Revista Exame

Pouco a registrar nos 100 dias da presidente Dilma

Os famosos 100 dias chegaram ao fim — e sua ação mais concreta até agora foi a deposição de Roger Agnelli da Vale. Não foi exatamente um começo brilhante

Mês mais pesado para Dilma deverá ser junho, quando estão previstas visitas à Turquia, à Bulgária e aos Estados Unidos (Wilson Dias/ABr)

Mês mais pesado para Dilma deverá ser junho, quando estão previstas visitas à Turquia, à Bulgária e aos Estados Unidos (Wilson Dias/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de maio de 2011 às 10h22.

O calendário do ano de 2011 comprova, neste início de abril, que acabam de ser completados os primeiros 100 dias do governo Dilma Rousseff, os sempre falados 100 dias, e os meios de comunicação lembram-se que têm de dizer alguma coisa a respeito, já que eles mesmos criaram a noção segundo a qual novos presidentes da República, ao fim desse prazo, precisam receber uma primeira avaliação sobre seu desempenho.

Uma das dificuldades para fazer tal balanço é que, com frequência, não há nada de muito interessante para ser dito — ou, se houver, ninguém sabe o que é ou não entendeu o que se sabe. Os primeiros 100 dias da presidente Dilma se encaixam bem nessa descrição. Existe uma sensação, não muito precisa, de que está “tudo em ordem”, mais ou menos como alguém diz quando lhe perguntam “como vai?” e não há maiores novidades a contar.

Está claro que já deu para perceber uma mudança de bom tamanho: foi desfeita a atmosfera de neurastenia que seu antecessor se esforçava todos os dias para manter na vida pública. Fora a desativação dessa linha de montagem de falsos conflitos e falsas indignações, porém, é pouco o que sobra para registrar.

Não chega a ser uma surpresa, levando-se em conta o histórico conhecido de Dilma — ela foi criada como candidata oficial do governo, processada nos laboratórios de marketing da campanha eleitoral de 2010 e eleita presidente da República sem que fosse possível saber com clareza, em nenhum momento, qual a obra que ela tinha realmente realizado na vida pública para chegar até lá.

Ganhou, e não perdeu mais, a imagem de gerente ou de administradora, ou até de grande gerente e grande administradora; mas não há nenhum registro de realizações concretas, fisicamente visíveis, em nada do que gerenciou ou administrou.

Dilma exerceu cargos públicos, mas não está claro o que mudou efetivamente para melhor, no mundo das realidades, com sua passagem por eles; foi apresentada como a “mãe do PAC”, ou algo assim, mas também aí não existe nada que possa ser descrito, de forma objetiva, como obra sua. Esse nevoeiro todo, como bem se sabe, não lhe causou o menor problema como candidata — seja lá o que fez ou não fez, recebeu 56 milhões de votos e foi eleita presidente.


Agora, nestas avaliações iniciais de seu mandato, a questão continua a mesma. Dilma recebeu, logo na primeira pesquisa de popularidade, as melhores notas que poderia esperar: sua aprovação foi maior do que a recebida por Luiz Inácio Lula da Silva — sim, ele mesmo, Lula — quando completou 100 dias de governo.

O que ela teria feito para merecer essa notável salva de palmas da opinião pública? De novo, temos aqui um problema: não há nada que se possa citar como realização de seu governo, e nem seria realista esperar que houvesse, com tão pouco tempo no cargo. Dilma Rousseff, para o público em geral, o mundo político e os meios de comunicação, está sendo uma ótima presidente.

Por quê? Não se sabe bem por quê; o que se sabe, com certeza, é que está “tudo em ordem”. Dilma montou um ministério opaco, sem talentos e sem ideias, do qual não se ouviu, até agora, uma única palavra merecedora de registro. Anunciou cortes de despesas que podem não existir e que podem não ser cortadas.

Não conseguiu preencher cargos importantes nem definir-se com firmeza sobre questões rudimentares, como a correção das tabelas do imposto de renda. Não há sinais de mudança em áreas de incompetência crítica do governo anterior.

No fundo, a mais notável realização do governo Dilma até agora, ou a mais falada, foi a deposição do presidente da Vale, empresa que vem tendo resultados espetaculares, não deveria sofrer interferência política do acionista governamental e, mais do que tudo, de maneira nenhuma poderia ser descrita como um “problema”, sobre o qual o governo teria de agir — e agir com urgência.

Até agora não foi necessário para Dilma comprovar seus dotes de grande administradora com resultados. Continuará sendo assim?

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