China aposta em gelo combustível como fonte de energia do futuro
Autoridades chinesas chamaram de um grande marco para o desenvolvimento tecnológico do país esta primeira extração
EFE
Publicado em 16 de junho de 2017 às 06h32.
Pequim - A China se transformou no primeiro país capaz de extrair do fundo do mar "gelo combustível", uma matéria-prima que, segundo seus cientistas, pode ser a grande fonte de energia do futuro, ainda que outros advirtam sobre seus perigos.
As autoridades chinesas comemoram como um grande marco do desenvolvimento tecnológico do país esta primeira extração, obtida recentemente em plataformas de extração sobre águas do Mar da China Meridional próximo a Hong Kong, a 1.266 metros de profundidade.
Durante oito dias consecutivos em meados de maio, foram extraídos 8.350 metros cúbicos diários desta possível fonte de energia, que segundo o ministro de Terra e Recursos da China, Jiang Daming, "pode levar a uma revolução energética".
Após isso, o diretor de Explorações Geológicas do citado ministério, Li Jinfa, determinou que a China pode ter reservas de gelo combustível equivalentes 80 mil toneladas de petróleo, suficientes para suprir todas as necessidades energéticas do país durante quase 20 anos.
O gelo combustível é uma matéria que combina moléculas de água e gás natural e se encontra em águas marinhas em grande profundidade e também em solos congelados, como as tundras.
"É uma fonte de energia bastante limpa e é encontrada em grandes quantidades. Se a China conseguir usá-la, vai nos ajudar muito, ainda que o problema seja desenvolver a tecnologia necessária", apontou à Agência Efe o especialista Lin Boqiang, diretor do Centro para Economia Energética da Universidade de Xiamen.
No mundo todo, se forem aperfeiçoadas as técnicas de extração e de obtenção de energia - algo que poderia demorar entre 10 e 30 anos, segundo as previsões chinesas -, poderia haver reservas para garantir mil anos de consumo energético global.
Isso se deve à existência de grandes reservas de gelo combustível em todo o planeta, como a grande bolsa que se estende por oito mil quilômetros no fundo do Oceano Pacífico, entre a América Central e o Havaí.
Descoberto pela primeira vez na União Soviética nos anos 1960, esta fonte de energia tem o aspecto do gelo, mas, ao ser fundido e despressurizado, gera água e gás natural. É produzido pelas excreções de bactérias que vivem em ambientes tão difíceis para a vida como as profundidades abissais ou o permafrost (solo permanentemente congelado).
Há diferentes tipos de gelo combustível, mas o que a China conseguiu extrair é hidrato de metano, um dos mais abundantes.
China e Japão, dois países com alto consumo energético e pobre em fontes de hidrocarbonetos, foram as nações mais interessadas em desenvolver um possível uso comercial desta fonte de energia, ainda que os chineses, após 20 anos de pesquisas, pareçam liderar a corrida.
No entanto, existem muitas dúvidas e temores sobre esta possível fonte de energia, pelos possíveis danos ao meio ambiente que sua extração em grande escala poderia causar, como ocorreu com a recente "revolução" energética impulsionada pelos Estados Unidos com o uso do "fracking" para a extração de petróleo e gás.
O metano é altamente explosivo e sua extração é muito arriscada. Uma vez obtido, é um gás de efeito estufa ainda mais potente que o dióxido de carbono, o que poderia contribuir para o aquecimento global, que já afeta o planeta.
Isto poderia ser atenuado, segundo defende a China, pelo fato de que a geração de energia pela combustão de hidrato de metano produz 20% menos poluentes que o petróleo e 40% menos que o carvão, a matéria-prima que ainda é responsável por dois terços do consumo energético do país.
Tampouco é sabido se o custo de extração será baixo ao ponto de se tornar uma fonte de energia rentável, ou se operar nas grandes bolsas existentes no fundo do mar pode gerar efeitos adversos nesse frágil ecossistema, como é apontado no caso do "fracking".
Li Jinfa prometeu que a China "dará prioridade à proteção do meio ambiente" em seus estudos sobre o gelo combustível, mas apontou que as dúvidas não farão as pesquisas recuarem: haverá novas investigações em novas áreas do país e a busca por outros gelos combustíveis diferentes do hidrato de metano.
Há também a possibilidade de existir grandes reservas de gelo combustível longe da Terra, em outros planetas e asteroides, o que poderia estar por trás dos grandes interesses chineses em desenvolver em um futuro não tão distante a mineração espacial.
"Devemos explorar primeiro de maneira segura e amigável com o meio ambiente. É difícil por enquanto, e sem a tecnologia suficientemente avançada haverá poluição", advertiu Lin Boqiang.