28 sinais de que o Planeta está em perigo e precisa de ajuda
Águas contaminadas, ar poluído, solo degradado, desequilíbrio ecológico, clima em transe...Os alertas são claros: o mundo agoniza e nós também
Vanessa Barbosa
Publicado em 5 de junho de 2014 às 09h14.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h52.
Este 5 de junho é Dia Mundial do Meio Ambiente. Para nós, urbanoides, pode parecer algo distante e vago. Há tempos, a humanidade se distanciou da natureza a ponto de se julgar um ser autossuficiente e independente do meio ambiente. Mas o ritmo das transformações pelas quais o mundo vem passando está se acelerando e seria um perigo ignorar isso. É preciso resgatar o elo perdido e reconhecer que todos enfrentamos os mesmos desafios e estamos conectados e unidos por um objetivo comum de uma vida próspera e sustentável no planeta. "A Terra é a ilha compartilhada por todos nós. Devemos nos unir para protegê-la", disse o Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, no lançamento da campanha. Conheça nos próximos slides alguns dos sinais de que o planeta está passando por maus bocados e de que a humanidade pode ser tão culpada quanto vítima dessa transição.
Treze dos 14 anos mais quentes já registrados na história ocorreram no século 21. O ano de 2013 foi o sexto mais quente desde que os registros modernos começaram em 1850, segundo os dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os recordes anuais são de 2010 e de 2005, com temperaturas globais cerca de 0,55° C acima da média. O balanço da OMM confirma a tendência de aquecimento global de longo prazo, com temperaturas médias elevadas.
A degradação e a desertificação ameaçam as terras férteis do mundo, com consequências alarmantes: insegurança alimentar, pobreza, escassez hídrica e maior vulnerabilidade às mudanças do clima. Segundo a ONU, 24% das terras produtivas do mundo estão degradadas, enquanto 168 países sofrem com a desertificação.
Atualmente, existem cerca de 500 zonas mortas no mundo, que cobrem mais de 245 mil quilômetros quadrados, quase a superfície inteira do Reino Unido. São zonas litorâneas onde a vida marinha foi praticamente sufocada pela poluição.
A poluição do ar nas grandes cidades tem alcançado níveis nada seguros para a saúde humana. Apenas 12% de todas as pessoas do planeta respiram um ar de boa qualidade, segundo estudo recente da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, a concentração média de poluentes em suspensão no ar é de 40 microgramas por metro cúbico (mg/m³), o dobro do nível considerado seguro.
A cada 20 segundos, uma criança morre de doenças diarreicas, em grande parte evitáveis por meio de saneamento adequado, melhor higiene e acesso à água segura. Todos os anos, 3,5 milhões de pessoas morrem no mundo por problemas relacionados ao fornecimento inadequado da água, à falta de saneamento e ausência de políticas de higiene, segundo a ONU.
Em meio à poluição atmosférica que assola a China, o país enfrenta outra crise ambiental silenciosa e, muitas vezes, invisível: a contaminação das águas subterrâneas. Quase 60% delas estão poluídas, segundo estudo estatal divulgado pela agência Xinhua. A qualidade da água subterrânea foi classificada como "relativamente pobre" em 43,9% das regiões analisadas e "muito ruim" em outras 15,7%.
Os recursos hídricos estão sob pressão para atender a crescente demanda global por energia. No total, a produção de energia é responsável por 15% de retirada de água do Planeta. Mas esse número está aumentando e, em 2035, o crescimento populacional, a urbanização e o aumento do consumo prometem empurrar o consumo de água para geração de energia até 20%. Recursos hídricos em declínio já estão afetando muitas partes do mundo e 20% de todos os aquíferos já são considerados sobreexplorados.
Pela primeira vez, a concentração mensal de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera superou o nível de 400 partes por milhão (ppm), no mês de abril, em todo o hemisfério norte, segundo dados da Organização Mundial de Meteorologia (OMM). Este limiar é de importância simbólica e científica e reforça a evidência de que a queima de combustíveis fósseis e outras atividades humanas poluentes são responsáveis pelo contínuo aumento de gases do efeito estufa, vilões do aquecimento global.
Eventos extremos, como secas e cheias, se mostram cada vez mais recorrentes e violentos, quebrando todos os recordes. Há um ano, a Europa central enfrentava a pior cheia de sua história, enquanto o Nordeste brasileiro sofria com a pior seca em mais de meio século. Neste ano, a cheia do século castigou Sérvia e Bósnia, e por aqui, o Rio Madeira atingiu seu maior nível em décadas.
Os países ricos e emergentes acumulam nada menos do que US$ 1,5 trilhão em perdas econômicas e danos provocados por desastres naturais na última década, segundo um relatório da OCDE. Sem uma ação imediata, estes custos podem subir ainda mais devido às mudanças climáticas. Para reduzir as perdas no futuro, os países precisam investir em resiliência e aumentar sua capacidade de resistir a choques e estresses.
Um estudo feito pelo Grupo Internacional de Consulta em Pesquisa Agrícola (CGIAR, na sigla em inglês) para as Nações Unidas sugere que o aquecimento global pode comprometer, até 2050, cerca de 20% da produção trigo, arroz e milho as três commodities agrícolas mais importantes e que estão na base de metade das calorias consumidas por um ser humano.
A escalada dos preços dos alimentos é uma questão de vida e morte para as populações que vivem em países em desenvolvimento e que gastam até 75% de sua renda para conseguir comer. Como se não bastasse, os mais pobres também são os mais afetados pelos extremos do clima, uma vez que seus países estão menos preparados para lidar com essas alterações.
Um terço dos alimentos produzidos no mundo não são consumidos, o que se traduz no desperdício de até 2 bilhões de toneladas de comida por ano. Segundo o relatório "Global Food; Waste not, Want not", o desperdício é fruto de condições inadequadas de armazenamento e transporte, adoção de prazos de validade curtos, ou compra excessiva por parte dos consumidores. Outro problema é a preferência dos supermercados por alimentos perfeitos em termos de formato, cor e tamanho.
O acesso fácil às tecnologias modernas tem um efeito colateral difícil de se digerir. Anualmente, segundo dados da ONU, o mundo gera em média 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. A maior parte vem de países emergentes, como o Brasil, que ainda não possuem sistema de gestão eficiente para lidar com esse tipo de material. Artefatos eletroeletrônicos contêm materiais que demoram a se decompor plástico, metal e vidro e outros altamente prejudiciais à saúde, como mercúrio, chumbo, cádmio, manganês e níquel.
Atualmente, mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo estão expostas à poluição tóxica em níveis superiores aos tolerados pelas organizações internacionais de saúde. Essas populações vivem em regiões contaminadas por metais pesados, pesticidas e até por substâncias radioativas, como o césio. Agbogbloshie (foto), na Gana, é a segunda maior área de processamento de lixo eletrônico na África Ocidental. Através de processos de reciclagem informais, o chumbo é frequentemente liberado no meio ambiente sem controle de segurança ambiental. (Conheça os 10 lugares mais poluídos do mundo e habitados)
Dois novos estudos, um realizado por pesquisadores da NASA em parceria com a Universidade da Califórnia em Irvine, e outro pela Universidade de Washington, indicam que o derretimento do manto de gelo da Antártida Ocidental atingiu um estado irreversível. Segundo os pesquisadores, esse processo "poderia triplicar sua contribuição ao nível dos oceanos".
O derretimento de gelo no Ártico é uma verdadeira bomba relógio econômica, segundo os cientistas, que mediram, pela primeira vez, os custos do degelo. A conta é astronômica, algo próximo de US$60 trilhões de dólares, quase o Produto Interno Bruto (PIB) mundial, de US$ 70 trilhões. O degelo intensifica as mudanças climáticas com a liberação de toneladas de gás metano, um gás efeito estufa 20 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2). O derretimento dos subsolos árticos congelados, o chamado permafrost, por sua vez contribuiria para o aquecimento adicional do planeta.
O degelo tem reduzido o fator de refletividade da região polar, levando a uma maior absorção de energia. Esse poder de reflexão de uma superfície é conhecido como albedo, uma das forças motrizes para o tempo e o clima. Se a quantidade de energia absorvida muda, isso tem um efeito sobre o balanço de energia da Terra e, finalmente, afeta o nosso tempo e o clima, reforçando os fenômenos das mudanças climáticas.
Aproximadamente um terço da biodiversidade dos leitos marítimos polares estão ameaçados de extinção como consequência da mudança climática. A perda progressiva das calotas polares poderia gerar resultados nefastos para o ecossistema das regiões ao permitir uma maior penetração dos raios solares no leito marinho.
Os oceanos são os maiores aliados da Terra para a manutenção do seu equilíbrio climático. Eles absorvem grande parte da radiação solar que atinge o Planeta e também funcionam como sumidouros de dióxido de carbono (CO2). Mas esses heróis do clima já se revelam vítimas do aquecimento global. A mudança no PH da água acontece à medida que o CO2 emitido pela atividade humana - originada fundamentalmente pela queima de combustíveis fósseis - é absorvido pelos oceanos. Várias formas de vida marinhas podem ser prejudicadas. Inúmeros estudos mostram que a acidificação interfere principalmente no desenvolvimento das espécies com carapaça ou esqueleto de carbonato cálcico, como corais e moluscos.
A maior barreira de corais do planeta vive uma crise ambiental sem precedentes. Relatório recente mostra que a Grande Barreira de Corais Australiana já perdeu mais da metade de sua cobertura (50,7%) nos últimos 27 anos. E, se nada for feito na próxima década, podem restar apenas 5% da formação no ano de 2022. Não para aí. Segundo pesquisa global com mais de 700 espécies de corais, aproximadamente 33 % delas estão ameaçadas de extinção com o crescente aumento de temperatura do planeta.
A elevação das temperaturas tem causado o que os cientistas chamam de estresse térmico no mundo animal. Durante vinte anos, pesquisadores europeus vêm estudando o movimento de populações de aves e borboletas no continente frente às mudanças cada vez mais constantes no clima. O resultado preocupa: os animais simplesmente não conseguem migrar na velocidade necessária para habitats com condições propícias para a dlimentação e procriação e correm riscoe desaparecer ao se concentrarem em regiões com clima mais hostil. Ou seja, as aves e borboletas europeias estão voando para longe de seus habitats mais adequados, sofrendo com o tal estresse térmico.
O desenvolvimento mundial das tecnologias de energia limpa continua bem abaixo do nível necessário para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. Com a predominância do carvão na geração de energia global, especialmente nos países emergentes, como China e Índia, parece cada vez mais improvável que a meta internacional para limitar o aumento da temperatura média em 2 ºC seja atendida, segundo a Agencia Internacional de Energia.
Quem disse que a elevação do nível do mar é um problema distante? Estudos já relacionam a elevação do Pacífico às mudanças climáticas. As águas subiram cerca de 20 centímetros nos últimos 200 anos. Segundo os pesquisadores, os maiores picos na elevação do nível do mar aconteceram entre 1910 e 1990, o que pode estar vinculado a intensificação das atividades industriais.
Entre 2001 e 2010, houve 511 eventos relacionados com o ciclone tropical, que resultou em um total de quase 170 mil mortos, mais de 250 milhões de pessoas afetadas e prejuízos econômicos estimados de 380 bilhões de dólares. De acordo com o NOAA, centro de furacões dos EUA, 2001-2010 foi a década mais ativa desde 1855 em termos de ciclones tropicais na bacia do Atlântico Norte. Uma média de 15 tempestades por ano foi registrada, bem acima da média de longo prazo de 12 anos.
A segurança alimentar global está ameaçada pelo surgimento e disseminação de pragas e doenças, um fenômeno estimulado pelo aquecimento global, sugere um novo estudo publicado no periódico científico Nature Climate Change. Segundo os pesquisadores das universidades de Exeter e Oxford, as pragas e patógenos estão se movendo a uma média de 3 quilômetros (Km) por ano. Tal fenômeno, dizem os pesquisadores, constitui mais uma ameaça à produção de alimentos. Atualmente, estima-se que entre 10% e 16% das culturas globais são perdidas devido à pragas e surtos de doenças na agricultura.
Já somos sete bilhões de pessoas no mundo, comendo, usando energia, poluindo e consumindo cada vez mais produtos em um planeta finito. A pressão sobre os recursos naturais só aumenta. Segundo o Global Footprint Network, uma organização de pesquisa que mede a pegada ecológica do homem no planeta, a diferença entre a capacidade de regeneração da natureza e o consumo humano gera um saldo ecológico negativo que vem se acumulando desde a década de 80, também estimulado pelo crescimento populacional.
À extensa lista de efeitos relacionados ao aquecimento global, adicione mais um: a raiva. Um estudo publicado na revista Science diz que a medida que as temperaturas globais aumentam, o nosso temperamento também esquenta. A conclusão foi de que a incidência de guerra e distúrbios civis pode aumentar entre 28% e 56% até 2050. De acordo com o estudo, o aquecimento torna regiões vulneráveis do mundo mais suscetíveis a problemas relacionados com o clima, o que estimularia o deslocamento de pessoas para áreas vizinhas, levando a conflitos.