As 5 revoluções de Steve Jobs
Produtos criados pela Apple sob o comando de Steve Jobs transformaram desde a indústria de computadores até o mercado de música
Maurício Grego
Publicado em 25 de agosto de 2011 às 18h43.
São Paulo — Numa época em que ícones da indústria de tecnologia desabam – Motorola e HP são os exemplos mais recentes – a sequência de sucessos da Apple impressiona. A empresa revolucionou o mercado pelo menos cinco vezes. Quando foram lançados, Apple II, Macintosh, iPod, iPhone e iPad causaram transformações radicais na maneira como as pessoas usam a tecnologia.
Esses cinco produtos foram criados quando Steve Jobs tinha papel preponderante na Apple. Os últimos três, em particular, parecem ser obra da liderança obstinada que ele exerceu em sua segunda temporada na companhia, de 1997 até sua renúncia, nesta semana. A década em que esteve ausente, de 1985 a 1996, foi bastante menos brilhante para a empresa. Vejamos alguns detalhes sobre as cinco revoluções de Steve Jobs.
1977 – O Apple II inaugura a computação pessoal
Steve Wozniak era o nerd que construiu o Apple I, um embrião de computador. Steve Jobs era o tipo obsessivo que levava as ideias adiante quando seu sócio vacilava. Também tinha um lado artista, origem do design primoroso que a Apple desenvolveria ao longo dos anos. A união de duas pessoas tão diferentes deu origem à empresa e ao pioneiro computador Apple II, que inaugurou a era da computação pessoal.
Como sabemos, na metade dos anos 70, os computadores, enormes, ficavam em grandes salas refrigeradas, onde eram operados por especialistas de jaleco branco. O único modelo que podia ser chamado de pessoal era o Mits Altair, para o qual Bill Gates criou seu primeiro software comercial (uma ferramenta de programação). Mas o Altair era vendido desmontado, contava apenas com um mostrador numérico para exibir informações e não tinha aplicativos. Em resumo, não tinha muita utilidade.
Assim, o Apple II, projeto de Woz que Jobs transformou em sucesso comercial, foi o primeiro computador pessoal completo e realmente funcional. Ele logo teve a concorrência de outros, como o Radio Shack TRS-80 e o Commodore PET. Mas o Apple II exibia gráficos coloridos, algo que os outros não faziam. E a Apple assumiu a liderança desse mercado nascente.
O vento virou de vez a favor da Apple em 1979, quando Dan Bricklin inventou a planilha Visicalc, bisavó do Microsoft Excel. O Visicalc fez com que o Apple II – visto, no início, como brinquedo ou ferramenta didática – passasse a ser usado também em empresas. Pela primeira vez, qualquer pessoa poderia ter seu próprio computador. E as empresas podiam fazer seus cálculos sobre a mesa de trabalho, sem interferência da turma do jaleco branco.
1984 – O Macintosh populariza o mouse
Uma mudança radical na maneira de usar um computador começou a acontecer em 24 de janeiro de 1984, quando Steve Jobs apresentou o Macintosh numa reunião de acionistas da Apple. Em lugar de comandos em forma de texto, as pessoas passariam a usar um mouse para controlar o computador. Aplicações relacionadas com fotos, ilustrações e gráficos tornaram-se possíveis. Foi a segunda revolução de Steve Jobs.
A interface gráfica foi inventada nos anos 70 pela Xerox, que não conseguiu transformá-la em produto comercial. Em 1979, Jobs e sua turma fizeram uma visita à empresa, observaram tudo atentamente e, de volta à Apple, trataram de recriar o que haviam visto. A primeira tentativa resultou no Lisa (nome da primeira filha de Jobs), que custava 10 mil dólares e fracassou comercialmente.
Em outro canto da Apple, o matemático Jeff Raskin já trabalhava num projeto paralelo, o Macintosh (nome de uma variedade de maçãs). Jobs assumiu, então, a liderança desse grupo. Foi sob seu comando que foi criado o antológico anúncio de TV que apresentou o Mac em 1984. Produzido pelo cineasta Ridley Scott a um custo de 1,5 milhão de dólares, o filme fazia referência à obra de George Orwell. Nele, uma garota de shortinho jogava um martelo no “grande irmão” que representava a IBM.
O Mac ganharia impulso em 1985, quando a Apple apresentou sua impressora LaserWriter e o primeiro aplicativo de editoração para computador pessoal, o MacPublisher. Nesse mesmo ano, a Aldus lançou o PageMaker, programa que transformou o Macintosh em ferramenta profissional para a elaboração de publicações. O PageMaker foi, para o Macintosh, o que o Visicalc havia sido para o Apple II.
2001 – O iPod reinventa a música
Em 2000, Steve Jobs encarregou o engenheiro Jon Rubinstein (que, anos depois, seria CEO da Palm) de desenvolver um player de música de bolso, o iPod. Alguns aparelhos da época usavam CDs para armazenar as músicas e eram grandes demais. Outros guardavam os arquivos em chips de memória e tinham capacidade para um ou dois álbuns apenas.
A inexistência de uma modelo pequeno com grande capacidade era frustrante. Além disso, esses tocadores eram alvo de processos judiciais das gravadoras, que acusavam os fabricantes de estimular a pirataria. O iPod e a loja iTunes mudariam tudo isso, iniciando uma revolução no mercado de música.
Rubinstein encontrou a solução para o armazenamento das músicas num laboratório da Toshiba. Os japoneses haviam criado um disco magnético minúsculo e sua primeira grande encomenda veio da Apple. O primeiro iPod, lançado em 2001, tinha capacidade para mais de 1.000 músicas, algo inédito na época. Sua interface com o usuário, baseada no botão circular Click Wheel, foi outra inovação significativa.
Outra grande façanha de Jobs veio em 2003, com a criação da loja iTunes. Ele conseguiu convencer as gravadoras a oferecer músicas para venda por download, ainda que com um sistema que evita cópias não autorizadas. A Apple tornou-se líder em venda de músicas, posto que ainda mantém. Hoje, a loja iTunes foi levada a 24 países (mas o Brasil não está entre eles) e vende também filmes. E cerca de 300 milhões de iPods já foram vendidos, mudando a maneira de ouvir música de milhões de pessoas.
2007 – O iPhone eleva o QI dos smartphones
Steve Jobs iniciou sua quarta revolução em 2007, quando o iPhone sacudiu o mercado de smartphones. Antes dele, esses celulares dependiam de uma canetinha para ser comandados pela tela sensível ao toque, ou de um teclado físico.
Antes do iPhone, eram raros os usuários que instalavam muitos aplicativos no smartphone, já que era preciso caçá-los nos sites dos produtores. Com a App Store, inaugurada em 2008, a Apple passou a selecionar e vender os aplicativos. Isso trouxe confiança e conveniência aos usuários, que começaram a baixar os programinhas em quantidade.
O sucesso da iniciativa atraiu mais e mais desenvolvedores. Em julho deste ano, a loja passou a marca de 500 mil aplicativos disponíveis e a de 15 bilhões de downloads realizados. O iPhone tornou-se o smartphone mais vendido no mundo, com 18% de participação no mercado, segundo os números mais recentes do Gartner Group.
2010 – O tablet vira realidade com o iPad
O iPad foi antecipado por muita gente e, mesmo assim, surpreendeu a quase todos quando foi apresentado por Steve Jobs, em fevereiro de 2010. A ideia de um computador em forma de livro ou prancheta é até anterior à dos PCs e telefones celulares. Já em 1969, o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço mostrava dois astronautas usando aparelhos de aparência idêntica à dos tablets atuais.
Muitas empresas tentaram tornar realidade essa visão. Mas a Apple foi a primeira a obter sucesso. Ela já contava com a App Store e suas centenas de milhares de aplicativos, e com o bem elaborado sistema operacional do iPhone, o iOS, que foi modificado para trabalhar numa tela maior. Um projeto cuidadoso e a disponibilidade de componentes miniaturizados permitiram construir um tablet fino, leve e capaz de funcionar muitas horas com uma carga da bateria.
O sucesso foi imediato e até hoje não foi igualado por outros fabricantes. Calcula-se que, neste ano, serão vendidos 60 milhões de tablets no mundo. É um número notável para uma categoria de produtos que nem existia há um ano e meio. Desse total, 44 milhões serão iPads. É a quinta revolução de Steve Jobs.