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Exportações de café caem 0,4% em 2023 e problemas logísticos derrubam receita cambial em 13%

Embora a produtividade do segundo semestre tenha equilibrado o resultado do campo, a baixa capacidade dos portos criou entraves para exportações se concretizarem

Fazenda de Café do Grupo Cedro, em Minas Gerais (Leandro Fonseca/Exame)

Fazenda de Café do Grupo Cedro, em Minas Gerais (Leandro Fonseca/Exame)

Mariana Grilli
Mariana Grilli

Repórter de Agro

Publicado em 15 de janeiro de 2024 às 19h28.

Última atualização em 15 de janeiro de 2024 às 19h45.

As exportações de café, em 2023, recuaram 0,4% em relação ao ano anterior, para 39,247 milhões de sacas de 60 quilos, segundo levantamento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgado nesta segunda-feira, 15. Embora o recuo seja avaliado como estável pela entidade, a receita advinda das vendas externas se mostrou mais impactante ao setor.

No ano passado, a receita cambial teve recuo de 13% no comparativo anual, com os embarques totalizando rendimento de US$ 8,041 bilhões em 2023. O que motivou a baixa não foi o desempenho dos cafezais, mas a logística bem distante das fazendas.

Leia também: Nem recorde nem quebra de safra: o que está acontecendo com os grãos?

O primeiro semestre do ano passado foi marcado por exportações mais contidas devido à menor disponibilidade de café após duas safras menores – 2021 e 2022 –, impactadas por adversidades climáticas. Já no segundo semestre, houve uma recuperação significativa nas lavouras, sobretudo para a variedade robusta.

Mesmo assim, isso não foi o suficiente para atender mais mercado e gerar mais receita, porque parte da produção ficou parada no porto. No ano passado, houve atraso nas embarcações de café em todos os 12 meses. Conforme boletim elaborado pela ElloX Digital em parceria com o Cecafé, somente em dezembro foram registradas alterações em 76% das escalas de navios no Porto de Santos.

“O cenário é que a cafeicultura brasileira se desenvolveu, tem volume, oferta, tem grandes embarcações, mas nosso problema está entre embarque e navegação. Se a gente não tivesse entraves ainda em dezembro, o desempenho das exportações poderia ter sido superior ao do ano anterior, e provavelmente exportaríamos até 2 milhões de sacas a mais”, afirma Márcio Ferreira, presidente do Cecafé, em coletiva de imprensa nesta segunda.

Ele conta que no Porto de Santos falta espaço para guardar os grãos até serem exportados, em decorrência do alto volume de outros grãos. O porto foi o principal local de embarque dos cafés do Brasil em 2023, com volume de 28,157 milhões de sacas, o que representa 71,7% do total.

“Vimos exportador importante, de volume substancial, que ficou com 20% ou 25% sem embarcar”, conta Ferreira.

Na sequência dos portos, aparece o complexo marítimo do Rio de Janeiro, que responde por 24,3% das exportações ao ter remetido 9,545 milhões de sacas, e o Porto de Paranaguá, no Paraná, com a exportação de 521.102 sacas e representatividade de 1,3%.

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Grãos verdes x café industrializado

A safra de 2023 foi melhor que as duas anteriores. Mesmo assim, a performance dos cafés verdes – como são chamados os grãos commodities – teve queda de 0,3% nas exportações.

Nos 12 meses do ano passado, o café arábica foi o mais exportado, com 30,818 milhões de sacas, ou 78,5% do total. O volume está abaixo dos 34,110 milhões de sacas de 2022.

Em paralelo, chama a atenção o desempenho do café canéfora – que inclui as variedades conilon e robusta –, cujo aumento foi de 212% nas exportações, em relação ao ano anterior.

“Os cafés conilon e robusta tiveram embarques que superaram 4,7 milhões de sacas, marcando o segundo melhor desempenho na história, ficando atrás somente de 2020, quando o Brasil colheu safra recorde”, diz o presidente do Cecafé.

Se a exportação de cafés verdes diminuiu, as vendas externas do café industrializado também. A categoria teve redução de 1,8% nas vendas externas, puxado principalmente pela queda de 2,8% no tipo torrado e moído. Já o café solúvel, também teve 1,8% a menos de exportações em 2023.

Principais destinos

Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés do Brasil de janeiro a dezembro do ano passado, apesar da queda de 24,2% na comparação com as aquisições realizadas em 2022. Os americanos importaram 6,067 milhões de sacas, montante que representou 15,5% dos embarques totais.

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A Alemanha, com representatividade de 12,8%, adquiriu 5,014 milhões de sacas (-26,7%) e ocupou o segundo lugar no ranking. Na sequência, vêm Itália, com a compra de 3,131 milhões de sacas (-6,8%); Japão, com 2,386 milhões de sacas (+27,4%); e Bélgica, com 2,201 milhões de sacas (-24,6%).

Para 2024

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na semana passada a estimativa para a produção agrícola de 2024, em que o café pode atingir a 58,9 milhões de sacas de 60 quilos, um aumento de 3,3% em relação a 2023.

Por um lado, o volume maior pode ser uma boa notícia para a demanda externa. Por outro, gera anseios quanto à capacidade de escoamento dos grãos.

“A solução pede um amplo debate, porque a logística não tem acompanhado o crescimento do agronegócio, o crescimento do próprio café. Isso envolve o governo brasileiro, para aumentar a capacidade portuária. Não espero solução de curto prazo, mas o Cecafé busca parcerias com terminais portuários para mitigar os riscos”, afirma Márcio Ferreira.

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