Carne suína: para 2025, a projeção aponta embarques de até 1,49 milhão de toneladas — alta de até 10% em relação ao ano anterior (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 15h03.
Última atualização em 3 de dezembro de 2025 às 15h09.
O avanço da peste suína africana (PSA) na Espanha pode abrir oportunidades para o setor de carne suína brasileiro. A avaliação é de Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Segundo ele, o país europeu, maior exportador do bloco, enfrenta hoje um dos cenários sanitários mais críticos.
“A Europa está enfrentando uma grande dificuldade, está péssima com a peste suína africana em javalis selvagens na Espanha. Alguns países suspenderam a Espanha como um todo; outros, como a China, apenas a região da Catalunha”, afirmou o presidente nesta quarta-feira, 3.
A Espanha é o maior produtor de carne suína da União Europeia e o terceiro do mundo, com vendas anuais de 8,8 bilhões de euros, segundo a agência EFE. A UE absorve quase 60% desse volume, enquanto cerca de 1 bilhão de euros segue para a China.
Inicialmente, o governo espanhol suspendeu todas as exportações de carne suína para a China, até que o país asiático confirme a implementação do protocolo assinado no início do ano, que previa restrições apenas às regiões afetadas pela doença.
Os dois javalis infectados são os primeiros registros de PSA na Espanha desde 1994. As autoridades suspeitam que o vírus tenha chegado ao país após um javali consumir alimento contaminado — possivelmente um sanduíche levado por turistas.
As estimativas da ABPA indicam que as exportações brasileiras de carne suína devem crescer até 4% em 2026, alcançando 1,55 milhão de toneladas. Para 2025, a projeção aponta embarques de até 1,49 milhão de toneladas — alta de até 10% em relação ao ano anterior.
Segundo a Embrapa, a PSA é uma doença viral altamente contagiosa, causada por um vírus de DNA da família Asfarviridae. A enfermidade afeta somente suínos domésticos e javalis, sem risco à saúde humana.
A presença do vírus em um país tem impacto imediato no comércio internacional e exige abate sanitário dos animais infectados, já que não existe vacina nem tratamento disponível.
O Brasil é considerado livre da peste suína africana desde 1984. O país é o quarto maior produtor mundial de carne suína, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
As Filipinas, hoje o maior comprador de carne suína brasileira, seguem pressionadas pela doença. O país convive com recorrências da PSA. “As Filipinas têm casos de peste suína africana, com 31 ativos neste momento. São mais de 130 casos que aconteceram durante o ano”, afirmou Santin.
O impacto na produção é profundo: antes dos surtos, o país produzia entre 1,5 milhão e 1,6 milhão de toneladas; agora, está na casa de 1 milhão. O déficit ampliou a necessidade de importação. “As Filipinas vão importar cerca de 800 mil toneladas e o Brasil tem 40% desse market share”, disse o presidente da ABPA.
De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou 322 mil toneladas de carne suína para o mercado filipino, um aumento de 56% na comparação com igual período de 2024.
No cenário global, a combinação das dificuldades sanitárias enfrentadas por concorrentes e da atuação preventiva do Brasil pode elevar o país a um novo patamar nas exportações, avalia Santin.
“É muito provável — eu posso anunciar agora, sem dados oficiais — que o Brasil este ano se transforme no terceiro maior exportador mundial de carne suína”, afirmou.
Ele compara o desempenho brasileiro ao do Canadá, que deve encerrar o ano com cerca de 1,3 milhão de toneladas exportadas, abaixo da projeção inicial. O Brasil, por sua vez, deve alcançar 1,49 milhão de toneladas.
A oferta de carne suína no país está estimada em 4,15 milhões de toneladas em 2026, avanço de até 2,2% em relação a 2025. Para este ano, a projeção é de 4,06 milhões de toneladas, um crescimento de até 2,7% frente a 2024.
Santin reforçou que o setor não “festeja desgraça alheia”, mas reconhece que o cenário internacional cria condições favoráveis ao avanço da suinocultura nacional. Segundo ele, o crescimento das vendas externas e a estabilidade sanitária refletem um esforço contínuo de prevenção.
“Isso nos dá uma visão de que podemos projetar 2026 como um ano muito positivo”, afirmou.