Tecnologia

Guerra por talentos em IA: a corrida pessoal da Índia por especialistas em ciência de dados

A busca por profissionais qualificados em inteligência artificial está levando a salários mais altos e histórias de contratações extraordinárias, à medida que a demanda por talentos em IA supera a oferta

Existem cerca de 416 mil pessoas trabalhando em IA e ciência de dados no país (guirong hao/Getty Images)

Existem cerca de 416 mil pessoas trabalhando em IA e ciência de dados no país (guirong hao/Getty Images)

Bloomberg
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Agência de notícias

Publicado em 26 de maio de 2023 às 16h49.

Aditya Chopra não está em busca de um novo emprego, mas headhunters continuam ligando para ele mesmo assim. Com 36 anos, o especialista em ciência de dados atua em inteligência artificial, talvez a experiência mais cobiçada do planeta depois que a OpenAI demonstrou os avanços do ChatGPT.

Chopra, que trabalha nos arredores de Nova Deli, diz que amigos nesse campo têm conseguido aumentar os salários entre 35% e 50% cada vez que trocam de emprego. “Há uma escassez real de dados e talentos de IA”, afirma.

Contratações para inteligência artificial

A onda de contratações em inteligência artificial é vista no mundo todo, do Vale do Silício à Europa, Ásia e além. Enquanto gigantes da tecnologia como Google e Baidu oferecem pacotes de alto nível para engenheiros desenvolverem seus próprios mecanismos de IA, empresas em quase todos os outros campos — como saúde, finanças e entretenimento — também têm reforçado as contratações para evitar serem surpreendidas por mudanças em suas indústrias.

A Índia, talvez mais do que qualquer outro país, ilustra como a caça por talentos supera a oferta. O país de 1,4 bilhão de habitantes há muito tempo funciona como o back office do setor de tecnologia, uma fonte de reforço para qualquer emergência. Mas agora, mesmo a nação mais populosa do mundo enfrenta a falta de cientistas de dados, especialistas em aprendizado de máquina e engenheiros qualificados em demanda nas empresas.

Há uma “necessidade insaciável de talentos”, disse Rahul Shah, cofundador da WalkWater Talent Advisors, empresa de recrutamento com foco em profissionais de alto nível. “A IA não pode ser terceirizada, é essencial para a organização.”

As histórias de contratações beiram o absurdo

Em um processo de seleção recém-conduzido por Shah, o novo empregador mais que dobrou o salário de um candidato. Freedom Dumlao, diretor de tecnologia da Flexcar, entrevistou um engenheiro segundo o qual uma empresa rival lhe ofereceu uma motocicleta BMW como bônus de adesão. “Essa é uma linha que não me sinto confortável em abordar”, disse Dumlao.

A indústria de tecnologia da Índia foi estabelecida sobre uma oferta abundante de trabalhadores com salários acessíveis. Empresas como a Tata Consultancy Services inventaram o modelo de terceirização moderna, no qual empresas ocidentais contratam engenheiros do outro lado do mundo para suporte, serviços e software, geralmente por uma fração do custo de profissionais no mercado doméstico. Existem agora mais de cinco milhões de pessoas empregadas em serviços de tecnologia na Índia, de acordo com a associação Nasscom.

Big techs

Potências como Google, Microsoft e Amazon.com instalam suas próprias operações na Índia, contratando milhares de trabalhadores locais. O Google, agora parte da Alphabet, começou com cinco funcionários no país em 2004 e atualmente emprega cerca de 10 mil.

Mas essa oferta aparentemente infinita de mão de obra começa a se esgotar em campos críticos. Existem cerca de 416 mil pessoas trabalhando em IA e ciência de dados no país — e há demanda por outras 213 mil, segundo estimativas da Nasscom. “A proporção de cargos não preenchidos corresponde a aproximadamente 51% da atual base de talentos instalada”, afirmou a associação em relatório de fevereiro, destacando a crise como um risco para o crescimento.

É provável que a situação piore. A Índia ganhou 66 centros de inovação tecnológica, os chamados centros de capacidade global (GCCs) ou cativos, para um total de quase 1,6 mil no ano passado. Esses GCCs, que costumavam lidar com tarefas como suporte de TI e atendimento ao cliente, se transformaram em centros internos de tecnologia crítica para os negócios, como IA. Nos primeiros três meses de 2023, a gestora de ativos AllianceBernstein, a locadora de automóveis Avis Budget, o conglomerado de entretenimento Warner Bros. Discovery e a fabricante de motores de aeronaves Pratt & Whitney estabeleceram centros de P&D em Bangalore, na esteira do Goldman Sachs e Walmart.

“O ChatGPT tirou o domínio maior da inteligência artificial do modo furtivo”, disse Vikram Ahuja, cofundador da ANSR Consulting, que ajuda a desenvolver e estabelecer centros de tecnologia para empresas.

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