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200 cientistas alertam para risco de químicos do cotidiano

De panelas antiaderentes à pacotes de pipoca para microondas, compostos altamente fluorados reservam ameaças potenciais à saúde

Consenso: PFCs são persistentes no ambiente, potencialmente tóxicos e devem ser substituídos por "alternativas mais seguras" (Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Publicado em 7 de maio de 2015 às 12h09.

São Paulo - Um grupo formado por nada menos do que 200 cientistas de 38 países alerta para os riscos que substâncias químicas encontradas em produtos comuns do cotidiano representam à saúde .

São os chamados compostos perfluorados, também conhecidos como PFCs (sigla em inglês para Perfluorinated chemicals). Frutos da moderna indústria química sintética, eles são usados para fabricar artigos com características impermeabilizantes e antiaderentes.

A lista inclui utensílios de cozinha, embalagens de pipoca para microondas, tecidos e tapetes tratados para ficarem impermeáveis a líquidos e resistentes à manchas, móveis, revestimentos de papel e de cosméticos, entre outros produtos do dia a dia.

O consenso científico a respeito do tema, que já rendeu mais de uma centena de pesquisas, deu origem à Declaração de Madrid, documento publicado na revista Environmental Health Perspectives (EHP).

Segundo os cientistas, toda a classe de produtos químicos altamente fluorados são extremamente persistentes no meio ambiente, potencialmente tóxicos e devem ser substituídos por "alternativas mais seguras".

O documento apela aos governos de todo o mundo para restringir a produção e o uso destes produtos químicos, além de recomendar que os consumidores evite-os.

Por sua capacidade de "imitar" hormônios e, até mesmo, interferir na síntese destes mensageiros químicos do corpo, substâncias perfluoradas fazem parte de um grupo chamado pelos pesquisadores de "disruptores endócrinos".

Há um grande e crescente corpo de evidências que associam estes produtos químicos a um gama variada de problemas de saúde, que incluem certos tipos de câncer, impactos no desenvolvimento dos sistemas imunológico e neurológico de seres em fases de desenvolvimento, diminuição na contagem de espermatozoides, baixo peso ao nascer, entre outros problemas graves.

A exposição ocorre de múltiplas formas: através da nossa dieta, de alimentos embalados ou cozidos em materiais que contenham PFCs, da água contaminada e até mesmo pelo ar (produtos domésticos, por exemplo, podem contaminar o ar interno).

Para piorar, tais substâncias podem persistir por milhares de anos no meio ambiente, o que significa que muitas gerações futuras continuarão expostas a elas.

Fabricantes do setor químico reagiram à publicação do documento. O FluoroCouncil, um grupo global que representa as principais empresas de "fluorotecnologia"  insiste que alguns desses produtos químicos são seguros.

O grupo emitiu uma refutação ao comunicado de Madrid, dizendo que a "fluorotechnology" é uma tecnologia essencial para muitos aspectos da vida moderna e apontando para os esforços para eliminar progressivamente alguns dos produtos químicos fluorados mais prejudiciais.

São Paulo – Autismo, déficit de atenção, dislexia, paralisia cerebral...A lista de problemas neurológicos que afetam milhares de crianças em todo o mundo é tão extensa quanto as ameaças ocultas do cotidiano que podem deflagrar essas disfunções. Estudo publicado na revista científica The Lancet Neurology alerta para "epidemia silenciosa" de perturbações neurológicas infantis causadas por substâncias invisíveis presentes em roupas, móveis e brinquedos. Segundo a pesquisa, feita pela Escola de Saúde Pública de Harvard e a Escola de Medicina Monte Sinai, em Nova York, a lista de químicos que, reconhecidamente, afetam o cérebro dos pequenos duplicou nos últimos sete anos, saltando de seis para doze. São produtos químicos tóxicos que “silenciosamente corroem a inteligência, perturbam o comportamento, e minam as conquistas futuras das crianças, principalmente nos países mais pobres, que têm pouca regulamentação a respeito dessas substâncias”, avaliam os autores do texto, Philippe Grandjean e Philip J Landrigan. Eles consideram que mesmo as atuais regulamentações dos químicos são inadequadas para proteger as crianças, cujos cérebros em desenvolvimento são particularmente vulneráveis aos produtos tóxicos presentes no ambiente.
  • 2. Chumbo

    2 /14(SXC.Hu)

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    As principais formas de contaminação pelo chumbo se dão pela ingestão de alimentos ou água contaminados e por inalação de partículas de poeira da substância. A exposição ao chumbo na infância está associada ao desempenho escolar reduzido e com comportamento deliquente no futuro. Segundo o estudo, não existem níveis seguros de exposição a essa substância.
  • 3. Tolueno ou metil benzeno

    3 /14(Ian Muttoo/ Flickr.com/CC)

  • Esta substância caracteriza o que ficou popularmente conhecido no Brasil como cola de sapateiro, apesar de estar presente em outros tipos de colas, como as utilizadas na marcenaria. Ela também é usada como solvente, em pinturas, revestimentos, borrachas e resinas. A exposição materna ao tolueno tem sido associada a problemas de desenvolvimento cerebral e déficit de atenção na criança.
  • 4. Metilmercúrio

    4 /14(Getty Images)

    A exposição ao metilmercúrio, que afeta o desenvolvimento neurológico do feto, muitas vezes vem de ingestão materna de peixe que contém altos níveis de mercúrio. Segundo o estudo, a vulnerabilidade do cérebro em desenvolvimento à toxicidade do metilmercúrio é muito maior que a do cérebro adulto. Os efeitos perduram por anos. Problemas apresentados por crianças aos sete anos de idade ainda eram detectáveis com a idade de 14 anos. Outros exames em pessoas expostas no pré-natal a quantidades excessivas de metilmercúrio mostraram ativação anormal de regiões do cérebro em resposta a tarefas de estimulação sensorial e motora.
  • 5. Bifenilos policlorados – PCBs

    5 /14(GettyImages)

    Esta família de produtos químicos tem sido rotineiramente associada à função cognitiva reduzida na infância. Muitas vezes, estão presentes em alimentos, principalmente peixes, carnes e lácteos contaminados, e podem ser repassadas ao bebê pelo leite materno. Essas substâncias também são encontradas em aparelhos elétricos velhos, onde agem como isolantes térmicos.
  • 6. Éteres de difenila polibromados (PBDEs)

    6 /14(Getty Images)

    O grupo de compostos conhecidos como polibromados éteres difenil (PBDE) são amplamente utilizados como retardadores de chama, para proteger móveis, tapetes e roupas. Experimentos sugerem que os PBDEs também podem ser neurotóxicos. Estudos epidemiológicos na Europa e nos EUA têm
    mostrado déficits de desenvolvimento neurológico em crianças com aumento da exposição pré-natal a estes compostos.
  • 7. Tetracloroetileno ou percloroetileno

    7 /14(Arquivo)

    Em Massachusetts, nos Estados Unidos, uma pesquisa com crianças que foram expostas no pré-natal ao percloroetileno em água potável mostrou tendência para deficiências na função neurológica e risco aumentado de diagnósticos psiquiátricos. O tetracloroetileno é um líquido incolor e volátil à temperatura ambiente. É usado como desengraxante de peças metálicas, em lavagens a seco, na indústria têxtil, e produtos de limpeza e de borracha laminada.
  • 8. Bisfenol A ou BPA

    8 /14(Alex Silva)

    O BPA é um composto usado na fabricação de policarbonato, que é utilizado na produção da maioria dos plásticos rígidos e transparentes, e também na produção da resina epóxi, que faz parte do revestimento interno de latas que acondicionam bebidas e alimentos. Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu proibir, no Brasil, a venda de mamadeiras de plástico que tenham a substância. O BPA pode enganar o corpo e fazê-lo pensar que é hormônio real. Na literatura média, tem sido associado à diversos tipos de câncer e problemas reprodutivos, além de obesidade, puberdade precoce e doenças cardíacas.
  • 9. Clorpirifós e DDT (pesticidas)

    9 /14(Charles ORear/USDA)

    Estes inseticidas estão ligados a anormalidades no desenvolvimento neurológico em crianças. Eles são proibidos em muitas partes do mundo, mas ainda utilizados em muitos países de baixa renda. Estudos recentes também o relacionam à doença de Alzheimer. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, em 2004, a industrialização, produção, distribuição, comercialização e entrega de inseticidas de uso doméstico e em ambientes coletivos à base do princípio ativo clorpirifós. O DDT foi banido nos EUA na década de 70, mas ainda é usado em alguns países. No Brasil, o uso do DDT foi proibido em 2009.
  • 10. Fluoreto

    10 /14(Andrés Nieto/Flickr)

    Eles está presente em cremes dentais e anti-sépticos bucais para prevenir cáries, mas também é adicionado em inseticidas e venenos para ratos. Um dos usos que ganhou fama nos anos 1960 foi o de adicionar a substância em água, sob a crença de que a prática fortaleceria a saúde bucal. Mais de 27 estudos com crianças expostas a níveis elevados de flúor na água potável, principalmente da China, sugerem um decréscimo médio de QI de cerca de sete pontos.
  • 11. Ftalatos

    11 /14(SXC.Hu)

    Todo os dias, milhões de células no nosso corpo morrem, e isso é perfeitamente saudável. Estudos têm mostrado, no entanto, que químicos chamados ftalatos também podem desencadear a "sinalização da morte" em células testiculares, fazendo-as morrer mais cedo do que deveriam. Comumente usados para dar mais flexibilidade aos plásticos, os ftalatos podem ser encontrados por todos os lados – na cortina do box do chuveiro, em cabos elétricos, na cobertura do chassi do carro e nos plásticos das portas. Outros estudos ligam os ftalatos a alterações hormonais, defeitos congênitos no sistema reprodutor masculino, obesidade, diabetes e irregularidades da tireóide.
  • 12. Arsênico

    12 /14(Stock.Xchange)

    O arsênico é largamente empregado em processos de fundição de metais e na conservação de madeira. Em seu estado elementar,  é um material cinza sólido, frequentemente encontrado no meio ambiente combinado com outros elementos. Seus compostos geralmente formam um pó branco ou incolor que não tem cheiro ou sabor, o que dificulta identificação do tóxico em alimentos, na água ou na atmosfera. Exposições pré-natal e pós-natal ao arsênico em água potável contaminada estão associados com déficits cognitivos em crianças com idade escolar e risco elevado de doença neurológica durante a vida adulta.
  • 13. Manganês

    13 /14(Getty Images)

    Um estudo feito em Quebéc, no Canadá, expôs uma relação forte entre a concentração de manganês nos cabelos das crianças e hiperatividade. Pequenos em idade escolar que viviam próximo a áreas de mineração e processamento do minério demonstraram diminuição da função intelectual, deficiência em habilidades motoras e redução da função olfativa. Presente na água potável em Bangladesh, por exemplo, este produto químico, usado para fabricação de aço, tem sido associado à baixo desempenho em matemática, função intelectual diminuída e déficit de atenção.
  • 14. Ar nocivo

    14 /14(Getty Images)

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