Agora eu tenho PDA
Nos anos 70, comprei uma calculadora paraguaia. Agora, entrei para o grupo dos viciados em palms
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h22.
De repente estou numa rua suja de Assunción, Paraguay, no fim dos anos 70. Camelôs berram por todos os lados. Estou hospedado com meu amigo Delca no hotel Guarany, com suas baratas quatro-estrelas. Desempregado. Duro. Passando aperto. Na coleção de pontos baixos da minha vida, estou batendo um recorde. Meu dinheiro dá para comprar um rádio de ondas cortas.
E também uma calculadera Canon, garantizada. No te preocupes. La mercadoria és de la mejor calidad.
Eu de calduladera nueva, calculando meu dinheiro. Algo que podia ser feito de cabeça. O que mais vou calcular? Meu amigo Delca sugere um cálculo empírico de quanto esperma é produzido por minuto. Não havia dígitos suficientes para tanta bobagem na minha Canon de visor azul nem dados suficientes em meu cérebro para entender que um camelô paraguaio tinha me vendido o meu primeiro computador de bolso.
Cheguei atrasado porque só agora entrei para o clube dos viciados em PDAs. Comprei meu primeiro Palm. Só pelas calculadoras que instalei -- de graça -- no meu modesto m100, aquela Canon pode se orgulhar de seu distante pioneirismo. Instalei uma calculadora científica, ainda que não me lembre o que significa tangente ou co-seno. Outra só para cotações de moedas. Duas para conversões de medidas. E tem as calculadoras de tempo. Acabei de baixar o programa City Time (por 15 dólares), que dá a distância entre dois pontos no globo, o tempo que demora para ir de um para o outro e o horário em que o sol nasce e se põe em 600 cidades. Só falei de calculadoras até agora. Mal arranhei os recursos neste micromini computador de 2 MB. Muito já foi escrito que às vezes um desktop é um Boeing que você usa para ir até a padaria da esquina. Recursos que você não usa, poderes que nunca são necessários. Um laptop não é um Boeing, mas um Learjet. E, quando estamos na rua querendo converter o preço de um lanche ou anotar o telefone de um amigo, temos de abrir o laptop, ligar, esperar uns três ou quatro minutos... Não, PDAs não vão substituir PCs. Mas a cada dia que passa (e a cada programinha que lançam) essas pequenas maravilhas nos mostram que computadores são frankensteins desajeitados, dinossauros cheios de boas intenções que continuam não sabendo se reinventar. Teve gente que já previu que não teremos mais computadores, apenas terminais leves e práticos de uma grande rede. Nesse dia a gente não teria de procurar um técnico de madrugada porque um arquivo DLL se corrompeu e travou todo o sistema. Como tantas profecias, isso pode acontecer ou não. Um PDA não é uma profecia. Ele está no bolso, prático, simples, disponível ao toque da canetinha. Ninguém vai escrever a grande obra de sua vida num palmtop.
Ou gerenciar as finanças de uma multinacional. Mas um bom PDA, bem equipado, pode nos livrar de algumas das grandes ansiedades criadas nessa era do onipresente computador. E responder a perguntas fundamentais para a humanidade. Como: quanto esperma é produzido por dia pelos homens do planeta?