.

Nessa linha, dentre as inovações que vêm sendo aplicadas pelas empresas na transição energética, Mussa, da Raízen, aponta que um dos destaques em tecnologias disruptivas é o "etanol de segunda geração", com melhor uso dos resíduos da cana de açúcar.

O etanol de segunda geração é visto como um "combustível avançado", altamente valorizado no exterior, diz Mussa. "A gente como setor nunca fez um bom uso de biomassa", diz. "É possível aumentar em 50% a produção de etanol sem um pé de cana a mais."

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O desenvolvimento levou nove anos, com investimentos de mais de US$ 500 milhões da Shell (que participa da joint venture da Raízen) e mais de R$ 500 milhões da própria Raízen. A tecnologia está sendo patenteada e é escalável, diz Mussa. O executivo afirma que há muita demanda para a tecnologia, e dezenas de plantas estão em negociação no exterior para destravar a produção. "Hoje o problema do Brasil não é demanda, é muito mais o nosso posicionamento e marketing brasileiro", diz.

Oportunidades do óleo de Palma

Fiterman, da Agropalma, falou também sobre as possibilidades inovadoras no uso do óleo de palma, que depende de menos área plantada do que o óleo de soja. Pelo próprio modelo do óleo de palma e boas práticas da companhia, a Agropalma já é negativa em carbono na produção, afirma o executivo, e na produção da empresa, no Pará, mais da metade da área é de floresta preservada.

O CEO afirma que o óleo de palma ainda é mais consolidado sobretudo no sudeste asiático, mas já está em milhares de produtos vendidos aos consumidores em todo o mundo. O Brasil representa 1% da produção mundial e tem potencial para crescer, diz.

Fiterman afirma que o interesse de investidores e do mercado sobre a matéria prima tem crescido como uma das alternativas à crise climática. "Estamos trazendo awareness da importância dessa matéria prima, da importância do óleo de palma", diz.

Controle da cadeia

Na busca pelas metas de carbono zero que têm permeado as grandes empresas, a JBS detalhou o desafio de reduzir emissões de metano e monitorar os fornecedores indiretos, dois dos principais gargalos do setor de pecuária.

A empresa tem feito investimento em pesquisas para redução de emissões de metano na flatulência do gado e projetos para prevenir e controlar mais rapidamente incêndios no Pantanal.

Na busca para cumprir a meta de carbono zero até 2040, a empresa também tem usado blockchain para monitorar a cadeia de fornecedores terceiros. Nos fornecedores diretos, já há esse monitoramento, com mais de 15 mil fornecedores bloqueados. Há, porém, 18 "escritórios verdes" que apoiam os fornecedores bloqueados para que se regularizem, incluindo em parceria com bancos para fazer investimentos na adequação. Dos bloqueados, 3 mil foram trazidos já de volta, com potencial de produzir 1 milhão de animais, diz Tomazoni.

"Não adianta só bloquear fornecedor. A gente não quer ficar só bonito na foto, estamos numa luta todos juntos para evitar o colapso climático global", diz.

Usar o que já existe

Além das novas tecnologias, Tomazoni acredita que o Brasil precisa usar melhor inovações que já existem, como a integração lavoura-pecuária-floresta - em que a floresta é preservada junto à plantação e a produtividade pode aumentar em cerca de 40%, diz o CEO.

"Tem coisa que não é tecnologia, é adoção", afirma. "Temos coisas que independem do futuro. Práticas que já existem aqui e agora."

Mussa, da Raízen, faz a mesma ressalva para o desenvolvimento de novos combustíveis. Ele aponta que, embora a eletrificação faça sentido para a Europa, no Brasil, o etanol pode ser um combustível de transição mais eficiente, dada a vida útil ainda baixa das baterias.

"No Brasil, dentro das prioridades, eletrificar a frota não faz sentido para [reduzir] emissões. Não quer dizer que o carro elétrico seja ruim", diz. Ele aponta que, idealmente, o carro "perfeito" passará pelo hidrogênio verde, com motor elétrico e bateria em etanol. Como essa frente ainda está em desenvolvimento no mundo, o etanol e outros biocombustíveis terão um papel crucial no Brasil na transição.

"A gente se vende muito mal. Temos um produto que é super sustentável", diz Mussa. "O Brasil tem uma posição muito única, muito distinta do que qualquer outro país."


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