Revista Exame

Resiliência e progresso: apesar das crises, Brasil registra fases de rápido crescimento econômico

A economia brasileira passou por altos e baixos nos últimos 50 anos. mas o saldo do período não deixa dúvidas: é positivo, mesmo com os desafios da última década

O setor privado atual revela-se mais diversificado, moderno e conectado ao cenário global do que há 50 anos (Alomgir Hossain/Getty Images)

O setor privado atual revela-se mais diversificado, moderno e conectado ao cenário global do que há 50 anos (Alomgir Hossain/Getty Images)

Reginaldo P. Nogueira Júnior
Reginaldo P. Nogueira Júnior

Diretor Sênior do Ibmec

Publicado em 26 de outubro de 2023 às 06h00.

Nas últimas cinco décadas, a economia brasileira passou por uma sucessão de altos e baixos, oscilando entre momentos de euforia e pessimismo. Essa montanha-russa econômica tem sido marcada por períodos de rápido crescimento contrastados por graves crises e desafios, alguns pelo cenário externo e outros por erros domésticos. Contudo, o saldo desse período não deixa dúvidas: é positivo, mesmo com os desafios dos últimos dez anos.

Neste breve artigo, propomos uma retrospectiva dos 50 anos que moldaram a economia brasileira entre 1974 e 2023, revisitando os desafios que confrontaram as empresas que fizeram parte da história da edição deste ano da premiação MELHORES e MAIORES, da -EXAME, ao longo dessa jornada.

Cinco décadas atrás, o Brasil estava imerso em seus “dias de milagre”. No ano de 1974, o PIB cresceu uma taxa robusta de 8,1%. Ao longo da década subsequente, de 1974 a 1983 (incluindo, portanto, a crise do início dos anos 1980), o crescimento médio anual ficou em 4,2%.

A modernização da indústria, investimentos abundantes em infraestrutura e a expansão da agricultura semearam um terreno de otimismo. O setor privado ganhou ímpeto, colocando o Brasil entre as principais economias globais.

Entretanto, depois do “milagre” tivemos a “década perdida”, com o país mergulhado na crise da dívida e com inflação crescente. Decisões de política econômica tomadas a partir do segundo choque do petróleo terminaram por acelerar o endividamento do país, além de nos colocar em uma situação monetária extremamente frágil. Instabilidades políticas impediam o consenso e a mudança em direção às reformas fundamentais para retomar o dinamismo do país — reformas que só seriam feitas na década seguinte.

De 1984 a 1993, o crescimento médio do PIB se reduziu para 2,8% ao ano. Esses anos foram difíceis tanto para o Brasil quanto para suas empresas. Com a inflação galopante e a escassez de divisas, os investimentos rarearam, e o país entrou em moratória. Em um contexto de população ainda em rápido crescimento, a renda per capita pouco cresceu. Planos para estabilização econômica tornaram-se uma constante, deixando o ambiente de negócios complexo e inseguro. Ministros e equipes econômicas foram trocados com tanta frequência quanto técnicos de futebol durante um campeonato.

A década seguinte não trouxe uma expansão mais robusta, e sim estabilidade e as reformas tão necessárias. De 1994 a 2003, o crescimento médio do PIB situou-se em modestos 2,6% ao ano, ainda mais baixo que o ciclo anterior. Contudo, essa década não é lembrada pelos números de crescimento, mas pela entrada do Brasil no panorama econômico global.

O Plano Real, com a estabilização da moeda, a abertura do mercado e o avanço das privatizações, conferiu robustez e alcance internacional ao setor privado brasileiro. Apesar das diversas crises financeiras internacionais, como a russa, a asiática e a argentina, foram anos de certo otimismo, pela sensação clara de que os alicerces de uma economia mais moderna estavam sendo fundados.

A década de 2004 a 2013 marcou a retomada do crescimento acelerado e a colheita dos frutos semeados nas reformas anteriores. Com um cenário global favorável e uma economia mais moderna e dinâmica, a taxa média de crescimento do PIB atingiu 4% ao ano. Esse crescimento sustentado propiciou a ascensão da classe média brasileira, gerando impactos profundos no ambiente empresarial. O consumo privado experimentou um aumento expressivo, e o país foi tomado novamente por uma grande onda de otimismo.

No entanto, como aconteceu no final dos anos 1970, o período de otimismo deu lugar a um cenário de crise. Mais uma vez desafios fiscais e de controle da dívida colocaram sombras na economia brasileira, afetando o investimento privado. Um clima político acirrado tornou os consensos reformistas mais difíceis, embora tenhamos conseguido avançar em alguns pontos relevantes a esse respeito.

O período compreendido entre 2014 e 2023 nos apresentou os resultados econômicos mais desanimadores da nossa história. O crescimento médio do PIB limitou-se a 0,4% ao ano. Essa taxa ficou aquém do crescimento populacional, resultando em queda da renda per capita. Dois anos consecutivos de declínios expressivos no PIB (2015 e 2016) e a pandemia de 2020 mergulharam o país e suas empresas em desafios imensuráveis.

Ao longo dessas cinco décadas, o crescimento médio anual atingiu 2,8%. Tal feito elevou o PIB brasileiro, em termos reais, a três vezes o observado em 1974. Não é um resultado desprezível, embora não tenha sido alcançado de maneira linear ou suave. Os desafios e as oportunidades conti-nuam a definir a economia brasileira, mas sua resiliência em retomar o crescimento e o otimismo após os períodos de crise é incontestável.

O setor privado atual revela-se mais diversificado e moderno do que há 50 anos, estando profundamente conectado ao cenário global. As empresas brasileiras demonstraram uma notável resiliência e flexibilidade durante este ciclo de 50 anos, superando adversidades e evoluindo em várias frentes. Essa trajetória inspira otimismo para as próximas cinco décadas.

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