Natural Gas (Joern Pollex/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2014 às 14h13.
A Usina de Tratamento de Biogás do Aterro Dois Arcos, inaugurada hoje (4) pelo governo do Rio em São Pedro da Aldeia, em conjunto com as empresas Osafi e Ecometano, vai transformar em gás natural cerca de 600 toneladas de lixo produzidas diariamente por oito municípios da Região dos Lagos, que formam o consórcio que construiu o aterro sanitário. São eles: São Pedro da Aldeia, Búzios, Iguaba Grande, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Silva Jardim e Araruama. O projeto recebeu investimento de R$ 18 milhões.
A usina ainda não está ligada à rede da Companhia Estadual de Gás do Rio de Janeiro (CEG-Rio), e, até que o gasoduto seja construído, o biogás produzido no local será comprimido e entregue a um consumidor industrial. Também nesta fase inicial, o gás obtido vai abastecer os caminhões que fazem o recolhimento do lixo e os veículos da própria companhia, que funcionarão com gás natural veicular (GNV).
"Depois, quando o gasoduto estiver pronto - são quatro quilômetros, que devem ficar prontos entre março e abril de 2015 - este gás vai ser misturado com gás da CEG-Rio", adiantou a coordenadora do Programa Rio Capital da Energia, Maria Paula Martins. A distribuição do produto aos consumidores será feita sem custos adicionais, segundo ela. "O consumidor não vai distinguir que está consumindo uma mistura [de gás natural e biogás], nem tem mudança no preço". De início, a produção diária será de 6 mil metros cúbicos de gás e, em oito anos, deve chegar a 20 mil metros cúbicos, com produção estimada de 5 milhões de metros cúbicos de biogás purificado por ano.
Maria Paula lembrou os benefícios ao meio ambiente e disse que a usina vai evitar o lançamento na atmosfera de cerca de 470 mil toneladas de dióxido de carbono até 2020 e poderá gerar créditos de carbono, que serão emitidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). "Tem um aproveitamento nobre. O setor energético é caro, e a gente acaba usando [o lixo] de forma produtiva para a empresa", avaliou.
De acordo com o pesquisador do Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Luciano Basto, o Brasil economizaria cerca de R$ 32 bilhões por ano se reaproveitasse todo o lixo produzido. Se a contra incluir os resíduos da pecuária confinada e da agricultura, a economia ultrapassaria R$ 100 bilhões anuais.
O tratamento e destinação adequadas dos resíduos também resolvem questões sanitárias. O gás que seria naturalmente produzido e iria poluir a atmosfera é armazenado para aproveitamento energético. Na forma de gás, como produzido na Usina de Tratamento de Biogás do Aterro Dois Arcos, a utilização é bastante flexível, segundo Basto. "Pode servir para geração elétrica no local ou fora, transportado por caminhões; para fins veiculares; e até para injeção na tubulação de gás que distribui pelo estado. Aí, pode ser usado para comércio, indústria, residência", listou.
Na avaliação do pesquisador da Coppe-UFRJ, o caminho economicamente viável e ambientalmente mais adequado "é pensar na substituição de combustível veicular, porque o Brasil é importador de diesel e gasolina, que podem ser substituídos por biometano". De acordo com Batso, este gás tratado é competitivo do ponto de vista financeiro na comparação com combustíveis líquidos. "Para a balança comercial do país, pode ser muito interessante e mais vantajoso esse caminho", disse à Agência Brasil. O combate ao desperdício, por meio da substituição de combustíveis importados, seria um ganho de produtividade imediato, segundo o pesquisador.
Apesar das vantagens dos aterros, Basto destacou que, como os resíduos sólidos são um problema que a sociedade tem que resolver com urgência, é preciso buscar novas tecnologias de tratamento para substituição dos aterros, que são difíceis de licenciar. A partir daí, segundo o pesquisador, poderá haver sistemas de biodigestão que comecem tratando o lixo, mas sirvam também para os resíduos da pecuária confinada e da agricultura. "Isso se caracteriza como um mercado gigantesco no Brasil, que sempre continuará a ser produtor e exportador de produtos agropecuários", avaliou.
Editor Luana Lourenço