Japonesa de 82 anos prova que nunca é tarde para criar apps
Masako Wakamiya é a criadora do programa lúdico para iPhone "Hinadan", inspirado no tradicional Festival de Bonecas Hina Matsuri
AFP
Publicado em 7 de agosto de 2017 às 18h05.
Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 18h09.
"Na primeira vez, eu me emocionei ao ver a tela funcionar com o programa que eu criei", declarou Masako Wakamiya, 82 anos, revelando uma alegria quase infantil quando fala de sua paixão pela informática.
Desde que se aposentou, esta ex-bancária se diverte com um PC e, mais recentemente, um Mac e um smartphone. A mulher que viveu nos anos 60, 70 e 80 o auge do Japão como potência tecnológica, foi este ano a participante mais veterana na conferência dos desenvolvedores da Apple.
Masako Wakamiya é a criadora do programa lúdico para iPhone "Hinadan", inspirado no tradicional Festival de Bonecas Hina Matsuri.
Todo 3 de março, os japoneses expõem em uma plataforma de vários níveis bonecas que representam os membros da corte imperial do período Heian (séculos IX a XII) em suas casas, escolas e qualquer outro lugar onde haja meninas.
O palco em forma de escada se instala dias antes de 3 de março e se desmonta nessa mesma noite porque senão, segundo a crença popular, as meninas do lugar podem ficam solteiras quando crescerem.
Em "Hinadan", o jogador tem que colocar as bonecas ("o imperador", "a imperatriz", etc.) no lugar correto. Não há limite de tempo, porque isso seria muito estressante para os idosos, explica Masako Wakamiya, ajoelhada em um tatame em frente à uma tela no seu apartamento de Fujisawa, na periferia de Tóquio.
Seu primeiro encontro com a informática foi no início dos anos 1990. "Nessa época trocava mensagens através do sistema BBS", precursor dos fóruns modernos, lembra a octogenária.
Do ábaco ao Skype
Quando se começou a desenvolver os smartphones, Masako Wakamiya pensou que não havia aplicativos suficientes para os idosos. Falou com desenvolvedores, sem sucesso. Até que um conhecido lhe perguntou: "Por que você mesma não faz isso?", conta.
A idosa, que durante décadas contou com um "soroban" (ábaco japonês), se apoiou em livros e pediu conselhos a um amigo que já tinha desenvolvido aplicativos, com quem se comunicava por Skype.
Foi tudo muito rápido. Desenvolvido entre 2016 e o início de 2017, "Hinadan" foi aceito pela Apple e lançado em fevereiro, pouco antes do Hina Matsuri.
"Escrever as linhas de código foi difícil", reconhece antes de destacar a simplicidade das ferramentas recentes, que considera "muito boas para descobrir as falhas" nos programas.
"Quando se envelhece, se perde muitas coisas: o marido, o salário, o cabelo, a visão... Há muitos 'menos'. Mas quando se aprende algo, a programar ou a tocar piano, são 'mais'. O que não sabíamos fazer até ontem, hoje dominamos. É uma motivação", se entusiasma.
Ocupada demais para envelhecer
Wakamiya acaba de voltar dos Estados Unidos e da Rússia, e se prepara para ir a uma conferência em Sapporo, no norte do Japão.
A empreendedora, cujo aplicativo foi baixado 42.000 vezes, foi a convidada especial do diretor-executivo da Apple na Conferência Mundial de Desenvolvedores que foi realizada na Califórnia no início de junho.
"Falei com Tim Cook sobre aspectos muito concretos. Ele me perguntou o que eu tinha feito para garantir que as pessoas mais velhas pudessem usar o aplicativo. Expliquei que levei em conta o fato de que os idosos perdem a audiência e a visão, e seus dedos podem não funcionar tão bem", conta.
"Ele me elogiou. Me disse que eu era uma fonte de inspiração para ele", diz com orgulho.
Em "Hinadan", as respostas geram sons muito diferentes e acompanhados na tela pelas palavras "erro" ou "certo", e não é necessário arrastar a boneca com o dedo, mas clicar no lugar escolhido.
O sucesso deu ainda mais energia a Masako-san, que prevê versões do seu aplicativo em inglês, chinês e francês. "Quero aprender as bases da programação, porque até agora só estudei os elementos necessários para criar o Hinadan".
O objetivo: "Desenvolver outros aplicativos que possam entreter os mais velhos e transmitir aos jovens a cultura e a tradição dos idosos", afirma, lamentando que sua agenda não lhe deixe muito tempo para mergulhar nos manuais de desenvolvimento que colocou ao lado do seu computador.
"Quando você termina sua vida profissional, seria bom voltar à escola. A maioria dos idosos abandonam a ideia de aprender, mas isso não é bom só para eles mas também para a economia do país", diz Wakamiya, que começou a tocar piano aos 75 anos e é membro de várias associações para promover a informática entre os idosos.
"Estou tão ocupada todos os dias que não tenho tempo para descobrir se tenho alguma doença", diz risonha.