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Manifestantes com tratores durante um protesto de agricultores, em frente ao Ministério da Agricultura, em Madri (Valentin Bontemps/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 17h29.
Agricultores e pecuaristas espanhóis levaram seus tratores ao centro de Madri nesta quarta-feira, 21, para protestar pelas dificuldades do setor, em uma onda de indignação que percorreu vários países europeus.
Milhares de produtores, vindos de toda Espanha em convocação do sindicato União de Uniões, percorreram as ruas da capital espanhola acompanhados do som das buzinas dos tratores.
Os manifestantes chegaram aos arredores do Ministério da Agricultura em cinco colunas formadas por cem veículos com cartazes com lemas como "O mundo rural morre" e "Sem o campo, a cidade não come".
Essa manifestação, após três semanas de ações de protesto em todo o território espanhol, provocou diversos engarrafamentos e confusão com a polícia.
A mobilização dos agricultores e pecuaristas espanhóis se insere dentro de uma onda de protestos do campo em vários países europeus, com especial força na França e Alemanha.
"O que queremos é que nos escutem, que as autoridades compreendam que não podemos seguir assim", vendendo produtos a preços que "não nos permitem viver", disse à AFP José Ignacio Rojo, um manifestante de 58 anos chegado de Burgos, ao norte de Madri.
"Eu trabalho 14 horas por dia. E quando termino meus dias no campo, tenho que lidar com a papelada" pela burocracia do setor, disse esse homem que tem junto com sua filha uma fazenda de 330 hectares dedicada aos cereais e à pecuária.
Bernardino Hernández, agricultor de 70 anos, levava um cartaz em que se lia: "A burocracia arruína minha plantação".
"Só para a administração, necessitaria de uma pessoa em tempo integral, o que é impossível", afirmou esse viticultor proprietário de 40 hectares perto de Cuenca, no centro do país.
Antes tinha três empregados, mas agora resta apenas "um, por causa dos preços da uva, que afundaram durante os últimos 3 anos", disse.
Luis Cortés, coordenador nacional do União de Uniões, pediu ao governo "simplificar" os procedimentos administrativos e proteger os agricultores, muitos dos quais devem "vender com prejuízo".
Faz falta um melhor "controle de importações", disse o líder sindical, que questionou a concorrência desleal dos produtos importados de países não europeus, que deveriam estar sujeitos "às mesmas condições com as quais (...) obrigam os produtores espanhóis a produzirem".
Os agricultores também protestaram em outras regiões do país, como Múrcia e Málaga, convocados pelos três principais sindicatos de agricultores e pecuaristas: Asaja, Coag e UPA.
O ministro da Agricultura, Luis Planas, garantiu em um comunicado "o firme envolvimento do governo em dar respostas às preocupações de agricultores e pecuaristas", recordando que na semana passada apresentou um pacote de medidas de apoio ao setor após uma reunião com os sindicatos.
Na segunda-feira, o ministro novamente se comprometeu a defender em Bruxelas o estabelecimento de "cláusulas espelho", um mecanismo que obriga os produtos importados a respeitarem as mesmas normas que são exigidas dos agricultores europeus.
O movimento dos agricultores foi sentido em vários países europeus desde o início do ano, como na França, cenário de grandes manifestações no final de janeiro, ou na Grécia, onde mais de cem tratores foram colocados em frente ao Parlamento de Atenas na terça-feira.
Diante das mobilizações, que ocorrem a poucos meses das eleições europeias de junho, a Comissão Europeia fez concessões nas últimas semanas, em particular nos objetivos de reduzir o uso de pesticidas na UE.