Tecnologia

O futuro do consumo nas energias renováveis

Para o CEO da consultoria britânica New Energy Finance, Michael Liebreich, energias renováveis já são viáveis em nichos, mas serão necessárias mais duas décadas para que estejam plenamente integradas aos hábitos de uso dos consumidores finais

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h24.

O uso de energias renováveis nunca foi tão debatido quanto nos últimos tempos como alternativa viável para suprir as demandas de empresas e consumidores finais do mundo todo. Os motivos principais são a aterradora perspectiva de racionamento de energia, que assombra os anos vindouros, e também as preocupações ambientais sobre as crescentes emissões de carbono. Mas mesmo diante das iniciativas mais expressivas na implantação de sistemas de energia eólica, solar e biomassa, o consumidor ainda deverá levar décadas para ver o pleno aproveitamento dessas novas tecnologias na prática, conforme detalha a EXAME o CEO da consultoria britânica de energias renováveis, Michael Liebreich.

EXAME - Muito se fala em energias renováveis, mas pouco se detalhou até agora em como torná-las economicamente viáveis. O que é fundamental nesse processo?

Michael Liebreich - Elas já são viáveis economicamente em nichos. Já é possível ver formas de energias renováveis em termos competitivos em algumas regiões e bem próximas aos consumidores. No Brasil, o exemplo maior disso é o próprio etanol. Não existe pensamento binário em bioenergia: ser viável ou não ser. A viabilidade é atingida em partes e patamares. As formas mais expressivas de realização de bioenergia estão acontecendo nos últimos dois anos.

EXAME - Quais as principais barreiras existentes para que essas formas renováveis deslanchem de vez?

Liebreich - Duas são as principais barreiras existentes hoje à bioenergia. A primeira diz respeito às regulamentações dos países, que precisam ser adaptadas para fomentar mais as energias alternativas, como legislação e preço. A segunda é que as tecnologias para viabilizar as energias renováveis demoram muito para chegar ao mercado, para ganhar escala comercial. Estamos em plena reestruturação cultural que levará pelo menos 20 anos para transformar os hábitos em relação de energia. Você pode dizer que já existem usuários finais que usam painéis solares, sim realmente existem, mas uma forma sustentável do uso dessa energia é quando ela está completamente integrada à rotina, ou em prédios inteligentes, por exemplo. Ainda existe muito a ser feito em termos de eficiência energética. Acredito que essas duas décadas serão necessárias para que essa integração seja feita. No momento em que a integração plena das energias renováveis estiver feita à rotina dos cidadãos, veremos que a conta de energia elétrica, por exemplo, será detalhada como hoje é feito com a de telefone, com a discriminação de cada serviço utilizado como SMS e as chamadas interurbanas. Isso ajudará a controlar o gasto de cada equipamento doméstico e deixará o usuário cada vez mais consciente sobre quanto desembolsa com cada coisa.

EXAME - Em curto prazo, quais as energias alternativas de maior potencial?

Liebreich - Vejo muito potencial nas hidrelétricas de pequeno porte (PCH) e eólica. No Brasil, para mim a fonte mais promissora é a biomassa, que já pode utilizar os resíduos atuais da agricultura para gerar energia. Os US$ 7,2 bilhões investidos pelos governos mundiais em pesquisa e desenvolvimento de energias alternativas em 2006 não são suficientes. O grande problema que temos visto é que as tecnologias habilitadoras dessas fontes renováveis estão demorando muito para entrar em operação. Fora isso, existe o problema de energias renováveis serem investimento de longuíssimo prazo. Se os governos não garantirem um horizonte de subsídio razoável, os investidores terão que investir por 12, 15, 17 anos sem retorno nenhum.

EXAME - Quais outras medidas o senhor julga importantes para fomentar o uso das fontes renováveis de energia?

Liebreich - Seria interessante unir incubadoras, possivelmente setor privado e setor público em uma força-tarefa para desenvolver a produção e o uso dessas energias. Hoje já existe preocupação muito maior e muito mais entendimento sobre a questão. A democracia é cruel. Troca-se o governo, troca-se o projeto de tecnologia. E não há nada que se possa fazer a respeito. As energias renováveis sofrem com isso.

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