Spotify: revista liga empresa a oferta de dados de usuários para gravadoras (Christian Hartmann/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de julho de 2019 às 17h14.
Muita gente fica ansiosa quando um artista favorito vai lançar um disco - e para ajudar os fãs, os serviços de streaming criaram uma ferramenta que permite ao usuário "pré-baixar" as novas canções. Mas essa prática pode ter problemas: na quinta-feira, 27, a revista americana Billboard publicou reportagem dizendo que o Spotify cedeu amplo acesso a dados pessoais de usuários que optaram pelo "download prévio" para gravadoras.
Entre as informações compartilhadas pelo serviço de streaming com as empresas, estão a lista de músicas que os usuários escutam, quais artistas eles seguem e até mesmo a possibilidade de controlar remotamente que músicas eles estão ouvindo. No artigo, a revista avisa que a prática não é ilegal, mas ressalta que muitos usuários podem aderir aos termos sem exatamente ter ciência do que está acontecendo. Isso porque, para cada vez que o usuário aceita "pré-baixar" um disco, ele tem de permitir acessos específicos para que o programa possa executar a tarefa em seu celular ou computador.
Quando a Sony Music lançou o single "Bounce Back", da banda de garotas Little Mix, 17 permissões foram pedidas pela gravadora aos usuários - apenas uma delas, "acrescentar e remover itens da biblioteca do usuário" era necessária. As outras incluíam "ver os dados da sua conta no Spotify" e até "tomar ações no Spotify em seu lugar" - ou seja, podendo controlar até o que usuário está ouvindo no momento, se esse fosse o desejo da empresa.
Ela não está sozinha: a Universal, quando fez a campanha de lançamento para o recente single do DJ Tiësto, pediu 10 permissões adicionais, incluindo a data de nascimento do usuário. A Warner, por sua vez, pediu controle total às playlists privadas dos usuários para a campanha de lançamento do último disco do cantor Noel Gallagher, ex-Oasis. "São permissões além do que um consumidor razoável esperaria", disse Frank Pasquale, professor de direito da Universidade de Maryland, à revista. Procurados pela Billboard, tanto as gravadoras como o Spotify decidiram não comentar o assunto.
Na reportagem, a Billboard ressalta ainda que outros serviços de streaming não compartilham da mesma prática - o Apple Music, por exemplo, não divide dados de seus assinantes com as gravadoras, mas permite acessos específicos com clareza do que está fazendo.