Ceia de natal: produção de peru caiu 63% nos últimos 10 anos no Brasil, diz ABPA
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 24 de dezembro de 2025 às 11h57.
Última atualização em 24 de dezembro de 2025 às 12h29.
As vendas no período de Natal deste ano devem movimentar R$ 85 bilhões, segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Nesse contexto, um dos momentos em que os consumidores costumam gastar é a ceia.
A ceia de Natal é um dos momentos mais aguardados pelas famílias brasileiras e, entre os pratos tradicionais, o peru assado e a uva-passa se destacam. Por trás dessa tradição, no entanto, existe um sistema complexo de produção agropecuária que garante que esses alimentos cheguem à mesa dos brasileiros no período festivo.
O peru, prato tradicional das ceias natalinas no Brasil, é originário da América. A ave (Meleagris gallopavo) tem origem no México, onde era criada e consumida por povos originários, como os astecas, segundo o The Museum of English Rural Life, instituição britânica dedicada ao registro da vida rural.
Na cultura asteca, o animal tinha papel simbólico e estava associado ao deus Chalchiutotolin, ligado a pragas e doenças. Com o tempo, o peru selvagem se espalhou para regiões próximas, passando a habitar áreas da América do Norte e da América Central, de acordo com a Animal Diversity Web, enciclopédia mantida pelo Museu de Zoologia da Universidade de Michigan.
Apesar de ser uma ave nativa da América do Norte, a criação de perus foi adaptada ao Brasil. Em 2024, o Brasil alcançou 127,36 mil toneladas de produção de carne de peru, segundo os dados mais recentes da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). As exportações somaram 64 mil toneladas no período.
Os estados do Sul e do Sudeste, como Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, concentram a produção e garantem uma oferta constante, especialmente nas festividades de fim de ano.
A criação de perus envolve uma série de etapas produtivas, que vão da reprodução ao abate e processamento das carnes, com destaque para o manejo e a alimentação balanceada. Ainda assim, a produção brasileira tem recuado nos últimos anos.
Segundo a ABPA, a produção comercial de perus no Brasil caiu 63,3% em dez anos. Em 2012, o país produzia 442 mil toneladas, volume que recuou para 162,27 mil toneladas em 2022.
A redução de quase 280 mil toneladas é atribuída a três fatores, segundo a Embrapa Aves e Suínos: maior suscetibilidade da criação de perus a doenças em comparação aos frangos, barreiras internacionais às exportações e a concorrência de carnes mais baratas, como frango e suínos.
Para Helenice Mazzucato, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, a produção nacional de carne de peru vem recuando nos últimos anos, o que reforça a necessidade de ganhos de eficiência e diferenciação.
“Esses fatores, em contrapartida, eliminam do mercado aqueles que não se adequarem à nova forma de consumir da população”, afirma no estudo Bem-estar animal na cadeia de produção de perus.
A uva-passa, outro item típico da ceia natalina, tem forte ligação com o agronegócio, mas a produção brasileira é reduzida a ponto de nem mesmo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) manter levantamentos sobre o tema.
Por questões climáticas e de mercado, a produção de uva-passa no Brasil é extremamente baixa. A uva exige muito calor no verão e frio intenso no inverno, enquanto o país tem um verão marcado por chuvas abundantes, o que dificulta o processo de secagem e torna necessária a utilização de equipamentos especiais.
Segundo a Associação Internacional da Uva e do Vinho (OIV), dos 72,6 milhões de toneladas de uvas produzidas no mundo, apenas 9% são destinadas à produção de passas, o que reduz a viabilidade do investimento em tecnologia para esse fim.
De acordo com a Embrapa, toda a uva-passa consumida no Brasil é importada de países como os Estados Unidos, onde a Califórnia responde por cerca de 50% da produção mundial, além de outros produtores relevantes, como Argentina, Chile, África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Entre janeiro e novembro de 2024, o Brasil importou mais de 20,7 mil toneladas de uva-passa, no valor de US$ 48 milhões, segundo o Mapa.
Do total importado, mais de 73% teve origem na Argentina, o que, segundo a Embrapa, se explica principalmente pela facilidade logística e pelas isenções tarifárias do Mercosul, bloco do qual os dois países fazem parte.