EXAME Agro

Apoio:

LOGO TIM 500X313

Por que a viagem de Lula à China interessa ao agronegócio?

Retomada das exportações de carne bovina e interesse nos embarques de milho são dois exemplos da relação bilateral

Navio graneleiro no Porto Paranaguá, no Paraná (Claudio Neves/Divulgação)

Navio graneleiro no Porto Paranaguá, no Paraná (Claudio Neves/Divulgação)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 12 de abril de 2023 às 06h00.

Última atualização em 12 de abril de 2023 às 06h43.

A  China é o maior parceiro comercial do Brasil. No agronegócio, essa relação é particularmente importante: 32% dos US$ 159 bilhões exportados pelo setor no ano passado embarcaram com destino ao país asiático. O número dá o tom da importância da visita de Lula à China, incluindo a presença do ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, na comitiva. O grupo chega nesta quarta-feira, 12, com a missão de estreitar parcerias, nas quais estão incluídas relações diretas com o agronegócio.

Aliás, a viagem de Lula deveria ter acontecido em março, na semana em que os embarques de carne bovina à China foram retomados, após sanção provocada pelo caso isolado da 'doença da vaca louca'. A pecuária é apenas uma das cadeias que atende a relação bilateral.

De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária, em 2022, cinco setores do agro faturaram acima de US$ 1 bilhão, incluindo soja, setor sucroenergético, fibras e produtos florestais. A China importou do Brasil US$ 58,8 bilhões em produtos do agronegócio, montante 43,3% maior que em 2021.

Hua Chunying, diretora do Departamento de Informações do Ministério das Relações Exteriores da China, se pronunciou em rede social sobre a chegada de Lula ao país. "As interações entre China e Brasil, os dois maiores países em desenvolvimento respectivamente dos hemisférios leste e oeste, darão novos impulsos ao desenvolvimento das relações bilaterais e contribuirão para paz, estabilidade e desenvolvimento das regiões e do mundo", publicou a porta-voz.

Milho em alta

O país asiático é o maior comprador mundial de milho e a estimativa é de que os chineses importem 18 milhões de toneladas do cereal na safra vigente. A alta demanda é um dos fatores que aproxima os países, pois a produtividade do milho no Brasil tem se tornado cada vez mais relevante ano a ano.

A volumosa safra de milho estimada pela Conab em 125,8 milhões de toneladas na safra 2022/23, 11,2% maior comparada ao calendário anterior, também pode ser um impulso à parceria bilateral. Isso porque, em 2022, a China liberou a entrada de milho brasileiro, fechando dezembro com 1,165 milhão de toneladas embarcadas.

Em março, a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) já havia protocolado um ofício ao ministro Carlos Fávaro, solicitando que três temas sejam abordados com as autoridades do país: a sincronia na aprovação de eventos de Organismo Geneticamente Modificado (OGM), a abertura do mercado chinês para a exportação de sorgo e também do farelo de milho.

No documento, a entidade também falou da importância de um amplo acordo de cooperação em biotecnologia agrícola para alimentar populações em crescimento e reduzir o impacto ambiental da agricultura. 

Yuan e a nova relação de moeda

Além do maior volume de produção brasileira e alta demanda pelo milho na China, outro fator na relação bilateral pode contemplar o agronegócio: uma nova relação monetária com a moeda Yuan pode intensificar as exportações.

De acordo com a Agência Brasil, a plataforma de pagamentos China Interbank Payment System (Cips) foi confirmada, no início de abril, como primeira instituição credenciada a operar no Brasil o comércio entre os dois países em moeda chinesa, ou seja, uma transação desconsiderando o dólar. Com a oficialização da moeda chinesa como base para trocas comerciais, o cereal pode se tornar um dos produtos que tenha intensificação de exportações.

O Bank of Communications BBM disse projetar para julho o início da compensação de operações entre s nações sem o uso do dólar, sendo o Brasil o primeiro país da América Latina a ter acesso ao sistema chinês, também segundo informações da Agência Brasil.

Compromissos relacionados ao agronegócio

Ainda segundo a representante do Ministério de Relações Exteriores da China, Hua Chunying, "os dois lados trocarão profundamente impressões sobre as relações bilaterais e temas regionais e internacionais de interesse comum". Entre os compromissos, são esperados avanços para 20 acordos comerciais, além de encontros com empresários e autoridades locais e a ida à sede do Banco dos Brics, em Xangai.

"Tratativas importantes que há muitos anos a gente sonhava devem se concretizar com a presença do presidente Lula na China", disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em nota oficial do governo.

Além disso, Brasil e China devem acelerar a certificação digital para diminuir burocracias no embarque e desembarque de produtos agropecuários. Segundo Fávaro, a certificação "deve tornar o trâmite de produtos mais rápido e confiável, diminuindo a burocracia para os exportadores brasileiros".

 

Acompanhe tudo sobre:AgronegócioExame-AgroChinaSojaExportaçõesMilho

Mais de EXAME Agro

Brasil e pecuaristas rechaçam anúncio do Carrefour de não comprar carne do Mercosul

Em meio a protestos, Carrefour anuncia que não comprará carne de países do Mercosul

Brasil e China fecham acordos que podem render mais de US$ 500 milhões ao agro brasileiro

Apicultoras peruanas desafiam mudança climática com fundos da ONU