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Por que o investidor da Petrobras perdeu 3 vezes em 5 anos

Nos últimos 5 anos, ações preferenciais desvalorizaram 5,5%, frente a uma alta de mais de 60% do CDI

Investidor da Petrobras precisa ser bem paciente para retornos de longo prazo (Divulgação)

Investidor da Petrobras precisa ser bem paciente para retornos de longo prazo (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de dezembro de 2013 às 09h51.

São Paulo – A partir deste mês, EXAME.com vai fazer o balanço do desempenho de algumas ações no longo prazo, avaliando a rentabilidade do investidor que comprou determinado papel há cinco anos. O primeiro balanço será o da ação preferencial da Petrobras (PETR4), uma das mais negociadas do Ibovespa, que desde 4 de junho de 2007 acumulou ligeira queda de 5,5%, fortemente afetada pela crise econômica mundial iniciada naquele ano. No mesmo período, o Ibovespa permaneceu praticamente no zero a zero.

Já nos últimos quatro anos – de 4 de junho de 2008 a 4 de junho de 2012 – o tombo foi ainda maior. Desde o pior ano da crise, fortemente abalado pela quebra do Lehman Brothers, a ação já teve perdas de quase 51%. A aversão global a risco desde aquele ano impactou as ações da Petrobras, cuja queda mais forte no período que se deu do meio para o fim de 2008. Em 2009, com a forte recuperação das bolsas, o papel voltou a subir. Mas do início de 2010 para cá, houve apenas quedas.

Em compensação, o CDI nos últimos cinco anos teve alta de 67,25%, enquanto que nos últimos quatro anos o acumulado foi de 50,46%. Ou seja, quem investiu em renda fixa conservadora, pós-fixada ao CDI ou Selic obteve ganhos maiores de rentabilidade. “O acionista da Petrobras perdeu três vezes no período: na rentabilidade nominal, na rentabilidade real e no custo de oportunidade, pois podia estar no CDI”, diz Luiz Francisco Caetano, analista de investimentos da corretora Planner.

A crise mundial foi um dos principais motivos para esse mau desempenho, uma vez que os resultados da empresa se relacionam diretamente aos preços mundiais do barril do petróleo e à atividade econômica. “Desde a crise do Lehmann Brother, o mercado nunca mais conseguiu se estabilizar, e a crise se espalhou para a Europa e um pouco para a China”, diz Erick Scott, analista de Petróleo e Gás da corretora SLW.

Como exportadora, a estatal sofre com a queda na atividade econômica mundial, e vem se voltando para países emergentes, como China, Índia e Rússia; mas se em 2008 e 2009 a China foi o motor do mundo, de 2010 para cá, os primeiros sinais de desaceleração no crescimento estrondoso de sua economia, bem como sua luta contra a inflação, vêm se tornando preocupantes.

Demanda chinesa arrefecendo e demanda mundial reduzida prejudicam as empresas exportadoras de commodities. Além disso, por sua tamanha liquidez, a Petrobras é um dos papéis mais prejudicados quando os investidores estrangeiros decidem fugir dos mercados mais arriscados em tempos mais críticos, em busca de portos seguros ao redor do mundo.

Preço do petróleo

Mas se alta no preço do petróleo desde 2007 beneficia o lado exportador da Petrobras, o lado importador de combustível sofre, e o controle governamental do preço interno dos combustíveis só agrava a situação. Em momentos de queda no preço da commodity, como foi observado do início do ano até agora, essa pressão sobre os preços internos dos combustíveis diminui. Mas em momentos de alta, a diferença entre o preço do barril e os preços dos combustíveis que são mantidos baixos no mercado interno prejudica os resultados da empresa.


“Mesmo depois dessa queda recente nos preços do petróleo, ainda há considerável diferença entre os preços dos combustíveis no Brasil e nos Estados Unidos: de 23% para os preços da gasolina e de 19% nos preços do diesel, considerando os valores antes de impostos. No caso da gasolina, a Petrobras deixa de ganhar dinheiro, mas no caso do diesel chega a ter prejuízo, pois parte do combustível é importado. Então, quanto maior essa diferença de preços, pior”, explica Luiz Francisco Caetano.

Capitalização e interferência do governo

A manutenção dos preços baixos dos combustíveis se dá por conta de outro fator importante no impacto negativo nos preços das ações da Petrobras: a interferência do governo como seu principal acionista para guiar os negócios de forma a atender ao chamado interesse público. Essa interferência não é de hoje, nem dos últimos cinco anos, e faz parte do jogo das estatais. Mas Caetano acredita que o sentimento de interferência governamental aumentou após um dos mais importantes acontecimentos ligados a empresa destes últimos cinco anos: a capitalização ocorrida em setembro de 2010.

A gigantesca capitalização de 120 bilhões de reais para projetos do pré-sal, contudo, também acabou trazendo impactos negativos às ações da companhia. O governo aumentou sua participação, diluindo os minoritários, numa operação voltada para um projeto de prazo realmente longo, cercado de incertezas e, portanto, bastante arriscado. “Aumentou essa sensação de que, com uma participação maior, o governo interviria mais na gestão da empresa”, diz Caetano. “A interferência política na gestão tem pesado”, completa Erick Scott.

Um ano depois da capitalização, as ações da estatal acumulavam queda de mais de 25%; até agora, a retração foi de 23%. “A recuperação do investimento para quem entrou naquela época ainda é difícil prever, pois agora também depende muito de uma recuperação do mercado, das economias globais, da tranquilidade dos investidores, de um acordo na Europa, de uma maior aceleração da China e dos Estados Unidos”, diz Scott.

Para Luiz Caetano, outro fator – que não é preponderante – é o fato de a companhia paulatinamente não alcançar as metas de produção, o que já ocorre há três anos consecutivos. Segundo ele, porém, as metas são elevadas. “O investidor fica sempre com esse sentimento de frustração. Ano passado a meta era 2,1 milhões de barris, mas só foram produzidos 2,021 milhões, o que é uma diferença pequena. Mas para o mercado, é muito importante essa diferença da produção prevista contra a produção real”, diz o analista.


Pré-sal

Mas nem tudo foi tão mal nestes cinco anos para a Petrobras. Em novembro de 2007, a companhia fez a descoberta do enorme campo de Tupi, na Bacia de Santos, com potencial de produção de 5 bilhões de barris de petróleo e 8 bilhões de barris de óleo e gás natural. Já em outubro de 2010 começou oficialmente a exploração comercial da camada do pré-sal.

Como o retorno financeiro da exploração do pré-sal não é para já, os analistas consideram que a Petrobras é, de fato, um papel para o longo prazo. “Se a companhia atingir as metas de crescimento e o cronograma de produção, as perspectivas são boas. Está previsto que em 2020 o tamanho da produção dobre, o que deve trazer valor para a empresa, elevando-a a outro patamar”, lembra Erick Scott, da SLW.

Segundo Luiz Francisco Caetano, a soma de todos os investimentos da Petrobras nos últimos cinco anos equivale hoje a 95% do seu valor de mercado. “É como se tudo que existia antes desse período valesse apenas 5% do valor de mercado, o que é um absurdo”, observa. “A projeção da companhia é um crescimento da produção de 50% até 2015. Mesmo que ela não chegue a tanto – atingindo, digamos, 40% - seu lucro deverá ser proporcional, com valorização das ações no longo prazo”, diz o analista. Nesta terça-feira, a presidente da Petrobras, Graça Foster, reafirmou sua confiança na melhora do desempenho dos papéis da empresa.

Quem comprou ações da Petrobras em 4 de junho de 2002 teve uma rentabilidade de 225%, mas ainda foi um desempenho inferior ao do CDI, que acumulou alta de 282%. “Mas essa é a valorização real da ação. Se considerar o pagamento de dividendos, por exemplo, a alta pode ter superado o CDI”, observa Erick Scott, da SLW. Com a atual perspectiva de taxas de juros mais baixas para os próximos anos, porém, o investimento em ações para o longo prazo vai fatalmente se transformar na alternativa para quem busca aumentar o patrimônio.

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