O salto do café conilon: produtividade cresce 135% em 8 anos e atrai indústria de solúvel para ES
Variedade corresponde a 80% da matéria-prima do café solúvel e o Espírito Santo possui 67,7% da área plantada de conilon no Brasil, fazendo campo e indústria crescerem simultaneamente
Repórter de Agro
Publicado em 19 de janeiro de 2024 às 15h17.
Última atualização em 19 de janeiro de 2024 às 15h18.
A safra brasileira de café, em 2024, está estimada em 58,08 milhões de sacas do grão, volume superior em 5,5% em relação a 2023, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A maior parte deste volume – 40,75 milhões de sacas – corresponde à variedade arábica, carro-chefe do setor cafeeiro.
Isso não significa, no entanto, que a variedade conilon esteja longe dos olhos de cafeicultores e indústrias. Além da ‘família’ do café arábica, existe o café canephora, que possui duas cultivares: robusta e conilon. Nesta cultivar, o Brasil saiu de uma produtividade de 18,8 sacas por hectare em 2016, para 41,7 sacas em 2023.
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Ao considerar a projeção de 44,3 sacas/hectares para 2024, é um salto de produtividade de 135,6% em oito anos. Segundo a Conab, a produção no ano será de aproximadamente 17,3 milhões de sacas de café conilon.
Dos 431 mil hectares plantados de conilon no país para a safra 2024, 67,7% está no Espírito Santo. É por isso que Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS) tem voltado as atenções ao estado — afinal, 80% do café solúvel é à base de conilon.
“Sendo o Espírito Santo o maior produtor, nossas atenções são maiores para o estado. O clima reduziu a expectativa de safra, mas nós imaginamos que [a produção] seja um pouco maior no Espírito Santo do que está no levantamento da Conab”, avalia Aguinaldo Lima, diretor de relações institucionais da ABICS.
Bienalidade e clima
O diagnóstico da Conab é de que o período de florada nos cafezais do Espírito Santo — de maio a agosto de 2023 — recebeu bons níveis de chuva, mas o início do desenvolvimento dos frutos foi prejudicado pela seca a partir de setembro. Em dezembro, o que começou a preocupar foram as altas temperaturas e uma exposição muito intensa da planta à luz solar. Ainda assim, a Conab avalia o momento como positivo.
“No geral, há perspectiva inicial de pequeno aumento na área em produção, na comparação com a temporada passada. Já para a condição da cultura em campo, as lavouras estão com um bom desenvolvimento vegetativo, até o momento, encontrando-se bem enfolhadas, com bom aspecto nutricional e sem sinais de infestações de pragas e doenças de maior relevância”, aponta documento da Conab, em relação à safra capixaba.
Diante do clima tão variável, o que explica o bom desempenho é o fenômeno no café conhecido como bienalidade. A cada dois anos, a planta do café aumenta e diminui a produção de grãos, como forma de ‘defesa’ para reciclar os nutrientes. Esse modus operandi da cultura perene é conhecido por toda a cadeia produtiva, que de dois em dois anos vive a bienalidade positiva, de maior produção, e negativa, de menores resultados.
De acordo com o boletim da Conab, “nos ciclos de bienalidade negativa, os produtores costumam realizar tratos culturais mais intensos nas lavouras, promovendo algum tipo de manejo em campos que só entrarão em produção nos próximos anos”.
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Após o período dedicado mais ao manejo das lavouras, como a poda, a aplicação de controle biológico e a manutenção da cobertura de solo, a recompensa são os ganhos de produtividade, como já era esperado pela indústria, segundo Aguinaldo Lima, da ABICS.
Ele também comenta que a variedade conilon é menos sensível à bienalidade, e com as mudanças do clima o café arábica tem se mostrado mais vulnerável às intempéries.
A produtividade do café arábica está estimada em 26,7 sacas por hectare, aumento de 2% em relação à safra de 2023. Já o conilon apresenta aumento de 6,2% frente à temporada passada. A estimativa considera o aumento de produtividade média nacional de 30,3 sacas por hectare em 2024, cerca de 3% maior em relação à safra anterior.
A área total destinada à cafeicultura no país em 2024, nas espécies arábica e conilon, é de 2,25 milhões de hectares, com aumento de 0,8% sobre a da safra anterior. Essa área engloba 1,92 milhão de hectares de lavouras que estão em produção, e ainda mais 336,3 mil hectares que estão em formação.
O café solúvel
Aguinaldo Lima diz que a produção do café solúvel no Brasil também tem sido ampliada. Desde 2016, a média de crescimento é de 3,9% ao ano, superior ao café torrado, que é 1,5% a.a. Em 2023, o crescimento registrado foi de 5,2% em relação ao ano anterior.
Mesmo diante do crescimento, o presidente da ABICS diz que não é possível afirmar um paralelo de redução no preço das gôndolas, porque o café é uma commodity cotada em bolsa de valores.
“As cotações da bolsa captam todas as vulnerabilidades dos países produtores, como Colômbia e Vietnã. Esse conjunto de informações dos países é que afetam o fluxo de café, e isso dá o preço nas bolsas, e o movimento dos fundos que aplicam e podem gerar especulação. Diante dessa prática internacional, não dá pra dizer que uma safra boa no Brasil virará melhores preços aos consumidores”, ele explica.
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Das 5 milhões de sacas necessárias para atender a demanda do café solúvel no Brasil, cerca de 4 milhões são de conilon. Uma das apostas da ABICS para os números continuarem crescendo juntos, no campo e na indústria, é incentivar o solúvel também para outras bebidas, como cappuccino e drinks, e também receitas.
“O Brasil é o maior produtor de café e exportador de solúvel, mas ao longo dos anos foi dando pouca atenção para o mercado interno. De cinco anos para cá, isso tem mudado nas gôndolas do supermercado e o consumidor está despertando para a praticidade de solúvel”, afirma Lima.
Na exportação, ele conta, o produto cresceu 0,4%, mas foi impactado pela guerra entre Rússia e Ucrânia. “Tivemos um crescimento significativo por três anos seguidos, mas em 2022 foi a -8%. Em 2023 crescemos um pouco, mas ainda sentimos o reflexo”, diz.