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Site reúne áudio de entrevistas com 200 nomes da música

As entrevistas, que fizeram parte de um livro, estão sendo oferecidas na íntegra e gratuitamente, pelo site da biblioteca do congresso dos Estados Unidos

Ray Charles, Paul McCartney, Mick Jagger, George Harrison e Ella Fitzgerald, fazem parte dos 200 nomes históricos entrevistados por Joe Smith (Hulton Archive/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2012 às 13h42.

São Paulo - Em 1986, o então presidente da Capitol-EMI, Joe Smith, visitou John Hammond no hospital. O lendário produtor sofrera uma série de derrames e estava com os dias contados.

Smith, pressentindo o fim, perguntou-lhe por que não havia gravado depoimentos do áureo time de artistas - Billie Holliday, Count Basie, Bob Dylan, Bruce Springsteen - que havia descoberto, e com que trabalhara ao longo dos anos. Hammond não soube responder. "Ele levantou-se do leito e me disse: você tem de fazer isso por mim", lembra Smith, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

A partir de então, o executivo iniciou uma série de entrevistas com os grandes da música do século 20. Tinha acesso a todos, era benquisto pela maioria. Assim, à frente de seu gravador sentaram Ray Charles, Paul McCartney, Mick Jagger, George Harrison e Ella Fitzgerald, entre outros 200 nomes históricos.

Editadas e reduzidas, as fitas chegaram ao mercado em 1988, como parte de um livro escrito por Smith, mas logo caíram no ostracismo. Agora, estão sendo oferecidas na íntegra e gratuitamente, pelo site da biblioteca do congresso dos Estados Unidos: http://www.loc.gov/rr/record/joesmith/.

A primeira preocupação foi gravar os bandleaders da era do swing, que na época entravam em extinção. "Quis começar com Benny Goodman, mas ele morreu logo em seguida. Liguei para Artie Shaw, que topou, e por aí foi", diz Smith, presidente da Warner, da Capitol e da Elektra durante os anos 70 e 80 e famoso por assinar contratos com nomes então desconhecidos, como Jimi Hendrix, Grateful Dead e The Eagles.

Formado em Yale, ex-DJ de uma rádio de Chicago, Smith admirava a informalidade com que o historiador Studs Terkel, conhecido por seus depoimentos de cidadãos comuns, abordava entrevistas. Conduziu-as da forma mais informal possível e conseguiu montar um impressionante acervo, que até o começo de dezembro mofava em sua garagem, em Los Angeles.


Se há um aspecto em comum entre as variadas linhagens musicais, é a palpável descontração nas gravações. Os músicos conversam como se estivessem recebendo uma visita de um amigo próximo. Ray Charles faz declarações de amor a Artie Shaw. Paul McCartney pondera a combinação de gênios de sua banda. Em geral, conversam por mais de uma hora e meia, sem resguardo.

O fato de Smith não ser jornalista é a vantagem: "Eles confiavam em mim. Quando fui entrevistar Stan Getz, ele disse: não quero saber de perguntas sobre as drogas. Eu respondi que só me interessava a música", conta.

Mesmo assim, a proximidade entre Smith e seus artistas é espantosa. McCartney confessa que suas canções nunca mais alcançaram o nível das que fazia com John Lennon; Mick Jagger admite que os Stones não gravavam um bom disco há dez anos.

"James Taylor deu uma entrevista outro dia, e falou sobre a minha proximidade com os artistas. Nós - Clive Davis, David Geffen, Ahmet Ertegun - tínhamos muito respeito pelos artistas. Entendíamos que eram eles que faziam as coisas funcionarem", conta.

Mesmo tendo realizado um trabalho monumental, Smith não conseguiu entrevistar todos os nomes almejados. Uma das baixas é Sinatra, que tivera sua reputação manchada em uma biografia recente e estava ressabiado. Mas os que falaram integram uma mina de ouro para fãs, historiadores, críticos e interessados. É fantástico ouvir Ray Charles, com uma voz que parece falar em dialeto blues, conversar sobre gravações prediletas, como Wee Baby Blues, de Art Tatum e Joe Turner. Seu carinho pela música de Tatum é digno de arrepios, tal como sua veneração por seu outro ídolo, Artie Shaw.


"Ele tinha tanta alma. Em cada nota, podíamos sentir seu coração. Eu não sei por que, e não é da minha conta, mas vou te dizer: o que me machuca é que um belo dia, ele acordou e disse f...-se. Não toco mais", conta, sobre Shaw. Até a entrevista, o cantor não havia conhecido seu recluso ídolo. Joe Smith então o interrompe, e se oferece para marcar um almoço com os dois, outra das conversas históricas gravadas pelo executivo.

Esta gravação ainda não está disponível e, de acordo com a assessoria da biblioteca, será colocada à disposição gradualmente nos próximos meses. O que está no site, entretanto, é o suficiente para nos cativar. Para fãs de Beatles, o prato é cheio. George Martin, por exemplo, conta a história da ascensão dos Beatles pelo seu ângulo de produtor, descrevendo a explosão criativa, e a lapidação do formato pop que ocorreu entre os primeiros hits e Rubber Soul. Já estão também disponíveis as conversas de Smith com Burt Bacharach, Tony Bennett, David Bowie, Bo Didley e B.B. King: ícones registrados da maneira mais pura possível. As informações são do Estado de S.Paulo.

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São Paulo - Em 1986, o então presidente da Capitol-EMI, Joe Smith, visitou John Hammond no hospital. O lendário produtor sofrera uma série de derrames e estava com os dias contados.

Smith, pressentindo o fim, perguntou-lhe por que não havia gravado depoimentos do áureo time de artistas - Billie Holliday, Count Basie, Bob Dylan, Bruce Springsteen - que havia descoberto, e com que trabalhara ao longo dos anos. Hammond não soube responder. "Ele levantou-se do leito e me disse: você tem de fazer isso por mim", lembra Smith, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.

A partir de então, o executivo iniciou uma série de entrevistas com os grandes da música do século 20. Tinha acesso a todos, era benquisto pela maioria. Assim, à frente de seu gravador sentaram Ray Charles, Paul McCartney, Mick Jagger, George Harrison e Ella Fitzgerald, entre outros 200 nomes históricos.

Editadas e reduzidas, as fitas chegaram ao mercado em 1988, como parte de um livro escrito por Smith, mas logo caíram no ostracismo. Agora, estão sendo oferecidas na íntegra e gratuitamente, pelo site da biblioteca do congresso dos Estados Unidos: http://www.loc.gov/rr/record/joesmith/.

A primeira preocupação foi gravar os bandleaders da era do swing, que na época entravam em extinção. "Quis começar com Benny Goodman, mas ele morreu logo em seguida. Liguei para Artie Shaw, que topou, e por aí foi", diz Smith, presidente da Warner, da Capitol e da Elektra durante os anos 70 e 80 e famoso por assinar contratos com nomes então desconhecidos, como Jimi Hendrix, Grateful Dead e The Eagles.

Formado em Yale, ex-DJ de uma rádio de Chicago, Smith admirava a informalidade com que o historiador Studs Terkel, conhecido por seus depoimentos de cidadãos comuns, abordava entrevistas. Conduziu-as da forma mais informal possível e conseguiu montar um impressionante acervo, que até o começo de dezembro mofava em sua garagem, em Los Angeles.


Se há um aspecto em comum entre as variadas linhagens musicais, é a palpável descontração nas gravações. Os músicos conversam como se estivessem recebendo uma visita de um amigo próximo. Ray Charles faz declarações de amor a Artie Shaw. Paul McCartney pondera a combinação de gênios de sua banda. Em geral, conversam por mais de uma hora e meia, sem resguardo.

O fato de Smith não ser jornalista é a vantagem: "Eles confiavam em mim. Quando fui entrevistar Stan Getz, ele disse: não quero saber de perguntas sobre as drogas. Eu respondi que só me interessava a música", conta.

Mesmo assim, a proximidade entre Smith e seus artistas é espantosa. McCartney confessa que suas canções nunca mais alcançaram o nível das que fazia com John Lennon; Mick Jagger admite que os Stones não gravavam um bom disco há dez anos.

"James Taylor deu uma entrevista outro dia, e falou sobre a minha proximidade com os artistas. Nós - Clive Davis, David Geffen, Ahmet Ertegun - tínhamos muito respeito pelos artistas. Entendíamos que eram eles que faziam as coisas funcionarem", conta.

Mesmo tendo realizado um trabalho monumental, Smith não conseguiu entrevistar todos os nomes almejados. Uma das baixas é Sinatra, que tivera sua reputação manchada em uma biografia recente e estava ressabiado. Mas os que falaram integram uma mina de ouro para fãs, historiadores, críticos e interessados. É fantástico ouvir Ray Charles, com uma voz que parece falar em dialeto blues, conversar sobre gravações prediletas, como Wee Baby Blues, de Art Tatum e Joe Turner. Seu carinho pela música de Tatum é digno de arrepios, tal como sua veneração por seu outro ídolo, Artie Shaw.


"Ele tinha tanta alma. Em cada nota, podíamos sentir seu coração. Eu não sei por que, e não é da minha conta, mas vou te dizer: o que me machuca é que um belo dia, ele acordou e disse f...-se. Não toco mais", conta, sobre Shaw. Até a entrevista, o cantor não havia conhecido seu recluso ídolo. Joe Smith então o interrompe, e se oferece para marcar um almoço com os dois, outra das conversas históricas gravadas pelo executivo.

Esta gravação ainda não está disponível e, de acordo com a assessoria da biblioteca, será colocada à disposição gradualmente nos próximos meses. O que está no site, entretanto, é o suficiente para nos cativar. Para fãs de Beatles, o prato é cheio. George Martin, por exemplo, conta a história da ascensão dos Beatles pelo seu ângulo de produtor, descrevendo a explosão criativa, e a lapidação do formato pop que ocorreu entre os primeiros hits e Rubber Soul. Já estão também disponíveis as conversas de Smith com Burt Bacharach, Tony Bennett, David Bowie, Bo Didley e B.B. King: ícones registrados da maneira mais pura possível. As informações são do Estado de S.Paulo.

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