Zika leva células do cérebro à autodestruição, diz estudo
A infecção pelo vírus da zika desencadeia nas células do cérebro humano em formação uma resposta imune que as leva à autodestruição
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2016 às 22h35.
São Paulo - A infecção pelo vírus da zika desencadeia nas células do cérebro humano em formação uma resposta imune que as leva à autodestruição.
A descoberta foi feita por cientistas da Universidade da Califórnia (UC) em San Diego (Estados Unidos) e publicada nesta sexta-feira, 6, na revista científica Cell.
De acordo com os autores do artigo, a morte das células-tronco cerebrais após a infecção é associada aos casos de microcefalia causados pelo vírus. Bloquear a resposta imune inata das células-tronco cerebrais pode ser uma alternativa para que elas sobrevivam à infecção, reduzindo a possibilidade de ocorrência da má-formação.
Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram organoides cerebrais, popularmente conhecidos como "minicérebros". Os organoides são estruturas de tecido cerebral cultivadas em laboratório para mimetizar o órgão em formação e estudar como ele reage às infecções.
Segundo os cientistas, o vírus da zika contribui para a autodestruição das células ao ativar o receptor TLR3, que desencadeia a resposta imune inata nas células cerebrais infectadas. Já se sabia que esse receptor leva as células a produzir proteínas antivirais, como uma primeira linha de defesa contra a invasão de microrganismos.
O estudante de doutorado Jason Dang, que pesquisava como o TLR3 respondia à infecção por diversos vírus, percebeu a conexão quando decidiu testar os níveis de TLR3 em minicérebros infectados por zika.
"No início não sabíamos o quanto a evidência era forte. Ficamos animados quando constatamos que, ao inibir a produção de TLR3 nos organoides cerebrais infectados com zika, a redução de suas dimensões se tornava bem menos dramática. Eu ainda não estava convencido, então usamos um produto químico para aumentar a ativação de TLR3 e observamos que o tecido cerebral começava a encolher rapidamente", disse o autor principal do estudo, Tariq Rana, da UC.
Método inovador
Estudos anteriores com minicérebros infectados por zika ajudaram a estabelecer a conexão entre a infecção viral e a morte das células-tronco neurais. O grupo liderado pelo brasileiro Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), utilizou os organoides em um estudo publicado em abril, na revista Science, para concluir que o vírus zika de fato tem capacidade para infectar e matar células cerebrais humanas.
Também em abril, um grupo da universidade americana Johns Hopkins utilizou a técnica para provar que o vírus zika tem preferência por células-tronco neurais. Agora, a equipe de Rana juntou mais uma peça ao quebra-cabeças: o papel do sistema imunológico.
A inibição do TLR3 pode ajudar os neurônios infectados com zika a sobreviver e manter suas funções, preservando também as células não infectadas. Segundo os autores, a descoberta poderá levar a alvos para o desenvolvimento de terapias.
"Há vários outros vírus que causam danos no sistema nervoso central. Agora queremos estudar todos eles para observar como se comporta a resposta imune", afirmou Rana.
São Paulo - A infecção pelo vírus da zika desencadeia nas células do cérebro humano em formação uma resposta imune que as leva à autodestruição.
A descoberta foi feita por cientistas da Universidade da Califórnia (UC) em San Diego (Estados Unidos) e publicada nesta sexta-feira, 6, na revista científica Cell.
De acordo com os autores do artigo, a morte das células-tronco cerebrais após a infecção é associada aos casos de microcefalia causados pelo vírus. Bloquear a resposta imune inata das células-tronco cerebrais pode ser uma alternativa para que elas sobrevivam à infecção, reduzindo a possibilidade de ocorrência da má-formação.
Para realizar o estudo, os pesquisadores utilizaram organoides cerebrais, popularmente conhecidos como "minicérebros". Os organoides são estruturas de tecido cerebral cultivadas em laboratório para mimetizar o órgão em formação e estudar como ele reage às infecções.
Segundo os cientistas, o vírus da zika contribui para a autodestruição das células ao ativar o receptor TLR3, que desencadeia a resposta imune inata nas células cerebrais infectadas. Já se sabia que esse receptor leva as células a produzir proteínas antivirais, como uma primeira linha de defesa contra a invasão de microrganismos.
O estudante de doutorado Jason Dang, que pesquisava como o TLR3 respondia à infecção por diversos vírus, percebeu a conexão quando decidiu testar os níveis de TLR3 em minicérebros infectados por zika.
"No início não sabíamos o quanto a evidência era forte. Ficamos animados quando constatamos que, ao inibir a produção de TLR3 nos organoides cerebrais infectados com zika, a redução de suas dimensões se tornava bem menos dramática. Eu ainda não estava convencido, então usamos um produto químico para aumentar a ativação de TLR3 e observamos que o tecido cerebral começava a encolher rapidamente", disse o autor principal do estudo, Tariq Rana, da UC.
Método inovador
Estudos anteriores com minicérebros infectados por zika ajudaram a estabelecer a conexão entre a infecção viral e a morte das células-tronco neurais. O grupo liderado pelo brasileiro Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), utilizou os organoides em um estudo publicado em abril, na revista Science, para concluir que o vírus zika de fato tem capacidade para infectar e matar células cerebrais humanas.
Também em abril, um grupo da universidade americana Johns Hopkins utilizou a técnica para provar que o vírus zika tem preferência por células-tronco neurais. Agora, a equipe de Rana juntou mais uma peça ao quebra-cabeças: o papel do sistema imunológico.
A inibição do TLR3 pode ajudar os neurônios infectados com zika a sobreviver e manter suas funções, preservando também as células não infectadas. Segundo os autores, a descoberta poderá levar a alvos para o desenvolvimento de terapias.
"Há vários outros vírus que causam danos no sistema nervoso central. Agora queremos estudar todos eles para observar como se comporta a resposta imune", afirmou Rana.