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Apicultoras peruanas desafiam mudança climática com fundos da ONU

Quinze mulheres transformaram um pequeno fundo não reembolsável em uma iniciativa modesta, mas bem-sucedida, de adaptação à crise climática

 (Hector Velasco/AFP)

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Agência de notícias

Publicado em 20 de novembro de 2024 às 13h16.

Última atualização em 20 de novembro de 2024 às 13h16.

Nas montanhas de Cajamarca, no nordeste do Peru, um viveiro salva milhões de abelhas da morte por falta de alimentos. Quinze mulheres transformaram um pequeno fundo não reembolsável em uma iniciativa modesta, mas bem-sucedida, de adaptação à crise climática.

Tudo começou em 2021, quando Karina Villalobos e suas sócias se uniram para produzir mel em pequena escala em Chilal, um povoado de 800 moradores localizado a 2.655 metros acima do nível do mar, em um ambiente desafiador.

Pouco antes, o Peru e o Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) lançaram o "Avanzar Rural", um plano destinado a pequenos produtores em áreas isoladas e vulneráveis à mudança climática.

Uma funcionária municipal então foi a Chilal para convidar mulheres e jovens a competir por um fundo não reembolsável de US$ 27 mil (R$ 148 mil na cotação atual).

Foi a primeira vez que ouviram falar no financiamento climático, tema que estará no centro das discussões na COP29, a conferência da ONU sobre o clima que ocorrerá de 11 a 22 de novembro em Baku, capital do Azerbaijão.

"Nos organizamos como uma colmeia; nos avaliaram e vencemos", conta Villalobos ao relatar o nascimento do "Hojuelas de Miel".

No caso das apicultoras, o objetivo era combater os ciclos alterados de chuva e seca que afetam a floração e a disponibilidade de néctar e pólen para as abelhas, aos quais se soma a perda de seu habitat devido ao desmatamento.

Com a ajuda, Villalobos construiu um viveiro de plantas e flores nativas mais resistentes às mudanças bruscas do clima que plantou no entorno dos apiários.

Linha de frente sem financiamento

O programa, em vigência até 2026, financiou 1.031 pequenos negócios nos últimos quatro anos e beneficiou 17.557 pessoas, com contribuições do Fida (US$ 24 milhões ou R$ 131 milhões) e do Estado (US$ 45 milhões ou R$ 246 milhões).

Cada plano recebe no máximo US$ 27 mil que devem ser executados "entre 12 e 24 meses, sob nossa supervisão e apoio", explica Susy Bengolea, coordenadora do "Avanzar Rural".

Para isso, "Hojuelas de Miel" teve que arrecadar cerca de US$ 3.800 (10% do plano de negócios) para receber 70% dos US$ 27.000 e começar a comprar equipamentos e contratar consultores técnicos, ambientais e financeiros.

Estas mulheres estão "na linha da frente da mudança climática", diz Juan Diego Ruiz, chefe do Fida para a região andina e Cone Sul.

No entanto, de "todos os fluxos internacionais de financiamento climático, estima-se que menos de 2% sejam diretamente dedicados ao trabalho com comunidades rurais, camponesas e populações indígenas", ressalta.

"Hojuelas de Miel" montou um pequeno centro de processamento em Chilal. Com a produção em alta, em 2022 houve um período chuvoso atípico que impediu as abelhas de saírem para obter seus alimentos.

Naquela época, as mulheres alimentavam as colmeias com um xarope à base de açúcar e vitaminas, enquanto no viveiro cultivavam plantas mais resistentes às mudanças bruscas do clima.

Foi assim que salvaram as colmeias e suas boas práticas permitiram-lhes receber um incentivo adicional de US$ 4 mil (R$ 22 mil) da "Avanza Rural", com a qual criaram um banco comunitário.

Atualmente, o projeto opera hoje 89 colmeias e fatura cerca de US$ 13 mil (R$ 71 mil) por ano. "Hoje somos mulheres empoderadas e resilientes", diz Karina Villalobos.

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