Carne bovina: o Brasil, principal fornecedor da proteína ao país asiático, ficará com a maior fatia: 41,1% ou 1,1 milhão de toneladas
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 31 de dezembro de 2025 às 08h27.
Última atualização em 31 de dezembro de 2025 às 09h06.
A China anunciou nesta quarta-feira, 31, que imporá tarifas adicionais de 55% sobre as importações de carne bovina de países como Brasil, Austrália e Estados Unidos, caso os embarques ultrapassem determinadas cotas.
Segundo o Ministério do Comércio da China (MOFCOM), a cota total para 2026 será de 2,7 milhões de toneladas. O Brasil, principal fornecedor da proteína ao país asiático, ficará com a maior fatia: 41,1% ou 1,1 milhão de toneladas.
Em seguida vêm a Argentina, com 19,0%, e o Uruguai, com 12,1%. Para a Austrália e os Estados Unidos, foram alocadas cotas de 205 mil e 164 mil toneladas, respectivamente.
De janeiro a novembro de 2025, o Brasil exportou 3,15 milhões de toneladas de carne bovina, gerando uma receita de US$ 16,18 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Desse total, 1,52 milhão de toneladas foram destinadas à China, o que representa 48,3% do volume embarcado e 49,9% da receita do setor no período.
A decisão de impor a medida de salvaguarda atendeu a uma solicitação da Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA), que representa os interesses da indústria local. A entidade argumenta que o crescimento das importações tem causado prejuízos significativos à cadeia doméstica de carne bovina, impactando diretamente sua saúde financeira.
As tarifas adicionais entrarão em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026 e serão aplicadas por um período de três anos, até 31 de dezembro de 2028, sob a forma de cotas tarifárias específicas para cada país.
Um porta-voz do Ministério do Comércio afirmou que a implementação das medidas de salvaguarda sobre a carne bovina importada procura oferecer apoio gradual à indústria nacional, ajudando-a a superar suas dificuldades — e não restringir o comércio regular do produto.
A indústria chinesa de carne bovina enfrenta forte pressão desde 2023, atribuída principalmente ao aumento das importações, não apenas do Brasil, mas também da Argentina, Uruguai e Austrália.
Criadores de gado, associações setoriais e especialistas afirmam que a presença crescente da carne estrangeira no mercado doméstico tem comprimido as margens de lucro, gerado prejuízos generalizados e ameaçado a sustentabilidade da cadeia produtiva local, segundo reportagem do jornal chinês Global Times.
Diante desse cenário, representantes do setor defendem a adoção imediata de medidas de salvaguarda até o fim de 2025, para estabilizar o mercado e proteger a renda dos produtores locais.
Segundo Liu Qiangde, vice-secretário-geral da Associação Chinesa de Agricultura Animal (CAAA), o setor de criação de bovinos acumula perdas desde 2023, na maioria em função ao crescimento das importações.
“Muitos criadores foram forçados a abater vacas reprodutoras para reduzir custos”, disse Liu em entrevista ao jornal.
Criadores relatam que, com o avanço da carne importada, os preços dos bezerros caíram, reduzindo drasticamente a rentabilidade da criação de matrizes.
Um produtor da região de Tacheng, em Xinjiang, afirmou ao jornal que, após uma breve recuperação no início de 2025, os preços voltaram a cair rapidamente, com bezerras vendidas entre 3.000 e 4.000 yuans (cerca de R$ 3 mil a R$ 4 mil).
O aumento dos custos de alimentação antes do inverno agravou ainda mais o quadro, levando muitos pecuaristas a tentar vender os animais sem sucesso, em razão dos preços baixos.
“Alguns perderam a confiança no mercado, deixaram de repor o rebanho e aceleraram a redução do plantel”, disse o produtor, defendendo a adoção urgente de medidas de proteção.
Nos últimos anos, as importações chinesas de carne bovina cresceram de forma expressiva, com alta acumulada de 73,2% entre 2019 e 2024. Nesse período, os preços da carne importada chegaram a ficar mais de 50% abaixo dos praticados no mercado interno, diz a CAAA.
Segundo a entidade, o número de vacas reprodutoras no país caiu 3% em 2024. Já as empresas de abate domésticas relataram prejuízos de 500 a 1.000 yuans (aproximadamente R$ 400 a R$ 800) por cabeça abatida.