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Pesquisadores projetam extremos climáticos no Sudeste

De acordo com pesquisadores, a tendência é o aumento generalizado dos eventos de precipitação intensa e de seca extrema em algumas regiões


	Cantareira: extremos podem estar relacionados tanto ao calor e ao frio como à ocorrência de inundações ou secas
 (Divulgação/Sabesp/Divulgação)

Cantareira: extremos podem estar relacionados tanto ao calor e ao frio como à ocorrência de inundações ou secas (Divulgação/Sabesp/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2016 às 10h04.

Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) já indicavam que uma das consequências da elevação da temperatura média global é o aumento da variabilidade climática, particularmente o aumento da frequência de extremos, relacionados tanto ao calor e ao frio como à ocorrência de inundações ou secas.

É nesse cenário que se inscreve a seca que vem ocorrendo no Sudeste brasileiro desde o início do verão de 2014 e outros extremos climáticos, eventos monitorados e estudados no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC), financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela FAPESP.

De acordo com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligados ao INCT-MC, a tendência é o aumento generalizado dos eventos de precipitação intensa e de seca extrema em algumas regiões, particularmente no Sul e no Sudeste do Brasil.

As análises foram apresentadas durante a Conferência Internacional do INCT para Mudanças Climáticas, realizada pelo Inpe e pelo Cemaden de 28 a 30 de setembro, em São Paulo (SP), com a participação de pesquisadores de algumas das 108 instituições brasileiras e estrangeiras que integram o INCT-MC.

“Cenários climáticos estão sendo produzidos para a América do Sul ao longo do século 21 e sugerem que as mudanças climáticas e seus impactos têm variação regional.

As projeções indicam que áreas do norte do continente americano experimentarão deficiência de chuvas, enquanto áreas no sudeste deverão registrar aumento”, disse Tercio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP).

Ambrizzi apresentou na ocasião a palestra “Observações e atribuição de causas da variabilidade e extremos climáticos”, apontando esforços do INCT-MC na área.

“O último relatório do IPCC indica a ocorrência inequívoca do aquecimento global e apresenta novas evidências sobre a real contribuição humana para o agravamento do efeito estufa. A detecção da mudança climática é um processo que demonstra que o clima tem mudado baseado em algum método estatístico sem, entretanto, discutir as causas desta mudança. A atribuição de justificativas da mudança climática é o processo que estabelece a mais provável causa da mudança detectada com um determinado nível de confiança”, explicou.

Em relação à seca no Sudeste, foram avaliadas pelos pesquisadores do INCT-MC as características dinâmicas e sinóticas (relacionadas à observação de fenômenos climáticos e meteorológicos de grande escala, como depressões, ciclones e anticiclones) de períodos extremos na região e sua relação com a temperatura da superfície do mar (TSM) do Atlântico Sul.

Projeções de mudanças nos ciclones extratropicais em experimentos de aquecimento global considerando vários cenários de emissões de gases do efeito estufa sugerem que as regiões de ciclogênese (onde há desenvolvimento ou fortalecimento de uma circulação ciclônica na atmosfera) próximas à costa sul do Brasil tenderão a se mover mais para o sul no período entre 2071 e 2085.

Esse resultado poderá afetar os padrões de bloqueios atmosféricos sobre os subtrópicos, as zonas da Terra imediatamente ao norte e ao sul da zona tropical, tendo o potencial de causar secas em várias regiões agrícolas do país.

“A relação dos eventos extremos secos no Sudeste do Brasil que ocorrem nas estações de outono, inverno e primavera com anomalias de temperatura da superfície do mar no Atlântico Sul ainda não é bem entendida. Dessa forma, realizou-se um trabalho de detecção em que foram determinadas datas desses eventos para cinco regiões, no período de 1982 a 2009. As características sinóticas e dinâmicas desses períodos foram investigadas por meio da análise das anomalias de TSM, das fontes de umidade, do comportamento das frentes frias na América do Sul e de outros elementos”, contou Ambrizzi.

O inverno foi a estação que registrou maior número de eventos secos, seguido do outono e da primavera. As áreas localizadas na porção norte da região Sudeste foram as que apresentaram o maior número de eventos, sendo também os mais longos, chegando a 117 dias.

Já as regiões da porção sul foram caracterizadas por menos eventos e por períodos mais curtos, de, no máximo, 30 dias. A área localizada no centro da região Sudeste se caracterizou por ser uma zona de transição.

Ainda de acordo com as pesquisas, as frentes frias tendem a ficar concentradas no sul da América do Sul.

Temas integradores

A Conferência Internacional do INCT para Mudanças Climáticas, que se encerra hoje (30/09), conta ainda com apresentações de pesquisas e projeções nas áreas de emissões de gases do efeito estufa, zonas costeiras e oceanos, desastres naturais, biodiversidade, saúde e segurança energética, hídrica e alimentar, entre outros.

“Trata-se de um ambicioso empreendimento científico criado para prover informações de alta qualidade e relevância, imprescindíveis para que o Brasil cumpra os objetivos do seu Plano Nacional sobre Mudança do Clima”, disse Carlos Afonso Nobre, coordenador do INCT-MC, na cerimônia de abertura do evento, que contou com conferência magna de Marina Silva, ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente.

Também participaram da cerimônia Ricardo Magnus Osório Galvão, diretor do Inpe; Osvaldo Luiz Leal de Moraes, diretor do Cemaden; José Antonio Marengo, chefe da Divisão de Pesquisas do Cemaden; Reynaldo Luiz Victoria, coordenador do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG); Roberto Muniz Barretto de Carvalho, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Márcio Rojas, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC); e Moacyr Cunha Araujo Filho, coordenador da Rede Clima.

Mais informações no site da FAPESP.

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