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Pedidos chineses "lotam" site da Casa Branca

Os chineses acessam o site para pedir a Barack Obama coisas tão variadas como que "envie tropas para libertar a China" ou que "regulamente a forma de preparação do tofu"

As reivindicações chinesas na página da Casa Branca também foram comentadas por jornais governistas como o "Global Times" (Sara Moses/Stock.xchng/Reprodução)
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Da Redação

Publicado em 9 de maio de 2013 às 07h47.

Pequim - O site de pedidos da Casa Branca, habitual caixa de correio de queixas da população sobre todo tipo de assunto, recebeu nesta semana uma enxurrada de solicitações de ajuda - algumas muito curiosas - da China.

A página petitions.whitehouse.gov foi "tomada" pelos usuários do país com mais internautas no mundo e se transformou, durante alguns dias, em um termômetro das inquietações sociais da China, que costumam aparecer refletidas em suas redes sociais, mas não em seus meios de comunicação convencionais.

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Movidos pelo sucesso de um desses pedidos, sobre a extradição da suspeita de um célebre crime cometido em Pequim há quase 20 anos e que alcançou mais de 130 mil assinaturas, agora os chineses acessam o site para pedir a Barack Obama coisas tão variadas como que "envie tropas para libertar a China" ou que regulamente a forma de preparação do tofu.

Em "chinglish" (inglês com erros gramaticais por influência do mandarim) ou diretamente em chinês, os cidadãos do país asiático decidiram usar o site da Casa Branca para expor suas inquietações e chegaram ao ponto de exigir que Washington ajude a mudar os exigentes exames de vestibular (gaokao) em seu país.

No site também há um pedido para que Obama se manifeste a favor dos protestos do fim de semana passado na cidade de Kunming (no sul da China) contra a construção de uma usina petroquímica, o que por enquanto recebeu o apoio de nove mil internautas.


Pedem também a "libertação" de Hong Kong, pela "mesma razão pela qual se declarou a independência" dos EUA, segundo se pode ver no site, embora este pedido e o de "libertar a China" não tenham recebido muitos apoios por enquanto (900 e 3 mil, respectivamente).

O primeiro pedido procedente da China que atraiu a imprensa foi para que os EUA deportassem uma cidadã chinesa residente no país, Sun Wei, a quem rumores apontam como culpada de um famoso envenenamento ocorrido há 18 anos em uma das universidades mais famosas de Pequim.

Trata-se do caso de Zhu Ling, que ficou incapacitada após ser envenenada em 1995 com tálio em seu dormitório da Universidade de Tsinghua, uma tentativa de assassinato que segundo o "julgamento popular" - as autoridades não condenaram ninguém - foi obra de Sun, sua companheira de quarto, jovem de uma das famílias mais influentes da cidade.

O site em inglês Offbeat China, que analisa as tendências de internet no gigante asiático, opina que a súbita aparição destes pedidos na página americana reflete uma desconfiança dos cidadãos chineses em seu governo, até o ponto de buscar o de seu "grande rival".

"O que faria se duvidasse da habilidade de seu próprio governo para responder suas necessidades? Para os sempre cínicos internautas chineses, a resposta é fácil: apelar aos EUA", refletiram os redatores de Offbeat China.


As reivindicações chinesas na página da Casa Branca também foram comentadas por jornais governistas como o "Global Times", que admite que "alguns peticionários chineses insatisfeitos com as autoridades levam seus casos a missões da ONU, embaixadas ou até meios estrangeiros".

Em abril de 2012, sem passar adiante, um dos mais célebres dissidentes chineses, o cego Chen Guangcheng, escapou de sua prisão domiciliar e viajou centenas de quilômetros até Pequim para refugiar-se na legação americana, criando uma crise diplomática que foi resolvida com a chegada de Chen aos EUA.

Meses antes, um funcionário comunista local, Wang Lijun, iniciou o maior escândalo político da China em 30 anos ao entrar em um consulado dos EUA e confessar que a esposa de seu "chefe", o carismático líder do Partido Comunista em Chongqing, Bo Xilai, tinha assassinado um empresário britânico.

O governo chinês alega perante estes casos que atende pessoas com queixas legais ou sociais com instituições oficiais como o Escritório de Cartas e Pedidos, mas em algumas ocasiões estes peticionários são detidos ilegalmente e maltratados pelas autoridades, que lhes acusam de causar "distúrbios sociais".

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