Apoio:
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 15h57.
Os preços da cana-de-açúcar vêm registrando alta nos últimos meses e a expectativa é de que se mantenham nesse nível. "O preço nunca esteve tanto tempo acima da média. Ao mesmo tempo, não temos incentivos para investimentos", disse Rodrigo Penna de Siqueira, CFO da Jalles Machado durante o AgroForum, evento promovido pelo BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).
Apesar da valorização, as usinas estão retraídas, comercializando apenas pequenos volumes, pois aguardam preços ainda mais altos na entressafra. “Há espaços marginais para o produtor crescer. E esse mercado é aqui no Brasil”, afirmou Siqueira.
Mesmo com os preços em alta, o Brasil mantém sua competitividade no mercado global, com custos de produção mais baixos que os de países concorrentes, como França, Índia e Tailândia.
Segundo os executivos, o mercado externo continuará a desempenhar um papel importante para o setor nos próximos anos. "O cenário é muito bom e nós ainda estamos avaliando as perspectivas futuras", disse Siqueira – o açúcar brasileiro é exportado para mais de 120 países e o etanol de cana nacional chega a mais de 70 destinos no exterior, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Uma das principais commodities brasileiras, a cana-de-açúcar enfrenta um grande desafio que atende pelo nome de produtividade. Estagnada há 15 anos, segundo análises do setor, alguns fatores explicam essa situação. O vice-presidente da Adecoagro, Renato Junqueira, aponta que a cana é uma cultura semi-perene, com uma estrutura genética complexa e um plantio considerado ineficiente.
“Esse tipo de cultura exige um tempo maior para você ver os resultados. Além disso, a cana é uma planta poliploide, com uma complexidade genética maior, além da questão da propagação [da área cultivada da planta]”, disse Junqueira.
A cultura semi-perene é um termo utilizado na agricultura para descrever plantas com um ciclo de vida mais longo que o das plantas anuais.
Na avaliação de Junqueira, o setor canavieiro precisa desenvolver estratégias para superar a questão da produtividade, como tem feito a Adecoagro. A empresa tem investido em tecnologias que aumentam a produção de mudas, colheitadeiras mais eficientes, o uso de drones para controle de pragas e inteligência artificial na aplicação de herbicidas.
“Eu sou otimista com a produtividade da cana. Acho que temos espaço para superar essa estagnação. Apesar do atraso, somos otimistas no longo prazo”, afirmou Junqueira.
A estimativa de produção brasileira de cana-de-açúcar para a safra 2024/2025 é de 689,8 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), queda de 3,3% em relação à temporada 2023/24. Além disso, a Conab prevê uma queda na produtividade de 6,6%, estimada em 79.953 quilos por hectare.
Para Pierre Santoul, Diretor-Presidente da Tereos Brasil, a redução da produtividade está diretamente atrelada às mudanças climáticas. Santoul afirma que, mesmo com o uso de equipamentos e tecnologias sofisticadas para lidar com a situação, o dia a dia apresenta desafios inevitáveis.
“A realidade é que o aquecimento global tem levado o setor a enfrentar eventos climáticos cada vez mais extremos. Isso faz com que a planta leve mais tempo para se recuperar. Continuamos trabalhando da mesma forma, mas fico preocupado com o arquivo biológico da planta”, disse Santoul.