Falta de inovação pode ser catastrófica para o Brasil, diz especialista
O pesquisador do MIT diz temer que a crise econômica, da qual o país ainda não se recuperou, esteja prejudicando os avanços do Brasil
Lucas Agrela
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 12h03.
Última atualização em 27 de agosto de 2020 às 16h45.
São Paulo -- Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são fundamentais para que o Brasil possa ter um papel relevante nas indústrias mais promissoras do futuro, de modo a garantir o crescimento da economia e o desenvolvimento do país. Essa é a avaliação de Ezequiel Zylberberg, pesquisador do Massachusetts Institute of Technology ( MIT ), especializado em política industrial, que participou de um evento em São Paulo nesta quinta-feira (29), que discute o Futuro do Trabalho.
O pesquisador diz temer que a crise econômica, da qual o país ainda não se recuperou, esteja prejudicando os avanços do Brasil nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. Cortes promovidos pelo governo federal no Ministério de Ciência e Tecnologia, por exemplo, ameaçam deixar mais de 18 mil bolsistas do CNPq sem o pagamento das bolsas.
"Se o país quiser estar à frente, precisa ter um investimento consistente em pesquisa. Sem isso, é muito difícil ser um líder em inovação ", disse o pesquisador. "É preciso que as autoridades garantam que o país não esteja ficando para trás. Pode ser uma perda catastrófica para o Brasil."
Durante a sua palestra, o pesquisador ressaltou ainda a importância de o Brasil fazer investimentos direcionados em setores estratégicos de modo a se especializar na fabricação ou na atuação em segmentos altamente especializados.
Ele citou o exemplo de Singapura , país do sudeste asiático que investiu na produção de disco rígidos (componente que armazena arquivos e dados dos computadores) e hoje é um líder mundial nessa indústria. "Se nada é uma prioridade, fica difícil ser competitivo. É preciso ter alguma especialização", disse.
Segundo ele, é preciso ainda que haja uma maior integração das indústrias brasileiras com o mercado global, de modo que o Brasil possa desenvolver tecnologias com demanda mundial. Um é exemplo é a fabricante de aeronaves Embraer, que é hoje uma das empresas mais internacionalizadas do país. "Esses setores estratégicos precisam ser apoiados, mas de forma diferente, engajados na economia global. A Embraer é a exceção não é a regra. Se o Brasil quiser escalar, tem que olhar além (do mercado interno)", afirmou.