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Primeiro jogo criado por duas mulheres trans é lançado

UNSIGHTED, jogo de ação e aventura, estava sendo desenvolvido desde 2018

O jogo está disponível para PS4, Xbox One, Nintendo Switch e para PC (Studio Pixel Punk/Divulgação)

O jogo está disponível para PS4, Xbox One, Nintendo Switch e para PC (Studio Pixel Punk/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 17 de outubro de 2021 às 11h30.

Pensar em um ambiente mais igualitário de trabalho no mercado de games ainda é um desafio e tanto. Os últimos dados sobre o setor constam no Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, que mostra que mulheres em cargos de gestão ou de programação somam  10,8% do total nas empresas ouvidas. Mesmo dentro de um ambiente tão restrito, Tiani Pixel e Fernanda Dias, mulheres trans, conseguiram desenvolver e lançar o jogo “UNSIGHTED”, um projeto que começou em 2018.

Em uma dinâmica de ação e aventura (chamado, no jargão, de metroidvania), o game mistura androides e humanos para mostrar a trajetória da protagonista Alma, que sai em busca da companheira perdida em meio ao caos de Arcadia. Oficialmente disponível aos usuários desde 30 de setembro, o jogo já era visto como promissor e com potencial para ser um dos principais lançamentos do ano. O jogo está disponível para PS4, Xbox One, Nintendo Switch e para PC.

O game foi criado pelo estúdio independente de Tiani e Fernanda, chamado Studio Pixel Punk. Sozinhas, as duas foram as responsáveis por criar o game, que contou com o patrocínio financeiro da empresa americana Humble Games -- por questões contratuais, elas não revelam os valores envolvidos no acordo. 

“Fazer jogos é algo difícil e demorado, especialmente um com o escopo do UNSIGHTED. Pelo fato de o nosso time ser bem pequeno (apenas duas pessoas), nós tivemos que cumprir cada uma várias funções diferentes, desde funções técnicas como programação e level design, até funções administrativas, relacionadas ao gerenciamento dos nossos recursos”, diz Fernanda Dias, à EXAME. 

Por esse motivo, elas ainda estão trabalhando a todo vapor no jogo, especialmente em atualizações e suporte para os consumidores. Segundo Fernanda, por enquanto, não está nos planos desenvolver um novo jogo. 

“Esperamos que o UNSIGHTED venda bem e que continue fazendo sucesso tanto com o público quanto com a crítica especializada. Nós tínhamos expectativas bem altas para o lançamento. Algumas foram atendidas e outras não, mas esperamos que o jogo só cresça à medida que o público for descobrindo cada vez mais sobre ele”, diz Fernanda. 

Falta diversidade no setor

De todo modo, esse já é um passo importante de diversidade dentro da indústria, no mundo real. Nos games, já era possível observar personagens mais diversos: The Last of Us tem a narrativa de Lev, personagem trans que aparece em determinado momento do jogo, e em Street Fighter, o personagem Poison também é trans. 

Na vida real, garantir que mais Tianes e Fernandas apareçam ainda é um certo desafio. Um exemplo disso está no fato de que, mesmo com as mulheres representando, nacionalmente, mais de 51% dos gamers do mercado de e-sports (em smartphones), segundo pesquisa da Game Brasil 2021, atitudes como assédio e discriminação ainda não raras de serem encontradas em comentários enquanto elas jogam. Como resultado disso, uma outra pesquisa, feita pela Lenovo, mostrou que 59% das mulheres escondem o próprio gênero para evitar assédio.

E, para completar, dados de 2017 da Women in Games International apontavam que apenas 18% dos cargos de desenvolvedores de jogos eram preenchidos por mulheres -- e não por falta de mão de obra qualificada. 

Na outra ponta, grande parte do público fora do padrão “homem-cis-hétero” ainda não se vê representado em propagandas feitas dentro do setor. Segundo um estudo de diversidade na publicidade para gamers, feito pela agência Trope, 59% dos respondentes (pessoas que fogem ao padrão citado acima) afirmaram que as marcas não representam a diversidade na publicidade realizada em games.

Entre as minorias, quem mais sente que as marcas não representam a diversidade são as pessoas LGBTQIAP+ (64%), que têm o mesmo percentual das pessoas com deficiência, e  as pessoas amarelas (69%).  Ao todo, 77% dos respondentes da pesquisa consideram que homens cis são os mais usados para repesentar gamers na publicidade. 

Mudar essas situações é preciso -- e alguns passos já são dados em direção a tornar esse um espaço mais democrático. Entre essas atitudes está a criação, em 2018, de um conselho feminino para abordar a inclusão de mais pessoas no ecossistema dos games dentro da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames). Ainda neste ano, a associação deve fazer uma nova pesquisa, com o objetivo de observar um “mapa geral” da inclusão dentro do setor.

Além disso, a associação tem trabalhado para promover mais interação entre profissionais ligados à indústria -- ou que querem começar a carreira nela -- e os empregadores. 

“A maior parte do consumo de jogos no BR é feminina. É um lugar que a gente tem que ocupar também no desenvolvimento de jogos: Quanto mais pessoas trouxerem suas narrativas, melhor. E o Brasil consome jogos diversos. Mesmo que uma ou outra área disser que ‘não concorda’, de qualquer forma o consumo acontece. Por isso, acreditamos que é fundamental abrir oportunidades para que as pessoas interessadas em trabalhar na indústria encontrem oportunidades e possam começar o mais cedo possível”, diz Carolina Caravana, vice-presidente da Abragames e membro do Conselho da Diversidade.

De forma mais clara, a associação firmou recentemente uma parceria com o Sebrae, em âmbito nacional, para educar mais gestores voltados ao mercado de games. Com webinares abertos a qualquer interessado (matriculado no curso ou não), a ideia é trazer grandes empresas para ajudarem nessa educação de novos profissionais que queiram entrar para o mundo dos jogos.

Ainda de olho no apoio a profissionais independentes, a Sony lançou, no último ano, a Playstation Indies, uma iniciativa de apoio para jogos criados por novas empresas no setor. 

“Com o PlayStation Indies, esperamos destacar e apoiar os melhores jogos independentes publicados no PlayStation e a comunidade independente como um todo. Nosso objetivo é tornar o PlayStation o melhor lugar para desenvolver, encontrar e jogar ótimos jogos indie ”, disse o ex-presidente do SIE Worldwide Studios da Sony Interactive Entertainment, em comunicado.

São alguns passos rumo a tornar a indústria cada vez mais diversa. Passo a passo, a expectativa é a de enxergar mais mudanças dentro de uma indústria tão promissora. De acordo com a consultoria do setor Newzoo, o setor deve ultrapassar os 200 bilhões de dólares em receita até 2023 -- com um crescimento anual de 11%. 

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